Ponto de inflexão: Rali de Natal pode ser antecipado?
Entramos em um momento que estatisticamente ou historicamente se mostrou favorável para o mercado
Esta semana que passou tivemos eventos importantes que foram precificados no mercado de forma expressiva. Teria o mercado chegado a um ponto de inflexão? Além disso, entramos em um momento que estatisticamente ou historicamente se mostrou favorável para o mercado. Estaríamos iniciando o Rali do Natal (fenômeno de alta no mercado acionário que, em geral, acontece nos últimos três meses do ano, quando os investidores estão mais otimistas)?
Vamos lá, começando…
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Decisão de juros…
Primeiro, na quarta-feira, conforme o esperado, o Banco Central americano manteve a taxa básica de juros americana em uma faixa entre 5,25% e 5,50%. Em geral, trouxe poucas mudanças em termos de comunicado e postura do presidente do Fed.
No entanto, um fator determinante foi o fato de o Fed ressaltar que as condições financeiras estão apertadas – reflexo da alta das taxas de juros de longo prazo observada recentemente – e que isso pode vir a refletir na atividade econômica. O mercado, por sua vez, entendeu que esse reconhecimento permite ao Fed não alterar novamente as taxas de juros. Isso porque elas já se encontram em uma posição contracionista para a economia.
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O mercado, por sua vez, entendeu que esse reconhecimento permite ao Fed não alterar novamente os juros, dado que eles já se encontram em uma posição contracionista para a economia.
Quantitative tightening
Além disso, o Fed anunciou que vai reduzir o ritmo de venda de títulos no mercado aberto. Isso quer dizer que ele está reduzindo o ritmo da redução do seu balanço, ou seja, diminuindo o ritmo do seu aperto monetário. Traduzindo, ele está “tirando o pé do acelerador” do seu aperto monetário.
O quantitative tightening (QT) é um dos mecanismos que um banco central pode acionar para intervir na economia do país. Trata-se de uma ferramenta de retração monetária, ou seja, consiste na retirada de reservas financeiras em circulação no mercado.
Payroll
E na sexta-feira tivemos o relatório sobre o mercado de trabalho americano. Foram criados 150 mil postos, ante os 180 mil esperados. A taxa de desemprego subiu novamente para 3,9%, ficando acima do esperado.
O rendimento médio por hora, uma medida-chave para a inflação, aumentou 0,2% no mês, menos do que a previsão de 0,3%. Chamou a atenção ainda a revisão para baixo de mais de 100 mil postos de trabalho que haviam sido computados nos meses anteriores.
Então, em suma, os diferentes indicadores que o relatório fornece apontaram para o mesmo lado, ou seja, que a economia americana parece dar sinais de desaceleração.
Impacto nos mercados
O impacto nos mercados foi muito claro:
- Reduziram-se as apostas de aumentos de juros. Agora, 95% apostam que os juros devem se manter inalterados na próxima reunião em 13 de dezembro, de acordo com a ferramenta CME tool watch. Vimos os yields dos títulos americanos cederem, especialmente os de longo prazo.
- O dólar caiu como reflexo da queda dos yields e da percepção de que a economia está desacelerando.
- Ativos de risco performaram bem.
Leitura
A leitura e precificação de ativos nesta semana transmitiram uma mensagem importante de que o mercado não acredita que haverá mais aumentos de juros no futuro próximo. Em outras palavras, a grande questão dos últimos 24 meses, ou seja, até onde as taxas de juros americanas poderiam subir, parece começar a ser respondida. Esse evento é muito relevante e pode marcar um ponto de inflexão significativo.
Aliás, isso justifica a alta dos mercados, a queda do dólar e dos yields americanos nesta semana. Além disso, observamos um desempenho sólido de ativos mais influenciados ou correlacionados com as taxas de juros, como REITs e small caps nesta semana.
Embora seja um pouco prematuro, vejo pouco espaço para a necessidade de novos aumentos de juros, a menos que ocorram choques de oferta ou eventos inesperados que mudem a dinâmica atual. Ainda assim, o cenário principal é que o Fed deve manter as taxas de juros elevadas por mais tempo, até que a inflação realmente ceda.
“Medo extremo”
Foi emblemática a convergência de fatores que observamos nesta semana, algo que não pode ser ignorado. Nas últimas semanas, tenho comentado que esses momentos de negatividade ou pessimismo no mercado, quando vemos o índice Fear and Greed atingir níveis de “medo extremo”, muitas vezes criam as melhores oportunidades de entrada no mercado de ações. É interessante notar que esses fatores ocorreram em um momento sazonalmente favorável para o mercado, como menciono mais abaixo.
No mercado de títulos, o achatamento recente da curva de juros mostra o tamanho da oportunidade que estamos tendo para capturar retornos historicamente elevados na renda fixa. Além disso, se continuarmos a ver o achatamento da curva (queda dos yields), teremos o impacto positivo da marcação a mercado ocorrendo na classe de ativos. Portanto, o movimento que vimos nesta semana também foi muito benéfico para os bonds.
Começou o Rali de Natal?
O Rali de Natal está normalmente associado à alta que historicamente o mercado de ações apresenta na semana que antecede o dia 25 de dezembro ou que se estende até os primeiros dias do novo ano. Parece estar muito mais relacionado ao fechamento de cotas dos fundos de investimento e a questões tributárias, mas é um fato que os últimos meses do ano historicamente se mostraram positivos para o mercado. Novembro tradicionalmente se revelou um mês favorável para a bolsa americana.
Não obstante, tal estatística ocorre após três meses de queda no mercado. Ainda no campo estatístico, o que a história nos mostra é que após esses momentos, o período subsequente se mostrou favorável para o mercado.
Nada garante que essas estatísticas se repetirão… por outro lado, a história e os números mostram que elas aconteceram… interessante, não é?
Resultados
Até o momento (03/11), 81% das empresas do S&P 500 relataram seus resultados, e destas, 82% reportaram lucro por ação acima das estimativas, um número acima da média tradicional (média dos últimos 5 anos) de 77%. Em geral, as empresas reportaram lucros 7,1% acima das estimativas, com um crescimento em relação ao terceiro trimestre de 2022 de cerca de 3,7%.
Em termos de receitas, 62% das empresas do S&P 500 reportaram receitas acima das estimativas, mas com um número mais modesto, apenas 0,7% acima das estimativas e um crescimento até o momento de 2,3%.