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Selic a 11,25% mostra ‘divisor de águas’ para renda fixa; veja quais estratégias ao investir
A alta da Selic de 0,50 ponto percentual, a 11,25% ao ano, anunciada nesta quarta-feira (6) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) traça dois cenários para investimentos em renda fixa. O primeiro é que o aumento dos juros agrega rendimento nominal aos títulos do Tesouro Selic, pós-fixado do Tesouro Direto, e aos títulos de crédito privado atrelados ao CDI, que segue os juros.
O segundo, na avaliação de gestores e estrategistas ouvidos pela Inteligência Financeira, é de que o mercado não aguarda tanto a variação da taxa Selic. Na verdade, ele espera as medidas do governo sobre a contenção de despesas primárias para o cumprimento da meta fiscal.
Se o anúncio decepcionar investidores, os prêmios já elevados do Tesouro IPCA+, ou NTN-B, podem disparar, assim como do Tesouro Prefixado. Mas, se o contrário ocorrer, a parcela variável do rendimento ‘insustentável’ desta quarta-feira, de quase 7%, pode deixar saudades.
O que muda investir na renda fixa com a Selic a 11,25%?
Mesmo com a decisão de subir a Selic em 0,50 ponto percentual, o impacto mais imediato para investimentos em renda fixa poderia vir do comunicado do Copom.
Assim, investidores e analistas esperavam palavras duras do comitê responsável por guiar a política monetária do Brasil ao mercado. Mas nada muito de diferente do documento divulgado há 45 dias, quando a Selic subiu para 10,75%.
O balanço de risco de inflação, por outro lado, piorou.
A expectativa de IPCA dentro do horizonte relevante de 2025 a 2026 ficou ainda mais desancorada e hoje supera o teto da meta do banco central, de 4,50%, e continua muito acima do centro, de 3%.
Por isso, a curva de juros embutida em títulos de renda fixa hoje prevê um ciclo de alta da Selic até 13%. Mais que isso, investidores esperam que o Copom acelere o ritmo para 0,75 p.p. na reunião de dezembro, cita Lucas Queiroz, estrategista em renda fixa do Itaú BBA.
Nesse sentido, a mudança da Selic para 11,25% não mexe tanto com a renda fixa. “Não mexe porque isso já está nos preços, o mercado antecipou os efeitos na curva de juros”, comenta Queiroz.
A decisão, contudo, agrega valor ao Tesouro Selic, diz Queiroz, que funciona como um refúgio da forte volatilidade que vem acompanhando o mercado brasileiro.
Na renda fixa privada, as debêntures indexadas ao CDI também se valorizam, aponta Ricardo Nunes, CIO da Paramis Capital. O gestor alega que, como 80% dos papéis de crédito são atrelados à taxa interbancária, a Selic a 11,25% favorece investimentos do tipo.
Mudança ao investir na renda fixa pode vir de outro lado
O que mais pode mexer com o mercado de títulos públicos e privados é o conjunto de medidas fiscais que o governo federal prepara em Brasília. Nesta quarta-feira, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniu com seus ministros, entre eles o da Fazenda, Fernando Haddad, no Palácio do Planalto.
Especialistas apontam que o anúncio pode ser um divisor de águas para investir na renda fixa.
Se o governo decepcionar o mercado, o prêmio do Tesouro IPCA+ pode saltar do atual 6,70% para um patamar ainda maior. Por outro lado, se o governo agradar economistas, o risco da curva de juros tende a cair, deixando a janela de retorno de 13% do Tesouro Prefixado para trás.
Esta é a avaliação de Luiz Felipe Laudari, sócio e gestor da Galapagos Capital.
“Se o governo entregar uma boa medida no fiscal, parte desse risco vai cair, e títulos prefixados são preferíveis neste cenário por performarem melhor”, diz Laudari. “Caso ele não entregue e o mercado reaja mal, teremos aumento de risco na inflação”, completa.
Na visão do estrategista do Itaú BBA, fora do prefixado, qualquer um dos títulos do Tesouro Direto precifica uma Selic a 13% pelos próximos 10 anos, cenário considerado “agressivo”.
“Na nossa perspectiva, essa taxa de juros é um pouco mais branda”, diz Lucas Queiroz.
As taxas de hoje são consideradas insustentáveis para Luigi Wis, sócio da Genial Investimentos.
“Como o Tesouro IPCA tem uma parcela prefixada e outra atrelada à inflação, os dois vão sofrer se as medidas fiscais forem suficientes”, afirma Wis.
Assim, neste cenário, o gestor entende que o prêmio do IPCA+ pode sair de 6,70% para 6%, enquanto o prefixado pode reduzir 100 pontos-base e voltar a pagar 12%.
Aumentar ou não risco e prazo da carteira de Tesouro Direto?
De acordo com analistas, as taxas atrativas para títulos prefixados e atrelados à inflação cria uma janela de oportunidade para alongar alguns prazos na carteira.
Ou seja, existe uma janela para aumentar risco ao investir na renda fixa. Mas o investidor precisa, como sempre, analisar seus objetivos ao investir, avisa Lucas Pereira, analista de renda fixa da Warren.
“Depende muito do perfil do investidor para alongar os prazos dos títulos em carteira”, comenta.
“A janela de hoje bastante interessante para longo prazo do IPCA+. Contudo, quem está procurando alongar traz mais risco para a carteira.”
Por outro lado, Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, explica que o momento é oportuno para esticar os títulos atrelados à inflação. Entre o retorno do Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+, Lima argumenta que o papel híbrido leva vantagem porque oferece proteção contra o elemento recorrente da economia.
“O fechamento de curva que podemos ter nos próximos dias mostra que o grande ganho da capital seria de duration mais longa, e é muito mais arriscado estender um prefixado do que uma NTNB”, destaca.
Eis a carteira de Ian Lima e da Inter Asset no momento:
- Tesouro Selic
- Tesouro Prefixado 2027 ou 2029
- Tesouro IPCA+ 2045
Nos fundos de previdência da Galapagos Capital, a bola da vez é com o Tesouro IPCA+ de prazos mais longos, diz Luiz Laudari.
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