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Como a Supermicro atropelou a Nvidia na bolsa, mas deixou os investidores em estado de alerta
A Supermicro (SMCI) avançou mais de 500% em 12 meses na bolsa de valores de Nova York, mais que duas vezes a alta da Nvidia (+215%), alguns dos destaques entre as ações de tecnologia e inteligência artificial no mundo até agora.
Assim, apesar dos ganhos recentes, a empresa causou mal-estar no mercado nos últimos meses, com atraso na divulgação de resultados e, recentemente, divulgação de receita aquém do esperado.
No último dia 30, a empresa, que não tem BDRs e só pode ser acessada diretamente pelas bolsas americanas, divulgou seus resultados para o 1T24.
A receita foi de US$ 3,85 bilhões, pouco abaixo dos US$ 3,86 bilhões esperados. Mas a XP avaliou os números “como decepção na receita”, apesar do “aumento acelerado das vendas”.
Problemas de oferta de componentes impactam receita da Supermicro
Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue e colunista da Inteligência Financeira, o impacto sobre a receita está relacionado principalmente com problemas na oferta de componentes para os serviço da Supermicro.
Dessa forma, a companhia vende soluções para data centers, especialmente os mais robustos, que conseguem oferecer soluções em HPC (High Performance Computing) e inteligência artificial.
“As dificuldades estão no supply chain. A Supermicro precisa de fornecedores, que não estão conseguindo atender sua demanda. E, por isso, ela não bateu a receita que os analistas esperavam, o que pesou sobre as ações”, explica Castro Alves.
O desempenho causou apreensão em quem investe em ações de tecnologia na bolsa.
Assim, no dia 29 de abril, o preço do papel era de US$ 890,35, caindo para US$ 738,30 no dia 1º de maio.
Anteriormente a empresa havia registrado perda importante de valor (US$ 713,65) por conta do atraso na divulgação dos dados.
Mercado temeu pelo pior
Então, o mercado temeu pela empresa na ocasião diante da ausência de divulgação dos resultados. E por todo o setor de tecnologia da bolsa, que está intrinsecamente relacionado, dado que a Supermicro é fornecedora para serviços das Magnificent 7.
O comportamento do mercado, de acordo com análise do portal Investor Place, foi de um “jogo das cadeiras”, com os “investidores dispostos a jogar, esperando que fossem os primeiros a sair antes que a música parasse”.
O texto diz que muita coisa dependeria do relatório de lucros da empresa. Aparentemente, os danos não foram o esperado tendo em vista que, nos dias seguintes, os papéis voltaram a se posicionar acima dos US$ 800.
Outros desafios da Supermicro
Segundo a XP, apesar do “lucro estelar” e do fato de a empresa ter triplicado de valor na bolsa apenas neste ano, “a competição forte” no segmento de inteligência artificial “é um risco para a empresa”.
Para Castro Alves, a Supermicro e a Nvidia – assim como outras empresas do setor de tecnologia da bolsa que atuam com infraestrutura para HPC e inteligência artificial – se beneficiam por surfarem há mais tempo a onda de alta do setor em relação a empresas que ainda estão se posicionando nesses mercados.
Contudo, o estrategista da Avenue avalia que “o cenário à frente é de aumento da concorrência, o que vai dificultar a vida de quem nada de braçada hoje no mercado”. Isso pode afetar as ações de tecnologia que lideraram os ganhos na bolsa recentemente, ainda que por um período limitado.
O que faz a Supermicro?
A Supermicro é uma das empresas de inteligência artificial dentro do setor de tecnologia dos EUA. A companhia é especializada no desenvolvimento e fabricação de servidores, sistemas de armazenamento e soluções de computação de alto desempenho.
Os servidores da empresa são voltados para trabalhar com GPUs, soluções capazes de elevar exponencialmente a capacidade de processamento de dados.
Então, a Supermicro é capaz de integrar ao menos uma dezena de GPUs num mesmo sistema, o que eleva consideravelmente a capacidade dos data centers que têm a empresa como fornecedora. Esse alto desempenho é fundamental para soluções como IA generativa (Chat GPT, por exemplo) e outras iniciativas de alta exigência computacional.
Com operação em mais de 100 países, a companhia é responsável pelo design, desenvolvimento e manufatura da maioria dos seus produtos nos Estados Unidos, o que barateia suas soluções.
Além disso, a empresa é destaque no consumo eficiente de energia, importante para a redução do consumo energético no setor de tecnologia, um dos seus grandes consumidores hoje.
Pares e empresas relacionadas
Hoje, as empresas multinacionais de maior relevância que competem com a Supermicro são Dell, HPE e Lenovo.
“Porém, a Supermicro possui diferenciais competitivos como portfólio abrangente e completo para o setor de computação avançada, liderança no Green IT (redução dos impactos ambientais) e melhor time-to-market (TTM) no lançamento de novas tecnologias”, diz Silvio Ferraz, CEO da Positivo Servers and Solutions, empresa que é parceria da Supermicro no Brasil para projetos como o dos supercomputadores da Petrobras.
Outra empresa relacionada à Supermicro é a joia da coroa do setor de tecnologia do momento: a Nvidia, fornecedor-chave da Supermicro. Assim, à medida que os resultados da Nvidia surpreendem, a Supermicro também se beneficia.
Atuação da Supermicro no Brasil
Desde 2008, a Supermicro atua no Brasil em parceria com a Positivo Servers and Solutions.
A Positivo usa tecnologia Supermicro e coloca GPUS da Nvidia nos supercomputadores da Petrobras, como o mais recente, o Pégaso. A parceria tem ajudado a estatal brasileira na exploração de petróleo. As empresas contam ainda com o auxílio da francesa Atos para implementação dos servidores.
Os servidores Supermicro utilizados nos supercomputadores foram industrializados no Brasil pela Positivo Servers & Solutions, na fábrica da Positivo Tecnologia em Manaus.
Agora, a Positivo Servers & Solutions anuncia parceria na implementação de soluções de liquid cooling para data centers, “necessário para suportar o aumento da demanda de processamento”, explica Silvio Ferraz, CEO da empresa.
Essa nova linha de produtos, inclusive, tem sido apontada pelos executivos da empresa como um novo driver de crescimento. “À medida que novas soluções surgem, incluindo DLC (Direct Liquid Cooling) totalmente pronto para produção, esperamos continuar ganhando participação de mercado”, disse o CEO da Supermicro, Charles Liang, em resposta a acionistas destacada por relatório da XP.
Futuro da Supermicro
Liang disse ainda que a companhia está aumentando o guidance de receitas para o ano fiscal de 2024. A empresa não deve crescer mais no intervalo de US$ 14,3 bilhões a US$ 14,7 bilhões de dólares, mas, sim, entre US$ 14,7 bilhões a US$ 15,1 bilhões.
Castro Alves, da Avenue, aponta que as projeções da empresa são factíveis e destaca que ela possui espaço para ampliar sua participação no mercado. A Supermicro detém apenas 6% do mercado de infraestrutura para data centers, que tem a Dell como grande player (próximo de 17%).
Dessa forma, quanto ao desempenho na bolsa, novas altas são esperadas tendo em vista outras ações de tecnologia das bolsas de Nova York.
“Se a Supermicro entregar esse lucro prometido, o papel estaria avaliado em 25 ou 26 vezes o lucro para 2025. Isso não é nenhum absurdo, levando em conta que está descontada se comparada com Nvidia, Microsoft ou Google”, destaca Castro Alves.
A Nivida, por exemplo, prevê preço/lucro em 27 vezes em 2025.
Para este ano o preço/lucro da Supermicro está em 60 vezes, enquanto da Nvidia está em 70 vezes.
Nesse sentido, o JP Morgan iniciou cobertura recente da empresa. A análise do banco aponta preço-alvo de US$ 1.150 para as ações da Supermicro, que passaram a compor recentemente o S&P 500.
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