Muito além dos ovos de Páscoa: o que o preço do cacau significa para o investidor?
Toda Páscoa, o preço dos ovos é um assunto recorrente. Os docinhos mais caros têm a ver com a cotação nas alturas da principal matéria-prima para a fabricação do chocolate: o cacau. Para se ter uma ideia, de acordo com dados da plataforma Investing, a cotação em Nova York subiu 63% em 2023. Já em 2024, os preços mais do que dobraram. Hoje o preço do cacau ultrapassa US$ 9 mil por tonelada.
Para entender o atual momento do mercado, é importante saber como funciona a precificação do cacau. O produto é considerado uma commodity por ser um bem econômico com características padronizadas, independentemente do local de plantio e produção.
Em um relatório produzido para a Inteligência Financeira, o Investing explica que o produtor é também o tomador de preço. Ou seja, ele não tem capacidade de determinar o valor de venda do cacau. “Assim, o preço é determinado a partir da negociação de contratos futuros de compra e venda na bolsa de valores. Algo semelhante à precificação de uma ação na bolsa de valores”.
Contratos futuros de cacau
As cotações do principal contrato de cacau acontecem na Intercontinental Exchange, em Nova York. “O preço varia de acordo com a oferta e demanda global, influenciado por fatores como condições climáticas nas regiões produtoras, questões políticas e demanda de indústrias que utilizam cacau, como a de chocolates”, explica Nilson Marcelo, analista quantitativo da CM Capital.
Já João Fouad, fundador e CEO da HiIghline Venture Builder, ressalta que a qualidade do cacau é um fator importante e que também afeta o preço do item. “O cacau de alta qualidade é mais caro do que o cacau de baixa qualidade. A quantidade disponível também afeta o preço do cacau: se houver muita oferta, o preço será mais baixo. Se houver pouca oferta, o preço será mais alto. Assim, claro, como a procura”, ressalta.
O que tem causado a alta do preço do cacau?
Atualmente, Costa do Marfim e Gana são os maiores produtores globais de cacau, com cerca de 60% da oferta. Fatores climáticos foram os principais responsáveis por esse salto da cotação. No relatório, o Investing detalha esse ponto. “Seca seguida de excesso de chuvas em 2023 prejudicaram a produção no ano passado, e a atual safra 2023/24 sofre com o clima mais seco e quente causado pelo fenômeno El Niño”.
Além disso, a logística também muda com o clima. “A ocorrência de ventos secos e frios na África Ocidental afetou negativamente a entrega de cacau pelos países africanos. A consequência, que levou à disparada de preços, derrubou as entregas de cacau na safra anual em 34% na Costa do Marfim e em 35% em Gana, de acordo com a Organização Internacional do Cacau (ICCO)”, destaca o relatório.
O impacto além dos ovos de Páscoa
A disparada do preço do cacau no mercado internacional é uma das grandes vilãs da alta do chocolate nesta Páscoa, mas o impacto vai além disso. Em uma conferência de resultados feita no início do ano, executivos da fabricante de chocolates Mondelez (MDLZ) afirmaram que planejam aumentar os preços de produtos para cobrir a inflação do cacau.
Repassar a alta nos custos para os produtos é um movimento comum, mas arriscado, já que o aumento dos preços pode causar uma queda nas vendas. “Vale ressaltar que em 2023 a inflação estava elevada no mundo inteiro. Isso significa que o chocolate, um bem de consumo discricionário (que não é de necessidade básica), acaba sendo impactado com a alta do nível de preços na economia. Os consumidores deixam de comprar ou compram menos chocolate com a diminuição da renda devido à inflação. Isso diminui a capacidade das empresas de repassar aos consumidores os custos elevados de produção com a alta do preço do cacau”, destaca o Investing no relatório.
Hershey’s, Mondelez e Nestlé: o chocolate amargou?
Uma das empresas do setor mais impactadas é a Hershey’s (HSHY34), que sofreu com uma queda acumulada de 19,5% de suas ações em 2023. “Além do preço do cacau, a alta nos custos de vendas e marketing, elevação nos investimentos e o dólar forte (que gera receita menor em outros países) contribuíram para uma perspectiva negativa sobre a empresa”, ressalta o Investing.
De acordo com o relatório, no caso da Nestlé (NESN), que sofreu uma queda de suas ações de 8,99% em 2023 e 1,55% em 2024 na bolsa de Zurique, o impacto maior foi pela inflação elevada no mundo, já que a empresa suíça tem uma diversificação maior no seu portfólio de produtos. “Em relação à Mondelez, suas ações subiram 8,99% em 2023, apesar da inflação elevada e alta nos custos de produção. O desempenho das vendas da Mondelez em economias emergentes contribuiu para uma performance positiva de suas ações”.
O que esperar daqui para frente?
A perspectiva não é positiva. “Após subir os preços em dois dígitos ano passado, a Mondelez informou que não deve subir mais do que um dígito os seus preços por causa da alta do cacau. Isso levou a empresa a divulgar uma expectativa de vendas e lucro menor em 2024 do que o esperado pelo mercado. Com isso, suas ações operam em baixa em 2024, acumulando perdas de 3,47%”, destaca o Investing.
No caso da Hershey’s, a empresa está sofrendo com rebaixamento de recomendação de compra ou venda de suas ações, além de menor preço-alvo. “Isso ocorre devido a uma menor expectativa de vendas para os próximos meses. De acordo com o InvestingPro, ferramenta de análise fundamentalista do br.investing.com, as ações da Hershey sofrem recentemente 14 revisões baixistas para o seu próximo balanço”.
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