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Americanas (AMER3): analistas do mercado veem recuperação ‘nebulosa’ e colocam ação da varejista sob revisão
As falhas contábeis divulgadas pela Americanas na noite de quarta-feira (11), estimadas pela companhia em R$ 20 bilhões, são avaliadas negativamente e com bastante cautela por bancos e corretoras. O anúncio gerou reavaliações imediatas, e diversas casas de análise colocaram as ações sob revisão, enquanto outras rebaixaram os papéis.
Segundo o Bradesco, caso o pior cenário se materialize e os bancos tenham de baixar a prejuízo (“write off”) os R$ 20 bilhões, as seis instituições financeiras cobertas pelo banco teriam um impacto de 4,5% no capital.
O Itaú BBA colocou sob revisão a recomendação de Americanas, atualmente em neutro. Manteve o preço-alvo em R$ 15. Outras casas, como Banco Safra e a XP, fizeram o mesmo movimento. Enquanto o Safra suspendeu também o preço-alvo, a corretora brasileira manteve o preço-alvo em R$ 20, à medida que avalia a situação da companhia.
Goldman Sachs: a princípio, não haverá efeitos no caixa
O Goldman Sachs destaca que ainda não há como mensurar os impactos que os erros contábeis terão na Americanas. O banco destaca que a princípio não haverá efeitos no caixa da empresa ou para os credores da companhia.
Os analistas lembram que, ao fim do terceiro trimestre, a companhia tinha uma dívida bruta de R$ 8,6 bilhões. Já a dívida líquida, utilizada para cálculo de alavancagem e obrigações contratuais (“covenants”), é de R$ 5,3 bilhões. O Goldman Sachs tem recomendação de venda para Americanas, com preço-alvo em R$ 10.
Após um leilão de abertura estendido, as ações da Americanas começaram a ser negociadas por volta das 14h20 de hoje, registrando queda de 76%. Há pouco, depois de registrar oscilações e pausas nos negócios, os ativos mantinham o ritmo de baixa a 76,6%, cotadas em R$ 2,8.
Morgan Stanley: recuperação é completamente nebulosa
O Morgan Stanley retirou a recomendação das ações da Americanas e não tem mais preço-alvo para os papéis. Em outubro de 2022, o banco havia elevado a recomendação dos ativos para compra, com preço-alvo de R$ 16. No início do mês, a casa chegou a elencar a companhia entre as seis favoritas sob sua cobertura no Brasil.
A reavaliação vem após a empresa anunciar na noite de quarta-feira “inconsistências contábeis” que implicam em passivos na ordem de R$ 20 bilhões, referentes a “lançamentos redutores da conta fornecedores” de exercícios anteriores, incluindo o de 2022, e que não foram registradas nos balanços. O anúncio levou o diretor-presidente, Sergio Rial, e o diretor financeiro, André Covre, a renunciarem após 10 dias no cargo.
Os analistas André Lopes e Thiago Machado, que assinam o relatório, dizem que a recuperação operacional que procuravam se tornou “completamente nebulosa”, com visibilidade limitada sobre a extensão das inconsistências contábeis.
“Quando atualizamos a Americanas para compra em outubro de 2022, um pilar fundamental de nossa tese era o potencial para a nova administração impulsionar uma recuperação operacional – que, juntamente com um cenário de consumo melhorando para 2023, poderia favorecer um ciclo positivo de expansão da margem líquida”, explicam em relatório.
Com a saída dos novos executivos, os analistas dizem que agora veem catalisadores fundamentais limitados para reverter as vendas on-line e offline da Americanas e as pressões de margem.
“As investigações estão em andamento, os detalhes iniciais são limitados e os impactos na demonstração de resultados e no balanço patrimonial são desconhecidos neste momento. Refletindo essa combinação de fatores, removemos nossa classificação e preço-alvo”, afirmam.
Eles explicam ainda a decisão de colocar as estimativas e valores sob revisão. “Procuramos mais detalhes da empresa sobre a equipe de gerenciamento e a estratégia operacional, juntamente com o impacto das inconsistências contábeis nas demonstrações financeiras, a fim de revisar nossos pontos de vista”, dizem.
Citi: impacto ainda é incerto
Ainda é cedo para dizer se as inconsistências financeiras de R$ 20 bilhões que a Americanas em seu balanço terão efeito material na empresa, diz o Citi. O banco destaca que há falta de visibilidade sobre o tema e vai depender dos achados da investigação da companhia.
Os analistas João Pedro Soares e Felipe Reboredo escrevem que a notícia é muito negativa, com impacto na sua credibilidade e governança, piorando o já cenário de ceticismo que envolve a evolução operacional da empresa em meio a desaceleração do comércio eletrônico.
“Neste momento não conseguimos calcular quais os passivos de verdade da companhia, no terceiro trimestre a dívida líquida estava em R$ 10 bilhões e a alavancagem em 3,3 vezes o Ebitda dos últimos 12 meses”, comentam. “Isso claramente é o início de uma história longa e complexa.”
O Citi tem recomendação neutra para Americanas, com preço-alvo em R$ 15,70, potencial de alta de 30,8% sobre o fechamento de ontem.
XP: Riscos jurídicos nos EUA
A XP colocou a recomendação de Americanas sob revisão, de neutro, e preço-alvo em R$ 20, potencial de alta de 66,6% sobre o fechamento de ontem, após a companhia ter “inconsistências financeiras” de R$ 20 bilhões em seu balanço e a saída do diretor-presidente, Sergio Rial.
“Acreditamos que o comunicado adiciona várias incertezas para a tese de investimento na empresa, além de trazer pouca visibilidade sobre o que de fato aconteceu e quais são os impactos dessas medidas nos demonstrativos financeiros”, escrevem os analistas Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt.
Apesar de a Americanas afirmar que não espera efeitos materiais em seu caixa, a XP acredita que o anúncio vai aumentar sua alavancagem, dado que o endividamento pode aumentar dependendo dos ajustes, além de aumentar seu custo de dívida e causar deterioração de capital de giro.
A gestora ainda afirma que a Americanas se expôs a risco de processos judiciais nos Estados Unidos, onde tem recibos de ação negociados em balcão, “como observado em casos semelhantes onde os acionistas minoritários foram prejudicados por decisões dos executivos”.
Além disso, os analistas afirmam que a saída de Sergio Rial é ruim, uma vez que o executivo era um pilar importante para sustentar o processo de transformação da companhia em um momento de riscos nos cenários macroeconômico e competitivo difíceis.
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