Vale a pena investir nos setores que ganham com a injeção de dinheiro no fim de ano?

Especialistas em renda variável consultados pela Inteligência Financeira avaliam o cenário para quem pretende aplicar na Bolsa de Valores

Foto: Joao Damasio/Agência O Globo
Foto: Joao Damasio/Agência O Globo

O pagamento do décimo terceiro salário deve injetar R$ 232,6 bilhões na economia do país até o fim de 2021, segundo cálculo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). O levantamento aponta que 83 milhões de trabalhadores receberão um recurso extra, em média, de R$ 2.539.

A circulação desse dinheiro anima principalmente o varejo e o setor de serviços, ainda mais com a consolidação da vacinação contra a Covid-19, a sensação de controle da pandemia e a perspectiva de um maior fluxo de pessoas nas ruas e shoppings. Uma sondagem feita pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), em parceria com a Offer Wise Pesquisas, estima que 123,7 milhões de brasileiros devem ir às compras de presentes de Natal, com potencial para movimentar aproximadamente R$ 68,4 bilhões.

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Puxadas pelas férias de verão, outras atividades, como as ligadas ao turismo, transporte e locadoras também podem ser beneficiadas por esse rendimento adicional na conta das famílias. Em um outro ponto de vista, ainda em um cenário de mercado de trabalho desaquecido (13,2 milhões de desempregados), endividamento alto e promessa de um encarecimento maior dos juros nos próximos meses, o setor financeiro pode ser destino do dinheiro de pessoas que pretendem quitar parcelas em atraso.

A Inteligência Financeira consultou três especialistas em renda variável para saber se é um bom momento para aplicar em setores da Bolsa de Valores que tendem a ser mais favorecidos pela injeção do décimo terceiro na economia.

Varejo

A avaliação geral aponta para uma escolha para quem tem um perfil mais arrojado e busca um retorno rápido – com risco de prejuízo. “As empresas do setor tiveram quedas expressivas na bolsa nos últimos meses. As companhias podem voltar a subir com uma melhora na confiança dos consumidores. Mas se as vendas ficarem abaixo das expectativas, pode frustrar o investidor e o declínio continuar”, diz William Teixeira, sócio e head de renda variável da Messem Investimentos. “O mercado esperava um ritmo de crescimento que não se confirmou. O quarto trimestre pode ser uma reviravolta, mas será uma incógnita enquanto a inflação não estiver controlada”, acrescenta Felipe Palleta, sócio e analista de ações e fundos de investimentos da fintech Monett. “Parece ser razoável, observando todo o contexto, que as pessoas estejam propensas ao consumo. O ponto de alerta, olhando para frente, é que temos toda a discussão fiscal, um aperto monetário e revisões que apontam até mesmo para um PIB negativo no ano que vem”, observa Leonardo Morales, sócio e diretor da SVN Gestão.

Turismo e locadoras

“O dólar alto e as restrições que ainda permanecem para viagens ao exterior fizeram com que muitas pessoas optassem pelo turismo doméstico. Isso pode favorecer players como a CVC, que tem amplo conhecimento do mercado local”, avalia Felipe Paletta. “As locadoras de veículos podem aproveitar esse aumento de circulação interna. Além disso, a valorização do carro seminovo é muito bom para o negócio dessas companhias. Elas estão conseguindo repassar adiante com uma boa margem de preço, o que fortalece o caixa”, analisa William Teixeira. “As empresas aéreas contam com um cenário mais positivo com o aumento da procura por passagens. Só que há muita volatilidade nos papéis e a alta no preço dos combustíveis também impacta nos custos das empresas”, pondera Leonardo Morales.

Bancos e mais destaques

“As ações do setor financeiro podem ser atrativas neste momento. A gente vê que as pessoas querem pagar as dívidas e podem aproveitar esse incremento na renda para reduzir a inadimplência. Esse é um movimento bom principalmente para os grandes bancos”, diz o sócio e head de renda variável da Messem Investimentos. “É importante buscar empresas que tenham condições de repassar a inflação, que estejam gerando caixa e sem ou com pouca dívida. Eu destacaria o setor de utilidade pública, como as empresas de energia”, aponta o sócio e diretor da SVN Gestão. “Saindo um pouco da bolsa, para quem busca diversificação e não quer ter tomar muito risco, uma opção são os fundos imobiliários de galpões logísticos. Eles têm se beneficiado dessa competição das varejistas e das empresas de transporte. Além disso, para atender as grandes cidades e regiões metropolitanas, esses galpões estão em áreas com um metro quadrado caro e com reajuste atrelado ao IGP-M”, completa o sócio da fintech Monett.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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