‘Nem penso mais na poupança’: o que diz quem largou a caderneta em busca de rentabilidade

Foi na faculdade que Kaillany Garcetes começou a questionar se fazia sentido o dinheiro que ela tinha guardado estar na caderneta de poupança. A estudante passou a fazer parte da liga de finanças e investimentos da Universidade Federal da Grandes Dourados (UFGD), onde estuda medicina, e isso abriu seus olhos.
Ligas são os nomes para grupos temáticos que reúnem estudantes para discutir um determinado assunto. “Comecei a entender melhor e confiar que existem produtos seguros além da poupança”, conta à Inteligência Financeira.
Ela diz que achou difícil entender as outras possibilidades no começo e que decidiu recorrer a uma amiga assessora de investimentos. A estratégia adotada foi primeiro formar uma reserva de emergência. CDB, títulos do Tesouro Direto e fundos de perfil conservador foram então escolhidos.
Ela diz que está satisfeita com a decisão de deixar a poupança e agora pretende tomar mais riscos. “Quero terminar minha reserva de emergência para tentar migrar para um perfil moderado, quero iniciar no mundo das ações”, diz Kaillany.
“Nem penso mais na poupança”.
A busca por maior rentabilidade
A Inteligência Financeira ouviu quatro investidores, de diferentes perfis, que optaram por deixar a poupança em busca de investimentos mais rentáveis. Eles representam um movimento espelhado nos dados. Desde 2021, a caderneta de poupança emenda quatro anos seguidos de retirada de recursos.
Nos primeiros dois meses deste ano, a poupança acumula retirada de R$ 34,2 bilhões. Isso é mais do que o acumulado de janeiro e fevereiro de 2024, quando os brasileiros retiraram R$ 23,9 bilhões a mais do que investiram na caderneta.
Como funciona o cálculo de rendimento da poupança |
A regra do retorno financeiro da caderneta de poupança funciona assim: quando a Selic está acima de 8,5% a.a., a poupança rende 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR), que varia diariamente. Já quando a Selic está abaixo de 8,5%, a caderneta rende 70% da taxa de juros mais a TR. |
Entre os motivos para a migração, os investidores citam o aumento de informações sobre educação financeira e investimentos nos últimos anos, especialmente nas redes sociais. De acordo com os relatos, as conversas provocaram a inquietação de que o dinheiro que possuem poderia render mais.
“Sempre que eu estava em cirurgia ou consultório os pacientes e os médicos comentavam sobre investimentos”, conta Elismane Lucas, fisioterapeuta e instrumentadora cirúrgica. “Eu ficava curiosa com aquilo e lia algumas coisas, pensando que queria fazer render mais meu dinheiro”, relembra.
Fora da poupança, mas ainda no perfil conservador
Elismane conta à Inteligência Financeira que, apesar de deixar a poupança, entendeu que seu perfil de investidora continuava a ser conservador. “Invisto em CDB, LCA e LCI. Cheguei a comprar algumas ações, mas não gosto muito. Sou do estilo mais conservadora”, diz a fisioterapeuta.
Vivian Reis Hueb, formada em gestão financeira, é outra investidora que saiu da poupança mirando diversificar sem perder a característica conservadora. “Achei a migração (para fora da poupança) fácil dentro do perfil conservador”, conta.
Os investimentos preferidos da investidora também são os títulos bancários. “Minha prioridade sempre será CDB. Mais seguro, conservador”.
Contudo, ambas cogitam colocar o pé em outras frentes. Elismane afirma que pretende estudar mais sobre fundos imobiliários, enquanto Vivian se interessa por opções.
Nem tudo são flores: quando o risco maior vira perda
Para o administrador Lucas Fernandes, a experiência de sair da poupança teve momentos ruins. Ao mudar seu perfil de investidor, Fernandes optou por uma carteira que continha aplicações de maior risco. No ano seguinte, veio a pandemia da covid-19 e ele viu seus ativos se desvalorizarem.
“Investi em algumas aplicações de alto risco e com isso, meu objetivo buscando mais rendimento foi por água abaixo, considerando que a rentabilidade das minhas aplicações ficou abaixo da poupança”, conta.
Na carteira, o administrador possui, além da renda fixa tradicional, ativos como debêntures, ações no Brasil e nos Estados Unidos, criptomoedas e cotas de fundos multimercado.
Para Lucas, a maior dificuldade de ter uma carteira tão diversificada foi a falta de tempo para movimentar os ativos quando necessário.
“No geral fiquei satisfeito (com os investimentos), mas é uma faca de dois gumes, principalmente para quem não tem experiência e não consegue acompanhar o mercado financeiro diariamente”, diz.
Voltar para a poupança?
Dos quatro investidores ouvidos pela reportagem, o administrador é o único que cogita voltar a aplicar na caderneta de poupança.
“Meu plano é retomar aos poucos, conforme os vencimentos das aplicações (anteriores), por conta de um mercado instável, ao qual não consigo acompanhar e fazer as mudanças no devido tempo”.
Para a estudante Kaillany Garcetes, a poupança está fora de cogitação. “Meu dinheiro vai direto para a área de investimentos do meu banco”, diz ela, que espera mudar do perfil conservador para moderado em breve.
Elismane Lucas, por sua vez, diz que “poupança jamais” e que a sua prioridade agora é investir na renda fixa, em títulos que acompanhem a taxa Selic em alta. Vivian Hueb também descarta voltar para a poupança três anos após sair. Ela quer mesmo é se manter no CDB.
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