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Inteligência artificial pode tomar suas decisões financeiras?
No mundo dos investimentos, a inteligência artificial (IA) generativa começa a tomar forma. Já há gestoras usando IA na tomada de decisões, principalmente sobre investimentos em ações.
O uso de ferramentas para aprimorar a análise de investimentos sempre fez parte do trabalho dos gestores.
Acontece que agora existe uma ferramenta cuja potencialidade ainda está em estudo e sua atuação no mercado carece de regulação, segundo especialistas.
Sem limites para o uso de inteligência artificial nos investimentos
As gestoras seguem as regras vigentes no mercado financeiro e não há nenhuma obrigação sobre os limites do uso de IA, somente um guia com orientações da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou que acompanha o avanço das novas tecnologias e, quando necessário, toma as medidas para garantir a segurança e a transparência no mercado financeiro. “Reforçamos a importância de o investidor, antes da tomada de decisão de investimento, verificar a veracidade de todas as informações recebidas. E, sempre que necessário, o investidor deve utilizar o Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) da CVM para esclarecimento de dúvidas e demais orientações. Por fim, a Autarquia destaca, ainda, que está permanentemente modernizando a regulamentação e supervisão, em função de fatores diversos, tais como estruturas inovadoras, experiência da supervisão, demandas de agentes de mercado, entre outros.”
IA pode decidir minhas finanças por mim?
Não é recomendado deixar tudo na mão da inteligência artificial.
Para a professora Myrian Lund, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o uso de IA na tomada de decisões em investimentos pode ser interessante quando cruzada com outras informações que atestem a veracidade do resultado trazido pela ferramenta.
Depois de fazer sua análise com a ajuda da IA, a professora sugere comparar o resultado com as recomendações de sua corretora e assessores de investimentos.
“Eu preciso, de um jeito ou de outro, confirmar dados que me deem maior segurança para investir a partir daquilo que a IA me traz. Perguntas ruins podem trazer respostas ruins. Por isso, eu teria que confrontar com uma base mais focada [como consultar o assessor da corretora]”, afirma.
Desafios na relação da inteligência artificial com os investidores
Lund ressalta que um dos principais desafios na relação da IA com os investidores começa muito antes da geração de respostas. “A IA é extremamente interessante e usá-la como complemento na tomada de decisões é legal. [Mas] a resposta não vem pronta. O que existe é a facilidade de buscar dados. A IA vai me trazer informações. O que é mais difícil de fazer com IA? São as perguntas que você vai fazer para ela.”
A professora explica que o investidor pode usar o recurso da IA para garimpar informações sobre as empresas antes de um investimento. “A perspectiva da empresa, o que se espera, o que analistas veem, quais são os pontos fortes e fracos, o que devo prestar atenção na empresa. Isso tudo é atualizado pelos analistas a cada três meses, quando saem as informações trimestrais. Então, usar IA para buscar informações e ajudar a subsidiar minha tomada de decisão é fantástico, porque vou encontrar um volume de dados que me permite sintetizar o que está acontecendo.”
Como a inteligência artificial ajuda as decisões financeiras?
A Constância Investimentos, gestora que usa a ferramenta na gestão de fundos quantitativos, defende que a IA pode trazer informações sobre relações entre diversas variáveis que podem influenciar no preço de uma ação. Mas não é ela, a ferramenta em si, quem toma as decisões finais, e sim os gestores humanos.
“A IA só dá os pesos adequados. Quando tenho uma carteira com mais de 100 ações, todas com peso relativamente pequeno e aquela com maior peso tem entre 3,5% a 4% do portfólio, eu consigo explicar o motivo desse peso. Porque tem uma centena de variáveis que influenciam o preço da ação. Tem o momento de preço, o preço dividido pelo lucro, o retorno sobre capital investido, quanto a ação paga de dividendo. Então, eu consigo mostrar que essas variáveis estão a favor daquela ação. A questão do peso para cada variável, dessas características que a ação carrega, é o que a IA determina pelo banco de dados”, destaca Rogério Oliveira, diretor de investimentos da Constância.
Dar 100% de peso a uma única variável (como o momento do preço) é o que investidores pessoa física costumam fazer, segundo ele.
Já a IA não olha só para uma variável e nem dá um peso máximo pra nenhuma delas. Pelo contrário, a IA distribui o peso de cada variável dentro da carteira, com base no histórico de 25 anos de 1.500 ações.
O erro do investidor
O erro do investidor costuma ser no peso dado a cada uma dessas variáveis, segundo Oliveira.
“Entre as variáveis que podem influenciar a performance de uma ação, tem uma que é importante, que é o momento de preço. Uma ação que está subindo tende a continuar subindo. Isso não é prerrogativa do Brasil, acontece em quase todos os mercados do mundo. O investidor pessoa física tende a dar peso demais a esse fator e à performance de curto prazo, de dois a três meses”, diz.
Segundo ele, dar a devida importância para essas duas variáveis leva a uma decisão mais inteligente.
Regulação da inteligência artificial nos investimentos
O cenário da regulação em IA nos investimentos, contudo, ainda segue em discussão. Os efeitos esperados de uma eventual regulação podem ser positivos, segundo Lund. “Eu não acho que a regulação seja ruim. O que temos hoje é um excesso de informação, o que acaba atrapalhando. Isso pode trazer mais atenção à fonte de informação e à forma como se buscou isso.”
Para Oliveira, uma possível regulação não traria impactos diretos e seria bem vista no mercado financeiro.
“A regulação pode eventualmente ser instalada e benéfica ao mercado, mas ao nível de execuções intraday, de day trade. As nossas execuções são de médio e longo prazo”, diz.
Segundo ele, sem uma regulação para as operações de curto prazo, diferentes IAs podem “tomar uma mesma direção e forçar um crash de mercado por conta de uma demanda ou oferta muito concentrada, por conta dos mesmos modelos estarem apontando para aquela ação.”
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