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Analistas apontam que BC manteve tom duro na ata do Copom e projetam corte da Selic somente no 2º semestre
Diante da revelação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, analistas do mercado apontaram que ela manteve o tom de aperto monetário adotado no comunicado, ressaltando os pedidos de “serenidade e paciência” e reconhecendo os esforços do governo na construção do arcabouço fiscal.
Os analistas, em média, não esperam que a autoridade monetária ceda à pressão do governo e acreditam que um eventual corte nos juros acontecerá apenas no segundo semestre. A próxima reunião do comitê ocorrerá nos dias 2 e 3 de maio.
O mercado teve uma reação mista à ata. A bolsa avançou e retomou o patamar dos 100 mil pontos, o dólar recua para R$ 5,16, mas as taxas de juros operam mistas. As DIs com vencimento mais curto, estão em queda, com possível efeito de corte na Selic, já as longas, em alta.
Para o analista chefe da VG Research, Luan Alves, a ata veio em linha com o comunicado, com o BC mantendo o tom “hawkish”, reforçando a luta contra a inflação e deixando a porta aberta para altas adicionais de juros caso seja necessário e reforçou a sua postura de independência.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, afirmou que o BC esmiuçou diversas das citações do comunicado e reforçou os receios com a inflação, que enseja por permanência de patamar restritivo de juros.
“Adicionalmente o BC pontuou os riscos sobre a importância de as taxas de juros de mercado manterem-se sensíveis à taxa básica. Avalio que se trata de um breve aceno a algumas ações no tocante ao juro de consignado do INSS e da participação de outros bancos, como BNDES, visando o subsídio no crédito, na contramão da restrição da Selic”, completou Sanchez.
Sérgio Goldenstein, Economista-chefe especialista em Política Monetária da Warren Rena, afirmou que o documento mostrou ser preciso muito mais do que apresentar uma proposta de regra fiscal. Segundo ele, a ata esboçou em maior detalhe a visão do comitê a respeito da relação entre os eventuais avanços no âmbito da política fiscal e as decisões de política monetária.
“O ponto central é que o texto enalteceu o canal das expectativas e a sua ancoragem como fundamentais para avaliar o peso do chamado novo arcabouço fiscal. Isto é, a apresentação da nova regra, pela equipe econômica, precisará produzir efeitos concretos sobre as projeções dos agentes econômicos para que a política monetária possa tempestivamente reagir”, completou.
O economista André Perfeito concluiu que o BC não irá cortar a Selic nesse semestre. Ele apontou o trecho que diz que a Selic só irá iniciar processo de queda se dois fatos acontecerem simultaneamente. A queda mais forte na inflação corrente e a ancoragem das expectativas de inflação.
Para os analistas do Itaú BBA, a mensagem principal é que a política monetária deve ser paciente e serena, e que um corte de juros não é iminente: o comitê aguardará o impacto da desaceleração econômica e anúncios de política econômica sobre as expectativas de inflação, antes do início do corte de juros.
“Dessa forma, mantemos nossa projeção de taxa Selic para 12,50% a.a. ao final do ano, e esperamos que o primeiro corte ocorra no quarto trimestre”, diz a equipe do banco.
Leia abaixo as análises completas
VG Research
A ata do Copom veio em linha com o último comunicado, o Banco Central manteve o seu tom Hawkish, reforçando a luta pela redução na inflação e deixando a porta aberta para altas adicionais de juros caso seja necessário, caso tenha principalmente uma piora na dinâmica fiscal.
O mercado incorporou brevemente o comunicado nos preços dos ativos, com os vértices mais curtos da curva de juros com uma leve alta (no curto prazo as expectativas de cortes de juros perdem força) e os vértices mais longos se fechando, devido ao compromisso da instituição.
O Bacen reforçou a sua postura de independência nessa ata. O Banco Central se tornou independente em 2021 e mostrou a sua credibilidade institucional ao fazer o maior aumento de juros em ano eleitoral já visto no BR.
Conhecendo a história do Roberto Campos Neto, parece pouco provável que ele ceda a pressões políticas, sendo guiado assim como o seu colegiado por indicadores técnicos na tomada de decisão..
Nossa expectativa é de Cortes de juros no segundo semestre do ano, após apresentação da nova proposta fiscal, acredito que tenha espaço para fecharmos o ano ao redor de 12,50% na taxa Selic.
Ativa Investimentos
A ata do Copom acabou de ser divulgada e avaliamos que o texto mostrou-se bem alinhado com o tom duro do comunicado. Relativamente à divulgação da semana passada consideramos a divulgação de hoje brevemente mais hawkish.
O BC esmiuçou diversas das citações do comunicado e no trecho “C” de “Discussão sobre a condução da política monetária” a autoridade foi sintética, reforçando os receios com a inflação, que enseja por permanência de patamar restritivo de juros.
Adicionalmente o BC pontuou os riscos sobre a importância de as taxas de juros de mercado manterem-se sensíveis à taxa básica. Avalio que se trata de um breve aceno a algumas ações no tocante ao juro de consignado do INSS e da participação de outros bancos, como BNDES, visando o subsídio no crédito, na contramão da restrição da Selic.
Nessa linha, a autoridade colocou luz sobre o debate de juro neutro e o papel que o parafiscal pode vir a ter sobre a política monetária, reduzindo sua potencia.
Ainda que o Copom tenha se mostrado sensível a queda na concessão de crédito, como no comunicado, ao emprego e também as iniciativas fiscais do governo, a autoridade foi clara ao afirmar que tudo isso deverá se refletir nas expectativas de inflação.
Por fim, e não menos importante, a autoridade foi enfática no processo de desancoragem da inflação que, sob diversos aspectos, deve ser combatida pelo BC.
Apenas para não passar batido, adicionamos no final, que o BC coloca-se vigilante sobre a questão internacional, e que eventuais desdobramentos de liquidez no Brasil podem vir a ser combatidos, inclusive por macroprudencial.
Warren Rena
Ata do Copom mostra que é preciso muito mais do que apresentar uma proposta de regra fiscal
A Ata da Reunião do Copom veiculada nesta manhã esboçou em maior detalhe a visão do comitê a respeito da relação entre os eventuais avanços no âmbito da política fiscal e as decisões de política monetária.
O ponto central é que o texto enalteceu o canal das expectativas e a sua ancoragem como fundamentais para avaliar o peso do chamado novo arcabouço fiscal.
Isto é, a apresentação da nova regra, pela equipe econômica, precisará produzir efeitos concretos sobre as projeções dos agentes econômicos para que a política monetária possa tempestivamente reagir.
Além disso, destaca-se que, como a Warren Rena falou em outras ocasiões, a avaliação do novo arcabouço fiscal será feita por meio dos resultados que poderá produzir em termos de trajetória para os indicadores de endividamento público e resultado primário.
Se as novas regras anunciadas forem fidedignas, transparentes e guardarem flexibilidade controlada, então terão o condão de gerar trajetórias de dívida/PIB adequadas a essas qualidades, para indicar um horizonte de estabilização a acalmar os ânimos do mercado. Esse é o ponto fundamental.
Em compasso de espera do anúncio das novas regras fiscais, a Warren Rena veiculou, recentemente, algumas simulações para um novo controle de gastos, em substituição ao atual. Entendemos que a exclusão de investimentos, por exemplo, só seria fiscalmente responsável se limitada.
Mais do que isso, o risco de exclusão de rubricas do gasto é elevado e a história é conhecida. A meta de resultado primário, por exemplo, foi praticamente desmontada, a partir de 2009, com o uso dos mecanismos da chamada contabilidade criativa, em que os abatimentos passaram a ocupar um volume praticamente igual ao da própria meta fixada na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Entendemos que a equipe econômica tem ciência desse risco e o evitará. Uma boa regra fiscal deverá combinar controle efetivo dos gastos, ligação com a trajetória de dívida e até mesmo a possibilidade de utilizar os ganhos arrecadatórios para financiar gastos com retorno social alto e para amenizar o comportamento prospectivo do endividamento. É o que se espera.
Trata-se de uma oportunidade para corrigir os problemas originais do teto de gastos, aliás, que pecou por excesso de rigidez e ausência de válvulas de escape, à exceção dos créditos extraordinários, instrumento bastante frágil, vale dizer. O ceticismo nítido do mercado financeiro em relação ao novo arcabouço poderá ser neutralizado se a nova regra trouxer o necessário enforcement.
Mas como se daria esse conjunto de mecanismos a produzir a “imposição” da regra? Há vários caminhos possíveis. É importante lembrar que a meta de resultado primário não previa uma punição automática ou mecanismos de ajuste (gatilhos).
No entanto, o constrangimento de enviar projeto de lei ao Congresso Nacional para alterar a meta fiscal era elevado e, com o tempo, tornou-se impeditivo, haja vista os desdobramentos do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Assim, é desejável que se explicite um conjunto de gatilhos automáticos – que podem inclusive ser os já contidos no artigo 167-A da Constituição, introduzidos pela Emenda Constitucional nº 109. Ao mesmo tempo, a própria construção da regra, via Lei Complementar, criará constrangimentos ao voluntarismo. O fundamental é que o construto seja equilibrado e condizente com a geração de trajetórias sustentáveis para a dívida pública.
Para ter claro, a dívida/PIB, hoje, em torno de 73% do PIB, requer um superávit primário de mais de 4% do PIB para ser estabilizada sob juros reais ex-ante de 7% ao ano e crescimento econômico em torno de 1%. É um objetivo impraticável para o curtíssimo prazo.
Contudo, se o arcabouço anunciado for bem aceito, em linha com o que didaticamente explica a Ata do Copom, as expectativas de inflação murcharão e o Banco Central poderá sancionar juros mais baixos, com efeitos sobre toda a curva a termo e, portanto, sobre os juros reais médios relevantes para o custo médio da dívida pública total.
Isto é, por hipótese, com juros reais a 4% e crescimento econômico a 2%, uma dívida que cresça, ainda, até 82%, do PIB, poderia ser estabilizada com cerca de 1,5% do PIB de superávit primário.
Em termos de esforço fiscal, partindo-se de um déficit primário para o setor público consolidado de 1,2% do PIB, estamos tratando de algo como 2,7 p.p. do PIB em três a quatro anos.
Não é impossível. Mas é preciso mostrar como se chegará lá, desde já, e como a nova regra fiscal colaboraria para isso. Esse esforço representaria R$ 300 bilhões. A meu ver, 40% disso viria da própria recuperação cíclica da economia e de seus efeitos no lado das receitas.
O restante teria de vir pelo lado dos gastos ou por aumento de carga tributária. Daí porque o esclarecimento do plano fiscal de médio prazo é crucial, em complemento ao anúncio da nova regra para as contas públicas.
Andre Perfeito – Economista
Ata: BCB não irá cortar a Selic este semestre
A ata divulgada na manhã de hoje reafirma o comunicado da semana passada com um tom mais ameno não pela mensagem em si, mas ao desfiliar um conjunto grande de questões que orbitam a mesa do COPOM o colegiado do Banco Central dilui a perspectiva “política” da manutenção e do prognóstico para a SELIC.
Numa ata bastante extensa e com elementos novos a diretoria do BCB reforça a perspectiva que vai iniciar a queda da SELIC se e somente se duas coisas acontecerem simultaneamente, a saber:
1-) queda mais forte da inflação corrente, e,
2-) ancoragem das expectativas de inflação.
Acredito que estas condições não estarão presentes de maneira “clara” nas reuniões de maio e junho, logo o início de algum afrouxamento monetário deve ocorrer apenas no segundo semestre.
Minha percepção não mudou em relação a semana passada. A decisão do BCB foi profundamente técnica, mas desvinculada de considerações outras e de igual importância que poderiam construir uma perspectiva mais benigna para a economia brasileira.
Se fosse apenas uma decisão técnica a perspectiva que o BCB seria mais vigilante faria os juros longos caírem, mas nem de longe foi isso que aconteceu: o que o mercado leu – e era bastante óbvio – era que iria se piorar a dinâmica de médio prazo o que se traduziu numa elevação dos juros mais longos.
Da ótica do BCB vale a regra de bolso monetarista: se a inflação e as expectativas estão altas por definição a taxa SELIC não está alta.
Sobre este tema o colegiado explicita esta perspectiva no debate da taxa de juros neutra que segundo sua avaliação está ao redor de 4%, mas que deverá ser maior caso haja mais incentivos fiscais por parte do governo que contaminaria as expectativas de inflação, logo…
Sobre este tópico vale notar que o cálculo de taxas neutras derivam da estimativa do PIB potencial e estas são variáveis não observáveis de difícil mensuração. Já vi e ouvi debates infindáveis entre os economistas de mercado nos encontros do Banco Central sobre a estimação destas variáveis e os debates eram simplesmente inconclusivos.
Após a pandemia e a desorganização decorrente no tecido econômico a estimação destas variáveis – que já era difícil – se tornar muito difícil.
O COPOM trouxe este assunto à baila porque pela “diferença” entre taxas neutras a conta erro é fiscal, ou seja, se subir a taxa neutra isto é derivado de uma política fiscal mais frouxa.
Não vou me estender neste debate, mas está evidente que o BCB está colocando o peso da queda da inflação no colo da Fazenda. Isto força que o ajuste fiscal tenha que ser relevante e já sabemos que não será do tamanho que o mercado espera, logo estamos reféns do acaso e que o choque de juros já conduzido ancore as expectativas e a inflação corrente.
Nunca é demais lembrar, a taxa subiu de 2% para 13,75%.
O BCB aponta de maneira correta que a queda da inflação tem dois momentos, num primeiro a queda foi “fácil”, mas agora será mais difícil dado a persistência de alguns grupos. Sobre este tópico o BCB é bastante claro: precisa desacelerar mais a economia, em especial o mercado de trabalho. Não preciso nem dizer como isso será recebido pelo governo.
Um último ponto.
O COPOM está correto em dizer que o controle de inflação é uma coisa e medidas macroprudenciais é outra e que nas economias centrais eles continuaram apertar as condições monetárias a despeito da crise no setor bancário. De fato, são distintas, mas não são independentes. O próprio FED argumentou que não elevou mais fortemente os juros não para ajudar o sistema bancário, mas porque a crise bancária ajudou o FED ao fazer “o trabalho sujo” de uma elevação de juros.
A crise restringiu a liquidez, logo é como se os juros tivessem sido elevados.
Este debate vai longe e pelo visto corte de juros apenas no segundo semestre.
Bank of America
O BC divulgou a ata da última reunião do Copom e a mensagem foi semelhante ao comunicado. Após manter a taxa Selic em 13,75%, o BCB reforçou sua dependência de dados e disposição para retomar o ciclo de aperto se necessário.
A comunicação foi minuciosa na descrição dos canais de transmissão da política monetária, notadamente as expectativas de inflação, a política fiscal, as metas de inflação e o princípio da separação entre preços e estabilidade financeira.
Cenário de espada de dois gumes
Para uma leitura dovish, pressões inflacionárias globais resilientes, aliadas a riscos em torno da estabilidade financeira global, promovem um cenário ainda mais desafiador para a política monetária no exterior.
Internamente, o BC destacou que os dados de atividade, crédito e mercado de trabalho seguem em desaceleração. Alguns membros acreditam que o último aperto no crédito doméstico foi mais intenso do que o previsto.
Ainda assim, o comitê enfatizou que a política monetária é mais adequada para atuar sobre a demanda agregada, enquanto as condições de crédito devem ser combatidas por meio de medidas macroprudenciais.
Do lado hawkish, o aumento das expectativas de inflação de longo prazo foi o principal foco do comitê, debatendo inclusive o regime de metas de inflação e seu impacto no processo desinflacionário.
A diretoria avaliou a possibilidade de aumentar sua estimativa de taxa de juros neutra, em meio a expectativas de longo prazo mais altas, mas optou por mantê-la em 4% – um aumento seria mais relevante no 2S24, nos modelos do BCB. Medidas parafiscais expansionistas foram mencionadas como um gatilho para tal mudança.
Brisa suave soprou para o governo
Reduzindo o tom, o conselho destacou que os riscos fiscais sobre a inflação diminuíram desde o anúncio do plano fiscal do Ministério das Finanças e o restabelecimento dos impostos sobre os combustíveis.
As incertezas sobre o quadro fiscal permanecem, mas o BCB reconheceu que uma regra confiável e sólida, uma vez concretizada, poderia ancorar as expectativas de inflação.
Segurando em 13,75%, cortes esperados no 2T23
A angústia no mercado financeiro global e um aperto de crédito mais profundo localmente devem pesar nas decisões de política monetária à frente. Mantemos nossa visão de que o BCB iniciará o ciclo de flexibilização em maio, com os riscos inclinados para mais tarde, e a Selic chegará a 11,0% em 2023.
Pontos-chave da ata:
Acrescentou um tom mais negativo sobre o impacto do sistema financeiro global para as economias centrais.
O ciclo de aperto está perto de uma pausa (ou finalizando).
Desaceleração generalizada da atividade, com destaque para os mercados de trabalho e de crédito, mas considerada necessária para reduzir a inflação.
Inflação ainda acima da meta, com expectativas de inflação desancoradas.
Questões de liquidez podem ser tratadas com medidas macroprudenciais e que a política monetária é mais adequada para afetar a demanda agregada.
Um quadro fiscal crível deve reduzir as expectativas de inflação.
Itaú BBA
A ata do Copom faz uma descrição altamente didática da atual conjuntura econômica e seus diversos aspectos.
Mostra que as autoridades veem uma desaceleração econômica ocorrendo, discutem sua intensidade, mas a consideram necessária para o processo desinflacionário.
A mensagem principal é que a política monetária deve ser paciente e serena, e que um corte de juros não é iminente: o comitê aguardará o impacto da desaceleração econômica e anúncios de política econômica (como o novo quadro fiscal ainda por vir) sobre as expectativas de inflação, antes do início do corte de juros. Essa função de reação parece mais próxima à de 2008 (esperar para cortar) do que à de 2011 (cortar antes do início evidente de desinflação).
Dessa forma, mantemos nossa projeção de taxa Selic para 12,50% a.a. ao final do ano, e esperamos que o primeiro corte ocorra no quarto trimestre.
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