Por que Barsi diz que você pode perder dinheiro com a renda fixa? Faz sentido?

Para o professor Rodolfo Olivo, de fato cada um sente a inflação de uma maneira, mas o histórico de juros altos garante saldo positivo na renda fixa

Maior investidor pessoa física da bolsa brasileira, Luiz Barsi Filho é um crítico contumaz das aplicações de renda fixa. Em recente entrevista para a Inteligência Financeira, o aclamado Rei dos Dividendos (dono de R$ 4 bilhões em ações) defendeu que a renda fixa, na verdade, não existe. Barsi argumenta que a inflação oficial não representa a realidade de todos e que alguns podem até perder dinheiro. Veja no vídeo abaixo:

Mas o que Barsi quer dizer com a apuração do que é a inflação de cada pessoa? Faz sentido pensar que ganhar da inflação oficial não significa, necessariamente, ter corrigido o seu dinheiro? Para tratar desse tema, conversamos com Rodolfo Olivo, professor da FIA Business School e colunista da Inteligência Financeira, cujos textos você confere aqui.

O que Luiz Barsi quer dizer com “a inflação de cada um”?

O professor Rodolfo Olivo explica que a inflação oficial é uma média, expressada pelo IPCA, calculado e divulgado pelo IBGE.

IPCA é uma sigla para Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o que nos dá uma ideia do que ela queira dizer.

“O cálculo que o IBGE faz é sobre os preços que são pagos pelo consumidor amplo. Ou seja, pelos 300 principais itens consumidos pelas famílias que ganham de 1 a até 40 salários mínimos, o que é muita coisa”, afirma o colunista.

Portanto, o IBGE considera esses itens. E, assim, mensura a variação desses valores para calcular a inflação média de um determinado período.

O que Barsi quer dizer, e o professor aprofunda a explicação, é que, no entanto, nem todo mundo consome as mesmas coisas.

“Quem anda de ônibus vai sentir a inflação da passagem de ônibus, quem anda de carro vai sentir uma inflação diferente, que é a inflação da gasolina. Por outro lado, quem tem jatinho vai sentir a inflação do querosene de avião”, explica Rodolfo Olivo.

E o que isso tem a ver com a renda fixa?

Um dos principais objetivos de qualquer investimento é, ao menos, superar a inflação. Ou seja, garantir que o investidor consiga ao menos não perder o poder de compra ao longo do tempo.

O problema, para Luiz Barsi Filho, é que não faria sentido olhar para o IPCA porque para muitos a inflação real dos produtos que essa pessoa consome seria maior do que isso. E, portanto, poderia superar a renda fixa.

Para Rodolfo Olivo, não é factível o exemplo dado pelo megainvestidor. No vídeo acima, Barsi afirma que uma pessoa poderia ter 50% de aumento de tudo que consome no período de um ano. O colunista argumenta que sim, parte das pessoas tem uma inflação mais alta do que outras no curto prazo, mas que esse ponto não se sustenta.

O professor afirma que há dois pontos a se considerar. O primeiro de que a teoria econômica ensina que, com o tempo, a inflação vai se redistribuindo entre as classes sociais.

Por exemplo: o aumento do petróleo pode chegar primeiro em quem tem carro, mas cedo ou tarde o governo vai precisar aumentar a passagem do transporte público também.

Já o segundo ponto é de que o IPCA, ao abordar famílias de até 40 salários mínimos considera 99% das casas brasileiras. Portanto, é improvável que se tenha uma inflação que seja tão maior proporcionalmente que o índice.

“Se a inflação fica em torno de 5% e você tem uma inflação que é 50% maior do que a média, ela é de 7,5%. Mesmo assim, você ainda vai ter um ganho real investindo na Selic, de 3%, 3,5%”.

O que fazer se sua inflação é mais alta do que a média?

O professor Rodolfo Olivo afirma que a Selic, no Brasil, “é uma titã”. Por sinal, recomendo a leitura da última coluna de Olivo para a Inteligência Financeira, na qual o especialista compara o rendimento da taxa de juros brasileira com os investimentos de outro ícone, o americano Warren Buffett.

Portanto, para o docente é importante ter uma parte de seus investimentos atrelada à taxa Selic. No entanto, os brasileiros a partir da classe média, que consomem mais serviços, de fato estão sujeitos a uma inflação que pode ser ao menos momentaneamente um pouco mais alta.

Olivo explica que justamente essa parcela da população, que pode ter essa necessidade, é quem tem à sua disposição mais opções de produtos que possuem maior risco mas que abrem a possibilidade de maiores rendimentos.

“É a ideia da diversificação. Não é que tem que deixar tudo na Selic, mas em geral deixar uma boa parte por que mesmo quem tende a ter uma inflação maior não vai ser tão maior. Mas mesmo quem tem a inflação maior é porque consome serviços, que tem instrumentos nos quais ela pode tomar mais risco e compensar esse aumento”, explica.

Assista abaixo a entrevista completa com Luiz Barsi Filho: