Louise Barsi: ‘Comprou uma ação porque amigo indicou? Precisa fazer o dever de casa antes’
A economista reflete sobre sua trajetória e fala de negócios, finanças e investimentos
Louise Barsi não é apenas a filha de Luiz Barsi, um dos maiores investidores da bolsa de valores brasileira.
Ela começou a investir na Bolsa aos 14 anos, estudou economia e contabilidade, é analista CNPI, conselheira fiscal de empresas e fundadora da Ações Garantem o Futuro (AGF), plataforma de investimentos focada na construção de renda passiva.
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Ou seja, há muito tempo Louise se prepara para continuar a espalhar o legado de seu pai, caracterizado pelo investimento de longo prazo em ações. A tese de investimentos tem como foco central gerar renda a partir dos dividendos distribuídos por esses papéis ao longo do tempo.
Esta trajetória fez Louise ser recentemente incluída na lista Forbes Under 30, ranking da renomada revista americana que destaca empreendedores de até 30 anos que estão revolucionando os negócios.
Confira abaixo a entrevista com ela.
É determinante ver in loco como é que a empresa funciona?
Ou com base em dados e relatórios dá para ter uma boa referência?
Conhecer a empresa pode significar visita-la presencialmente. Me marcou visitar a fábrica da Klabin porque eu já tinha idade para entrar e ver o processo produtivo, pois existem algumas regras de segurança. Eu devia ter 16 anos, e foi muito mágico.
De fato, as empresas eram muito mais fechadas. Mas hoje está muito mais fácil fazer isso do que era há 20, dez anos atrás. E essa é uma consequência natural de ter mais pessoas físicas em suas bases acionárias.
Mesmo que não seja possível que todas essas pessoas visitem a planta fisicamente várias empresas têm, por exemplo, um canal no YouTube. A própria Klabin, por exemplo, ao construir o Puma (projeto industrial para expandir sua capacidade industrial) divulgou vários vídeos sobre o passo a passo da construção.
Há uma visibilidade e transparência caso o investidor queira conhecer o processo produtivo. Portanto, existem hoje meios de conhecer a empresa sem necessariamente estar lá fisicamente, principalmente através do site de relações com investidores.
O retorno dos eventos presenciais após a pandemia também é uma excelente oportunidade para isso, nos quais você tem a chance de fazer perguntas diretamente para os gestores da empresa. Essas questões podem ser básicas, mas são providenciais para você investir em uma empresa.
Afinal, se você quer investir no longo prazo, você precisa investigar se quer ser sócio da companhia por muito tempo.
O mercado já se desenvolveu muito neste sentido?
É um desafio para as áreas de relações com investidores entender como democratizar essas informações sobre as companhias. Mas hoje eu digo que é possível, sim, você conhecer uma empresa mais profundamente, mesmo que não faça isso in loco.
Mas se você quiser ir até a fábrica, uma gama grande de empresas te permite isso. Existem programas nos quais você agenda uma visita e acompanha o processo produtivo. Quem tiver a oportunidade, se interessar e quiser se aprofundar, acho algo muito válido.
Lembrando que não existem apenas ações de empresas industriais listadas na bolsa. Se você investe na Renner, vai à loja e investiga o que ela vende, conversa com clientes.
Se você comprasse uma participação na padaria, você não iria frequentar esse comércio por alguns dias e conversar com clientes e fornecedores? Você precisa ter essa mesma diligência com os seus investimentos. Afinal, você vai ser sócio dessa empresa.
Por onde começar a estudar uma empresa para analisar o seu valor?
A análise deve começar pelos fatores qualitativos. Se você olha o balanço e não sabe o que a empresa vende, para quem, quais matérias primas ela usa e quais variáveis podem impactar o balanço financeiro do negócio, serão apenas números.
A contabilidade te conta uma história, mas antes você precisa fazer o mais importante de tudo: a lição de casa.
Eu sempre digo que alguém tem uma boa carteira se consegue descrever em um parágrafo o que todas as empresas da sua carteira fazem, vendem e produzem.
A maioria das pessoas não consegue descrever isso porque ou comprou a ação por indicação, porque ouviu fulano dizer: eu ganhei tanto! Ou: se não estou ali, não estou na moda.
Durante a faculdade eu ouvia esse papo “eu tô nisso, tô naquilo”. Na época não existiam criptomoedas, mas até pouco tempo atrás era essa a febre. Eu sentava no barzinho da faculdade e falava: e aí pessoal, vocês estão pensando no futuro?
Puta papo chato, né? O cara quer ouvir: amanhã tal ação vai subir 20% ou 10%. Mas precisamos trazer as pessoas para a realidade, mostrar que não é bem assim.
Você precisa conhecer bem a empresa para saber se tem estômago para comprar a ação quando, por exemplo, ela cair 50%. Não interessa se você sabe que vale 100 e tá a R$ 1. Na hora é difícil comprar: você vai vender, pois é o seu psicológico falando mais alto.
Por isso é necessário conhecer a empresa: para quando a ação cair você ter o conforto em deitar a cabeça no travesseiro à noite sabendo que fez um bom negócio de longo prazo. Essa é a melhor métrica.