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Como a transferência de atletas e a geopolítica interferem no futebol?
Mesmo com o encerramento da temporada europeia de competições de futebol, o esporte não deixa de ser assunto. Todos os anos, entre meados de junho e o final de agosto entra em ação o que na Itália se chama de “Calciomercato”, nomenclatura que é mais ou menos usada em todos os países, e que define o período de janela de transferência de atletas.
O que são as Janelas de Transferência?
Aliás, para quem não está próximo de como funciona a indústria do futebol, existem dois períodos ao longo do ano nos quais os clubes podem contratar e registar atletas para jogar em suas equipes. São as chamadas Janelas de Transferência, que na Europa ocorrem entre julho e agosto e em janeiro, e no Brasil são entre janeiro e abril e em julho.
Ou seja: este é um momento de grande alvoroço, porque é quando as grandes negociações acontecem. Existem programas de TV dedicados ao tema, jornalistas especializados no assunto, e os torcedores fazem suas simulações de equipes para a temporada seguinte.
Para se ter uma ideia da importância desse tema, antecipo aqui alguns dados que serão divulgados nesta semana no “Relatório Convocados / Galápagos + Outfield”. Dá uma olhada:
Isso porque estamos falando em negociações que giram acima de € 7 bilhões anuais, valor que cresce após o período de pandemia, e que já chegou a € 8,5 bilhões na temporada 2019/20. A expectativa para a atual temporada é que os números se aproximem desse recorde.
E o início é promissor, pois o Real Madrid já contratou o inglês Bellingham junto ao Borussia Dortmund por € 103 milhões, e comenta-se que colocou uma proposta ao Tottenham de € 80 milhões por Harry Kane, colega de English Team de Bellingham.
Jogadores jovens são mais baratos
Contudo, clubes se reforçam o tempo todo, e de tempos em tempos precisam oxigenar seus elencos. E a carreira de um atleta é feita de momentos. Exceto por atletas fora-de-série, até os 23 anos eles são promessas e custam relativamente pouco. Saem de clubes de nível médio e chegam aos grandes em busca de confirmação profissional. Alguns poucos conseguem, porque a competição é muito forte.
Porém, não se chega ao Manchester City para tomar o lugar de De Bruyne, nem ao real Madrid para ocupar a posição de Vini Jr, um dos foras-de-série que comentei acima.
Entretanto, para os que conseguem se afirmar, a mudança de ares futura é mais difícil. Os contratos são longos, os salários são elevados, as multas são grandes.
Isso porque, para quem contrata faz pouco sentido investir valores elevados num atleta de 29/30 anos e poder utilizá-lo em grande nível por poucos anos. Exceto se forem casos muito pontuais, como o exemplo de Kane acima, que pode chegar ao Real Madrid para ocupar a vaga de um ídolo como era Karim Benzema, sobre que falarei adiante.
Logo, o mais comum nesses casos é que o atleta espere o final do contrato e troque de clube sem que o novo empregador precise pagar uma multa.
Aliás, todos os anos os clubes fazem isso com diversos atletas, como foi o Liverpool no final da atual temporada, quando decidiu não propor renovações para atletas como Firmino, Milner, Keitá, entre outros. Movimentos assim permitem a tal oxigenação de elenco, e ajustes financeiros.
As dispensas do Liverpool liberaram gastos salariais da ordem de € 30 milhões, o que permite a contratação de outros atletas, mais jovens e adaptados ao DNA esportivo que o clube pretende implantar no próximo ciclo.
Tanto que, nessa onda de transferências, eis que surge um tsunami chamado Arábia Saudita. Desde a chegada de Cristiano Ronaldo na janela de transferências de janeiro de 2023, o futebol local passou a fazer parte de uma estratégia do país de se firmar como um polo esportivo importante.
Já vinha ocorrendo com a presença de uma corrida de Fórmula 1, com a criação da LIV, liga de golf profissional, que nos últimos dias anunciou fusão com a PGA, a mais famosa liga de golf do mundo.
Os árabes têm um plano audacioso de investir mais de € 1 bilhão em contratações de atletas, e recentemente confirmou a chagada de Benzema por um salário astronômico.
Outro nome que estava na lista era de Lionel Messi, que estava de saída do PSG. Surpreendentemente o astro argentino optou por jogar no Inter de Miami, equipe da MLS americana.
O poder da geopolítica
Agora, a surpresa não parou por aí, pois surgiram informações de que os americanos também estão interessados em atletas como Di Maria e Busquets, que também poderiam ser alvo dos árabes.
Tudo porque isso não é uma reação à toa. Precisamos entrar no campo da geopolítica para entender os movimentos que o futebol permite.
O mundo árabe iniciou investimentos mais pesados no futebol a partir de PSG e Manchester City, reforçados pelo Newcastle, e que acabaram na sede de uma Copa do Mundo.
Contudo, no passado recente os chineses iniciaram um projeto de expansão dentro do futebol, com aquisição de clubes pela Europa – sobraram poucos representantes, como a Inter de Milão – e contratando atletas de referência a peso de ouro para disputar uma competição semiprofissional. Que já perdeu completamente a relevância.
Quando os efeitos da invasão russa á Ucrânia criaram a obrigação da venda de ativos de propriedade de russos na Europa, foram os americanos a comprarem o Chelsea por um valor completamente sem sentido. Era o poder financeiro.
EUA e Arábia Saudita
Agora o que vemos é uma nova disputa de poder global utilizando-se o esporte. A próxima Copa do Mundo será em solo americano, e na de 2030 está a Arábia Saudita.
Por fim, os americanos e os árabes invadem o futebol europeu, comprando seus clubes, e agora importam seus astros – já em fim de carreira, quase indo praticar showball – e disputam uma relevância dentro do esporte mais popular do mundo.
Este processo é sustentável? Vai angariar a atenção de atletas além dos que estão em final de carreira? Tornará as ligas desses países competições importantes? Enfraquecerão a Europa e seus clubes? Tenho mais perguntas que resposta, mas que esta será uma janela de transferência de atletas como há muito não se via, ah, disso não tenho dúvidas.
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