O que nos revelam os números do quarto trimestre no mercado americano?
Mercado parece também ter tirado a semana para “descansar” depois do rali que vimos nos últimos meses
Mais uma safra de divulgação de resultados das empresas americanas segue acontecendo. E, com ela, diversos dados surgem para nos auxiliar na contextualização do que se passa no maior mercado do mundo. O que esses números do quarto trimestre no mercado dos Estados Unidos nos revelam?
Além disso, seguimos acompanhando a situação da inflação nos EUA e todos os indicadores envolvidos. A seguir, confira essas e outras análises.
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Análise dos números do quarto trimestre no mercado americano
Enquanto muitos de vocês comemoravam ou descansavam no Carnaval, o mercado parece também ter tirado a semana para “descansar”, uma “pausa para respirar”, depois do rali que vimos nos últimos meses. O fator que catalisou isso foram os dados de inflação.
A luta contra a inflação não acabou…
Na quarta-feira (13), o indicador de inflação ao consumidor americano veio acima do esperado tanto no índice cheio (expectativas de +0,2% mês a mês e +2,9% ano a ano versus +0,3% e 3,1% reportado) quanto em seu núcleo (expectativas de +0,3% m/m e +3,7% a/a versus +0,4% e +3,9% reportado). Este foi o maior número registrado desde setembro de 2023.
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Ao analisar os dados, mais uma vez o índice de moradia continuou sendo o principal responsável por uma medição de inflação mais elevada em janeiro, aumentando 0,6% e contribuindo com mais de dois terços da alta do mês. O índice de alimentação também aumentou 0,4%, uma vez que a alimentação em casa teve alta de 0,4% e a refeição fora de casa aumentou 0,5% ao longo do mês. Em contraste, o índice de energia caiu 0,9% ao longo do mês, devido, em grande parte, ao declínio dos preços da gasolina.
E, na sexta-feira (16), foi a vez de a inflação no atacado também surpreender para cima. O indicador de inflação ao produtor (PPI) veio bem acima do esperado pelo mercado (+0,3% m/m ante +0,1% esperado). Excluindo os itens mais voláteis (alimentos e energia) e olhando para seu núcleo, a surpresa foi ainda maior, +0,5% versus +0,1% esperado – o maior avanço desde janeiro de 2023.
Mas e então?
Em resumo, dois indicadores apontam para uma mesma tendência: um alerta de que a luta contra a inflação não terminou e de que o Fed precisa continuar a ser diligente em sua condução da política monetária. Com isso, observamos um ajuste nas expectativas de juros nesta semana.
Esses dois indicadores acabaram por influenciar as apostas de cortes de juros no curto prazo. A ferramenta do CME Group mostra que houve um aumento da probabilidade de manutenção dos juros em maio. Agora essa passa a ser a aposta dominante do mercado. Atualmente, passou-se a acreditar que o primeiro corte de juros ocorrerá somente em junho.
E quando à bolsa…
Como reflexo dessa certa reprecificação dos juros que vimos na semana passada, a bolsa nos EUA passou por uma leve realização. Nada substancial, e, em geral, observamos um certo movimento de “rotação”, com as grandes ações de tecnologia apresentando uma performance aquém do resto do mercado. É cedo para tirar conclusões definitivas, mas isso chamou a atenção.
Mas além dos dados de inflação, a safra de balanços do quarto trimestre continua acontecendo e trazendo insights importantes. Vejamos alguns deles…
Observações relevantes sobre os números do quarto trimestre até o momento…
Na semana passada, diversos resultados foram divulgados. Mas, de forma geral, a tendência permaneceu a mesma, ou seja, com números geralmente melhores do que o esperado pelo mercado. Até o momento, 79% das empresas do S&P 500 divulgaram seus resultados. Desses, 74% atenderam ou superaram as expectativas de receita do mercado. Além disso, 84% atenderam ou superaram as expectativas de lucro do mercado.
Alguns pontos de destaque merecem atenção…
Crescimento dos lucros
Com a grande maioria das empresas superando as estimativas até agora, os analistas ajustaram suas projeções e agora apontam para um crescimento esperado nos lucros por ação de 6,5% de forma agregada (para as ações do S&P 500) em relação ao 4T22. Se isso se confirmar, teríamos os melhores dados desde o 2T22.
Mas as small caps estão decepcionando
Já comentei aqui sobre a underperformance da classe de small caps, especialmente em comparação com o resto do mercado. Essa diferença de desempenho continua existindo. Mas, em termos de resultados, ao contrário das grandes empresas, observamos que as empresas de menor porte apresentaram números que surpreenderam mais negativamente. Entre as empresas do índice Russell 2000, 38% surpreenderam negativamente o mercado em relação aos resultados divulgados nesta safra de balanços.
Busca por eficiência
Com um mercado de trabalho apertado (baixa taxa de desemprego e salários crescendo acima da inflação), as empresas têm buscado cada vez mais focar em obter ganhos de eficiência. Não é por acaso que observamos um recorde no uso da expressão “eficiência operacional” nas conferências de resultados.
Menos ou mais inteligência artificial?
Se por um lado vimos menos citações para as expressões inteligência artificial, machine learning e generative AI nos calls de resultados neste trimestre, por outro lado, observamos um aumento no número de empresas mencionando o tema inteligência artificial em suas conferências de resultados.
Ou seja, cada vez mais o tema está ganhando espaço não apenas entre as grandes empresas, mas também em um escopo mais amplo. Mais empresas parecem estar buscando investir ou se preparar para o que muitos consideram uma grande revolução no universo empresarial.
“Outras 493” vs. “Magnificent 7”
Na semana passada, comentei sobre alguns números superlativos que impressionam quando falamos das big techs. Também mencionei seus resultados, que, em geral, foram muito bons e superaram as expectativas do mercado.
No entanto, algo que chamou a atenção foi que talvez vejamos uma performance melhor, em termos de resultados, das “outras 493” empresas do S&P500. Uma pesquisa do Bank of America Merrill Lynch mostra que os lucros dessas “outras 493” podem estar crescendo a uma taxa maior do que os das “Magnificent 7” neste trimestre.
Seria algo bastante emblemático, considerando que, no pós-pandemia, o crescimento observado nos lucros dessas empresas (“Outras 493”), de cerca de 25%, foi substancialmente inferior ao crescimento de quase 300% das “Magnificent 7”.
E esse crescimento observado nos últimos anos ajuda a justificar a diferença de múltiplos observada entre essas ações e o resto do mercado.