Método Barsi se populariza vendendo o que o investidor menos tem: paciência e frieza
Felipe Ruiz, CEO do AGF, explica como funciona a estratégia
Você sabia que Luiz Barsi Filho, maior investidor pessoa física da bolsa, desenvolveu uma estratégia para investir em ações? É o método Barsi, e a Inteligência Financeira foi até a região central de São Paulo para entender como funciona o método Barsi.
Para isso, conversamos com Felipe Ruiz, CEO e cofundador do AGF, empresa que desenvolve cursos com base no método Barsi. O foco são as ações consideradas boas pagadoras de dividendos e o longo prazo.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
O AGF foi fundado em 2019. O pano de fundo da empresa é fazer com que o investidor sempre olhe para questões macroeconômicas. E nunca ter pressa. O pulo do gato é a paciência misturada com boas doses de frieza. Qualquer tipo de compra e venda rápida, como o day trade, está fora de cogitação.
Então, Felipe Ruiz explica tim tim por tim como funciona o método Barsi no vídeo acima, ou nos principais trechos que você acompanha abaixo.
Últimas em Investimentos
O que é o método Barsi de investimento em ações?
O método Barsi de investimento foi criado e disseminado nos últimos 50 anos pelo Luiz Barsi Filho. É algo relativamente simples e aplicável por qualquer pessoa. Assim, você não precisa ter conhecimentos ultra profundos. Você não precisa ser um gênio da matemática. Basicamente, o método Barsi consiste em você comprar ações de boas empresas a bons preços e que distribuam bons dividendos.
Esses dividendos vão sendo reinvestidos nas ações dessas empresas. E assim você vai formando uma bola de neve com uma carteira de qualidade, que prega muito mais a concentração do que a diversificação, e você fica exposto a grandes expoentes da economia real do Brasil. Então, em diferentes indústrias, diferentes segmentos, mas sempre de setores que a gente acredita que são muito perenes, previsíveis e que sejam quase que imunes a crises.
Quais tipos de setores fazem parte do método Barsi?
Então, independentemente de um cenário de taxa de juros, de câmbio e risco, você vai continuar acendendo a luz da sua casa, pagando um boleto de água e consumindo dados no teu celular ou indo a um banco, por exemplo. Então, esses setores, tipicamente por ter essa previsibilidade de fluxo de caixa e pelas empresas que atuam neles, seriam muito resilientes e protegidos com barreiras de entrada.
Este setores acabam criando esse fluxo de dividendos previsível, que é o que a gente mais gosta no no método Barsi. A gente está sempre em busca daquela boa empresa que esteja barata.
Como encontrar empresas na bolsa que se encaixam no método Barsi?
Empresas boas na bolsa de valores têm um monte. Empresas baratas também. O difícil é você encontrar a combinação. E geralmente quando você faz essa avaliação vai apela para o que está mais barata. Você se identifica muito mais com números quantitativo. Mas existem, sim, empresas que unem as duas coisas. Existem muitos outros itens que você pode avaliar.
Então, o investidor tem que observar desde a estratégia da empresa, o setor em que ela atua, a cultura da companhia, quem são os controladores, há quanto tempo existe essa empresa e se ela tem um histórico de resultados e de distribuição de dividendos. Então é uma série de avaliações que você faz.
No início eu diria que é muito mais por eliminação.
O que o método Barsi ensina sobre a escolha de ações?
Quando você entra na bolsa e vê aquelas 400 empresas ou mais de uma vez, você sempre tem aquela sensação de que você está deixando alguma coisa de lado. O método Barsi prega exatamente o contrário: a gente só elimina tudo o que a gente não quer e foca no que é realmente relevante.
Por exemplo, quando a gente fez uma análise setorial. Assim, o AGF ficou famoso pela criação da sigla BEST, que são empresas dos setores bancário, energia, saneamento, seguros e telecom. Esses cinco setores são protegidos de altos e baixas macroeconômicos e, portanto, têm essa resiliência que a gente está falando.
A que o investidor deve prestar mais atenção?
O investidor sempre olha o retorno de uma ação. Mas esse retorno sempre vem de dois fatores: dividendo e valorização. No método Barsi, o dividendo é o retorno que você tem quase que imediatamente. Então, se você comprar uma ação de uma boa pagadora de dividendos, pagando um preço atrativo hoje e ela está prestes a distribuir um dividendo que foi anunciado recentemente, você já vai receber esse dividendo daqui a algumas semanas, por exemplo.
Logo, esse retorno pode vir rapidamente. Só que o que a gente recomenda é que você não pegue esse recurso e embolse como se você já tivesse podendo gastar e fosse uma nova fonte de renda. Existe um período de formação de uma carteira previdenciária. Assim, o dividendo inicial vai ser revertido para o mercado. Se a ação que você recebeu dividendo está num preço atrativo, você vai olhar para ela e comprar mais ações dessa empresa.
Agora, caso aquela empresa que gerou o dividendo não esteja barata, existem outras que certamente estão com preços atrativos. Neste caso, basta o investidor direcionar o dividendo que ele recebeu para outra ação, mas sempre orbitando em alguns setores especificamente.
Como focar em investir, não em consumir?
Em tempos de redes sociais e digitalização, você é bombardeado constantemente por coisas que podem fazer com que você desvie do objetivo de montar uma carteira. Mas priorizar seus investimentos é fundamental. Então, primeira coisa a fazer é trocar bens que vão perder valor ao longo do tempo.
Por exemplo, um carro deve substituir ativos geradores de renda que tendem a te proteger da inflação no longo prazo. Essa é uma diferença muito óbvia na construção de patrimônio. Se você compra, você só consome bens duráveis que vão perder valor. Com o tempo, seu patrimônio vai sendo corroído. Se você vai direcionando justamente para essa carteira, isso tende a melhorar e, à medida que a pessoa vai vendo resultado na estratégia, naturalmente ela começa a se empolgar.
Como o investidor pode usar a informação a seu próprio favor?
Antigamente você tinha um déficit de informação. Então a informação era uma vantagem. A pessoa que precisava saber algo, ela tinha que correr atrás. Para você ter uma ideia, aqui no centro da cidade existiam departamentos das empresas e os investidores tinham que ir lá para conseguir os balanços. Hoje, existe isonomia de informação, não tem mais essa discrepância.
Por outro lado, a gente está caminhando para o excesso de informação, então as pessoas estão sendo cada vez mais bombardeadas por informações de curto prazo sobre as empresas que podem fazer com que elas tomem decisões em momentos que elas deveriam ficar quietas. São até, muitas vezes, ativos sedutores do momento. Mas é preciso ser fiel à sua estratégia.
Por que arriscar com ações se a renda fixa está indo tão bem?
Quando você está fazendo essa comparação de renda fixa versus ações de boas empresas, você está comparando banana com laranja. E, claro, seu custo de oportunidade sempre vai ser a renda fixa. Mas ao mesmo tempo, como você não consegue projetar a renda futura desse investimento, você pode ser levado erroneamente a imaginar que as empresas vão ter projetos de qualidade, mas que vão produzir retornos abaixo da renda fixa.
Então, a tendência é que bons projetos implementados e terão retornos superiores. Isso se traduz em geração de valor para a empresa e isso, em última instância, se reflete no valor dela e no preço.
O bom investidor tem que ter foco. E quando a gente fala de investimento em bolsa, a gente está simplificando algo que, no fundo, quase que não existe.
A bolsa é um marketplace de ações. Só que quando você está investindo em boas empresas, você é um ‘pequeno dono’ de projetos vitoriosos. Então você pode ter diversificação nos seus investimentos dentro da bolsa, ou seja, colocando pecinhas ali que façam com que você tenha uma carteira que no momento de câmbio em alta é volátil.
Por que as pessoas fazem o oposto do que prega o método Barsi?
Porque as pessoas querem sempre o investimento do momento. Então você está pulando de galho em galho e acaba tendo uma carteira com um monte de coisa que você não sabe nem o que está por trás. Alguns desses ativos são um verdadeiras caixas pretas e no fim, você não sabe o que fazer em determinado momento.
O bom do investidor de bolsa vai ser sempre um investidor de boas empresas e sabe o que fazer. Então, com tranquilidade, com o fluxo de renda constante, caindo na conta que eu acho que é o mais interessante. E avaliando empresas da economia real, independentemente do cenário macro, a gente tende a se deixar contaminar eventualmente por notícias macro.