Carteira ideal: quanto investir em renda fixa e variável com alta dos juros e bolsa volátil?

Analistas apontam proporção ideal para obter a maior rentabilidade

Confira a carteira ideal, segundo analistas do mercado - Ilustração: Inteligência Financeira
Confira a carteira ideal, segundo analistas do mercado - Ilustração: Inteligência Financeira

Uma mudança importante está acontecendo na proporção entre renda fixa e variável para pessoas físicas nos EUA. Tradicionalmente, o recomendado na maior economia do mundo era manter uma carteira com 60% de ações e 40% de renda fixa, mas a situação se inverteu.

Agora, com perspectiva de recessão, juros altos e inflação no pico, a recomendação mais presente é de 60% para renda fixa e 40% para renda variável, segundo matéria publicada pelo tradicional jornal Wall Street Journal em janeiro.

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No Brasil, a renda fixa sempre foi a opção mais indicada para compor um espaço maior da carteira. Com a subida dos juros – e promessa de aperto maior com as discordâncias entre governo e Banco Central – e a queda do Ibovespa (dos 114 mil pontos no auge em 2022 para os atuais 109 mil), está na hora de o investidor brasileiro ajustar posições, dando ainda mais atenção à renda fixa?

Histórico de vitórias da renda fixa

Apesar da situação mais favorável à renda fixa, os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira não acreditam em grandes mudanças na proporção dentro das carteiras de investimento, já que o Brasil é do poucos lugares do mundo que, ao longo da história, reúne baixo risco e alto rendimento nos títulos de renda fixa.

“Além de ser um investimento menos volátil, o risco é mínimo para uma classe de ativos que oferece liquidez imediata, e, em alguns casos, rendimento diário”, diz Erica Santos, especialista de investimentos do Modalmais.

“Historicamente, a renda fixa tem uma performance maior que a renda variável em um prazo mais longo”, completa a especialista. Portanto, mesmo que a taxa de juros tenha chegado a 2% em 2020 – patamar mais baixo da história -, ao longo do tempo, quem manteve o dinheiro na renda fixa teve lucro mais robusto.

Basicamente, o investidor brasileiro já conhece as possibilidades de uma Selic a dois dígitos, o que não deve causar um grande alvoroço caso as taxas de juros se mantenham nos atuais 13,75% ou um pouco acima disso.

Veja abaixo as recomendações dos analistas. Lembrando que são apenas recomendações para você analisar, ver se fazem sentido para seu perfil de risco, prazos e, o mais importante, seus sonhos.

Orientação da Modalmais para a carteira ideal

Investidor conservador

  • 30% – Investimentos de renda fixa com liquidez
  • 20% – Renda Fixa Pré
  • 20% – Renda Fixa Pós (CDI)
  • 20% – Renda Fixa Pós (IPCA)
  • 10% – Títulos públicos

Moderado

  • 30% – Renda Fixa Pré
  • 20% – Renda Fixa Pós (CDI)
  • 20% – Renda Fixa Pós (IPCA)
  • 15% – Fundos multimercado
  • 15% – Títulos públicos

Arrojado

  • 30% – Renda Fixa Pré
  • 15% – Renda Fixa Pós (CDI)
  • 15% – Renda Fixa Pós (IPCA)
  • 20% –  Fundos multimercado
  • 20% – Ações

Diversificação na renda variável

O cenário no Brasil não implica grandes mudanças nos investimentos, segundo Erica. Mas a carteira ideal deixou de ter em renda variável uma quantidade muito concentrada de papéis de uma única empresa. Hoje, as corretoras levam em conta “a melhor relação risco/retorno, de acordo com os objetivos do cliente”, diz.

Luciana Ikedo, assessora de investimentos e sócia no escritório RV4 Investimentos, concorda com Erica no que diz respeito à maior mudança na composição da carteira. “Trata-se da individualização das carteiras, entendendo e respeitando o perfil de investidor”, ou seja, os objetivos de cada pessoa e a capacidade de assumir riscos.

‘Combinado’ de ações e derivativos vira opção

No cenário atual, com forte volatilidade e incertezas políticas, ela diz que uma opção que ganhou força é a ‘renda variável protegida’, ou seja, as operações estruturadas combinando ações e derivativos. “Muitos investidores querem se expor ao mercado de renda variável, mas tem aversão à perda. Assim, essas opções que protegem o capital investido vêm cada vez mais brilhando aos olhos do investidor”, afirma Luciana.

Indexados à inflação ganham força

Orlando Bachesque, sócio da Alta Vista Investimentos, também avalia que houve mudança na composição da carteira no Brasil dentro de cada opção, com destaque para as modalidades de renda fixa. “O brasileiro sempre foi acostumado com o CDI. Quando veio a pandemia, o CDI caiu e o investidor brasileiro se sentiu órfão. Hoje, se olha muito mais para ativos indexados à inflação do que se olhava anteriormente, e talvez esse tenha sido o legado dos juros baixos”, explica.

Renda fixa fortalecida

Mas para o sócio da Alta Vista há uma mudança também no percentual de renda fixa e variável, com a inflação, o risco fiscal e a volatilidade dos ativos de risco no Brasil favorecendo a renda fixa.

“As taxas (que indexam os investimentos em renda fixa) estão em patamares muito altos, o que é interessante para todos os perfis de investidores porque são retornos altos com baixa volatilidade”, afirma o especialista.

Ele destaca que há percentuais diferentes para cada perfil. Para clientes mais conservadores, o percentual de renda fixa está perto de 65% do portfólio, sendo que desses, 52% são pós-fixados em CDI, 10% são atrelados à inflação e 3% em pré-fixados.

Enquanto, na parte de renda variável, apenas 8% estaria alocada em ações, sendo que, desses 1% é para investimentos em ações no exterior, e 7% para papéis brasileiros. O restante pode ser distribuído em outros tipos ativos, como fundos multimercados e alternativos de private equity.

Já para investidores mais arrojados, a proporção é inversa, adicionando ainda mais um percentual de renda variável, segundo Bachesque. Dessa maneira, a carteira ideal passa a ser composto de 67% dos ativos de renda variável.

Carteira ideal, segundo a Alta Vista

Conservadoras

  • 65% renda fixa
  • 35% renda variável

Arrojadas

  • 67% renda variável
  • 33% de renda fixa

Visão mais cautelosa

Luciana tem uma visão mais cautelosa sobre o que pode ser uma carteira ideal e ressalta que o investidor mais conservador, em alguns casos, pode simplesmente abrir mão da renda variável.

Para os perfis moderado e arrojado, em que a renda variável faz muito sentido, ela considera imprescindível entender qual a destinação dos recursos e o prazo do investimento para fazer a melhor escolha entre as opções disponíveis.

Mas a especialista faz um alerta principal, que é levar em conta o perfil do investidor para compor a carteira. Assim sendo, ela não avalia que haja uma carteira universal.

“Conhecer o coração e o estômago do investidor é fundamental para que se avalie a alocação ideal para cada indivíduo, assim mitigamos as decepções dos investidores que muitas vezes se consideram arrojados, mas que na verdade são moderados”, avalia.

O curto reinado da renda variável

No Brasil, a taxa de juros chegou ao nível mais baixo da história, de 2%, em 2020, o que levantou a possibilidade de o país deixar de ser ‘o paraíso do rentismo’. “Durante esse período de juros baixos, os investidores, até mesmo os mais conservadores, tiveram que recorrer a outros ativos para ter algum ganho”, diz Acilio Marinello, coordenador do MBA Executivo em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios.  

No período, o mercado brasileiro viu a bolsa de valores bater recorde. Em 2021, O Ibovespa chegou a bater 130 mil pontos, muito acima dos atuais 109 mil.

“Em 2020, com a Selic a 2,0% ao ano, os investidores tiveram que buscar maior diversificação na carteira, a fim de obter maiores rendimentos. Outros fatores importantes contemplam o surgimento de novos ativos. Alguns exemplos são as criptomoedas e investimentos no exterior. Isso ampliou as possibilidades de diversificação das carteiras, com ativos que possuem diferentes níveis de risco e volatilidade”, destaca Marinello.

As diferenças entre EUA e Brasil

No que diz respeito ao percentual de renda fixa versus renda variável, Brasil e EUA costumavam ser opostos. A maior economia do mundo dava mais espaço para o investimento em ações, enquanto o Brasil favorecia os investimentos relacionados a juros.

O principal fator para essa diferença histórica “são as altas taxas de juros no Brasil”, diz Luciana, do escritório RV4. “Elas possibilitam um rendimento real muito atrativo e muito superior ao do Ibovespa entre 2000 a 2021.”

Ela destaca que o investimento em renda fixa acontece em tesouro Selic ou em produtos de emissão bancária indexados ao CDI e com fundo garantidor de crédito.

Com base nisso, Bachesque reforça a máxima já bastante conhecida de que o “Brasil é o paraíso dos rentistas”, desdobramento dos tempos de inflação descontrolada, nos anos 1980. “Com o chamado overnight, quem tinha algum recurso se protegia deixando dinheiro no banco com uma remuneração quase certa, enquanto outras mais agressivas você corria risco de perder da inflação”, diz Bachesque.

Mesmo em tempos de inflação mais controlada, coma agora, a cultura no Brasil ainda é aquela baseada na dinâmica econômica dos anos 1980, com os juros batendo recordes mundiais como remédio para controlar a inflação.

EUA em outro momento

Com uma dinâmica de preços mais previsível, os EUA optaram por fazer diferente ao longo da sua história, diz Bachesque. As taxas de juros americanas “sempre foram mais estimulativas” porque não havia motivos para se preocupar com uma pressão sobre os preços.

Com juros baixos, o investidor americano buscou alternativas para ter retornos maiores, e a grande solução foi comprar ações.

Porém, com a alta recorde de juros na maior economia do mundo, EUA e Brasil abraçaram juntos os investimentos em renda fixa. Com isso, as bolsas de NY registraram em 2022 o pior ano desde 2008, com uma corrida dos investidores rumo aos títulos públicos.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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