Como o La Niña pode afetar a economia e os investimentos em 2024 

Relatório aponta papéis de empresas que devem sofrer impacto positivo ou negativo com o fenômeno metereológico

Você já parou para pensar como efeitos metereológicos podem afetar a economia, e isso por consequência atingir os investimentos? É o caso da influência do La Niña na economia, por exemplo.

Na última vez que o fenômeno metereológico ocorreu, afetou as produções de milho e de soja no sul do país. Para saber se estes efeitos devem se repetir, a Inteligência Financeira ouviu especialistas em meteorologia e em investimentos. 

Já de pontapé, vale saber que há 60% de chances de o La Niña ocorrer no trimestre de junho a agosto desse ano. A previsão foi divulgada nesta quinta-feira (11) pelo Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), a agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos. 

Por aqui, o La Niña normalmente provoca chuvas intensas nas regiões Norte e Nordeste, além de tempo seco no Sul. No entanto, ainda não há consenso entre os pesquisadores sobre qual será a intensidade do fenômeno. 

Segundo o professor Pedro Leite da Silva Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG/USP), é possível que essas características clássicas do La Ninã se apresentem de forma atenuada. Isso porque há outros efeitos climáticos influenciando a meteorologia global.  

“Teremos o La Niña querendo trazer chuva acima do normal no começo da primavera no Norte do Brasil. Mas, ao mesmo tempo, temos a Oscilação Decadal do Pacífico (PDO) agindo no sentido contrário”, explica Pedro, citando o padrão climático que está incidindo sobre o clima brasileiro há anos.

Efeitos na Economia  

Assim, o cenário climático do Brasil sob o La Niña em 2024 ainda é incerto. O que se sabe é que, se o fenômeno ocorrer com a mesma intensidade observada em 2021, a agricultura será fortemente impactada. 

À época, o Sul brasileiro sofreu com estiagem e impactou diretamente na produção de milho e soja. O Uruguai, importante produtor da oleaginosa, amargou uma crise hídrica histórica. 

Estimativas sobre os preços das commodities

Para Cesar Castro Alves, gerente da consultoria agro do Itaú BBA, é cedo para prever o impacto do fenômeno nos preços das commodities. Mas, caso o La Niña apresente suas características clássicas, diversas culturas serão afetadas. 

“A depender da intensidade, pode ser que o La Niña não gere reduções de produtividade e, consequentemente, alta dos preços”, afirma Cesar em relação à produção de milho e soja no Sul. 

Já o eventual aumento de chuvas no Nordeste pode compensar um cenário de quebra de safra de grãos em estados como o Rio Grande do Sul, avalia o especialista. 

“Em tese, soja e milho tendem a subir em Chicago, no caso de falta de chuvas no Sul do Brasil e na Argentina. Isso pensando na próxima safra de verão. Apesar dessa eventual quebra, a alta de preços no Centro-Oeste, sem problemas de produtividade, pode mitigar esse cenário”. 

Sobre a pecuária, Cesar afirma que “a seca, caso ocorra, pode afetar as pastagens, comprometendo as produções de carne e leite”. 

PIB e IPCA sem alteração

Luciana Rabelo, economista do Itaú-Unibanco (ITUB3, ITUB4), afirma que os efeitos de um eventual La Niña intenso sobre a economia devem ser observados somente no ano que vem. 

“O impacto no PIB de 2024 é praticamente zero, pois ele deve ocorrer quando as colheitas das principais culturas já estiverem finalizadas. Se o fenômeno perdurar até 2025, pode causar quebra de safra, com reflexo no PIB.” 

Luciana não descarta alta de preços puxada por alimentos e energia no caso de um La Niña intenso. Mas, segundo ela, as previsões do banco para o IPCA de 2024 e 2025 estão mantidas em 3,6% e 3,5%. 

Influência do La Niña na economia de outros países

Segundo relatório da XP Research, a produção de cana de açúcar deve ser beneficiada pelo aumento de chuvas no Sudeste Asiático e na Índia.  

O documento afirma que, com ciclos de colheita anuais, quanto mais cedo o La Niña ocorrer nestas áreas, melhor, pois o fenômeno aumenta as chuvas de monções, propiciando colheitas a partir de outubro. 

Porém, os efeitos serão negativos para Estados Unidos e Austrália, no caso de um La Niña ocorrendo no início do segundo semestre. A baixa ocorreria na produção de grãos em ambos os países, e na produção de algodão nos EUA. 

Ações afetadas

O relatório da XP Research também cita papéis de empresas que devem sofre impacto do La Niña. Sem dar detalhes sobre o motivo das baixas ou altas previstas, a lista inclui nomes como Raízen (RAIZ4), líder em açúcar e etanol. 

Veja o resumo da previsão de impacto das empresas com o LaNiña: 

  • TTEN3 – 3Tentos Agroindustrial (previsão de efeito negativo); 
  • SLCE3 – SLC Agrícola (previsão de efeito positivo); 
  • AGRO – Adecoagro (previsão de efeito positivo); 
  • SMTO3 – São Martinho (previsão de efeito negativo);
  • JALL3 – Jalles Machado (previsão de efeito negativo); 
  • RAIZ4 – Raízen (previsão de efeito negativo). 

Outro lado

Enquanto o NOAA, um dos órgãos de estudo climático mais ouvidos no mundo, prevê a ocorrência do La Niña já em junho, outro instituto afirma que o fenômeno deve dar as caras um pouco mais tarde.

O Bureau of Meteorology (BoM), da Austrália, diz que o El Niño se manterá até maio. Depois, condições neutras se manterão até julho.

O consenso entre os pesquisadores é que o La Niña tem influência direta na economia. E meteorologistas e investidores devem acompanhar os efeitos de perto neste ano.

Com edição de Daniel Navas.