Exclusivo: buscas por investimentos dobram; Google revela as dúvidas mais procuradas
Lista tem10 perguntas sobre investimentos feitas nos últimos 12 meses
As buscas pela palavra “investimento” no Brasil dobraram nos últimos cinco anos, de acordo com levantamento exclusivo do Google Trends para a Inteligência Financeira. O resultado listou também as 10 perguntas mais feitas nos últimos 12 meses no mecanismo de busca do Google, o confessionário da internet. São questionamentos que vão de “o que é investimento” até perguntas sobre como entrar no mundo das criptomoedas.
O levantamento compara as buscas feitas nesse período com os 5 anos anteriores. Seguindo esse critério, para efeito de comparação, no mundo como um todo esse aumento foi de apenas 40% no mesmo espaço de tempo.
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Para Martin Iglesias, especialista líder em investimentos e alocação de ativos do Itaú Unibanco, isso reflete também o fato de que o brasileiro chegou um pouco atrasado nessa festa. “Nós estávamos um pouco atrasados. A gente começando agora é natural ter esse processo um pouco mais acelerado nesse nosso momento como coletividade”, avalia.
Iglesias atribui esse salto a dois fatores. Um é o reflexo das ações em prol de educação financeira promovidas por instituições e comunicadores nos últimos anos. E o outro, avalia, está relacionado com o impacto da Covid-19.
“A pandemia fez com que muitas pessoas percebessem a importância de ter uma reserva financeira porque tiveram uma redução das suas entradas. Muitas pessoas passaram por dificuldades e se atentaram para a necessidade de se planejar financeiramente”, avalia.
Brasileiros querem saber como começar a investir
Das 10 perguntas mais feitas sobre investimentos ao Google nos últimos 12 meses, 4 representam o interesse de quem está começando agora, 5 questionam sobre produtos específicos e uma visa comparar instituições financeiras.
A pergunta campeã, por exemplo, foi sobre “como investir no Tesouro Direto“. Para Martin Iglesias, isso reflete o ganho de importância dos títulos públicos como alternativa em um país que ainda tem a poupança como campeã.
“Do lado de quem aplica, os títulos, especialmente o Tesouro Selic, tem uma dinâmica de conservadorismo e de liquidez que são comparadas com a da poupança”, explica Iglesias, que sente essa demanda crescente no mercado. “Os investidores perguntam muito o que tem parecido com a poupança que renda um pouco mais. Essa pergunta tem aparecido bastante e o Tesouro Direto é uma dessas possibilidades”, explica.
Apesar de ter ficado de fora do top 10 do último ano no Google, a poupança tem força no longo prazo. Nos últimos 5 anos, a caderneta reuniu o triplo do interesse que o dos títulos públicos. Ana Lupi, diretora da PwC Brasil, cita dados da Anbima para justificar o movimento. “Na hora de escolher o tipo de produto que irá compor a carteira, o principal motivo citado pelos brasileiros é a segurança”, diz.
Entre os demais produtos citados nominalmente, aparecem ativos com rentabilidades mais elevadas em períodos recentes ou ativos citados com frequência por influenciadores digitais, como as criptomoedas.
Por outro lado, Paulo Zuffo, professor da FGV e sócio de um fundo de investimento, diz que é preciso cuidado nessas dicas. “O Brasil está batendo recordes de inadimplência. Isso somado aos estímulos das redes sociais, onde as pessoas só contam o que deu certo, estimula as pessoas a buscarem soluções mais mágicas”, comenta.
O que os brasileiros procuram sobre investimentos no Google
Vamos à lista das 10 perguntas mais feitas no Google sobre investimentos nos últimos 12 meses. Os dados foram extraídos de um levantamento do Google Trends para a Inteligência Financeira. Abaixo, especialistas respondem e analisam os principais questionamentos.
- Como investir no Tesouro Direto?
- Como investir dinheiro?
- Como investir em fundos imobiliários?
- Como investir na Bolsa de Valores?
- Qual o melhor investimento hoje?
- Como investir no Tesouro Selic?
- Como começar a investir?
- Como investir em criptomoedas?
- O que é investimento?
- Qual é o melhor banco para investir?
Afinal, o que é investimento e como começar a investir?
De acordo com Ana Lupi, da PwC, “pelo conceito, o investimento em si é reconhecido por meio de uma aplicação em recursos financeiros que produzem rendimentos futuros”. “O investimento é algo fundamental para alcançar suas metas em curto, médio ou longo prazo”, prossegue.
De acordo com Martin Iglesias, do Itaú, a primeira coisa para começar a investir é se planejar financeiramente. “O ponto inicial é ter um superávit, conseguir ganhar mais dinheiro do que você gasta. Do contrário, você vai guardar e precisar usar na sequência. A primeira coisa é fazer sobrar dinheiro.”
O passo seguinte, explicam os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira, é se cadastrar em uma instituição financeira habilitada e identificar o seu perfil de investidor. Como resultado, serão oferecidos a você produtos de acordo com o seu momento de vida, objetivos e tolerância a riscos.
“Se você assume mais riscos do que seu perfil aguenta muito provavelmente você vai sofrer, muito provavelmente você vai se desfazer dos seus invesimentos em um momento desfavorável. Portanto, vai acabar não tendo nem a rentabilidade dos ativos conservadores, muitas vezes sofrendo perdas”, avalia Iglesias.
Qual o melhor investimento hoje?
O consenso entre os profissionais ouvidos pela reportagem é que não há “o melhor investimento”. O que há, no entanto, é o ativo mais adequado ao objetivo de cada pessoa.
“O melhor investimento para mim pode ser o pior para você. Acredito que a força disso vem muito da internet, dos vídeos em que as pessoas afirmam que esse ou aquele é o melhor investimento”, opina Amanda Notini, sócia da One Investimentos.
“Não há uma fórmula mágica. Eu uso um sapato social para um casamento e um tênis para corrida, uma chave de venda para parafusar e um martelo para martelar. Um investimento precisa estar dentro do seu objetivo”, complementa Paulo Zuffo, da FGV.
Fundos imobiliários, bolsa de valores e criptomoedas
Para os especialistas, a busca por produtos específicos reflete ativos que tiveram boas rentabilidades recentemente. Portanto, exerce peso aqui o fenômeno conhecido como “fear of missing out”, ou FOMO, que em português significa o medo de ficar fora de algo.
“Sempre falamos que rentabilidade passada não é garantia de futuro. Mas essa rentabilidade atrai o efeito manada, o fear of missing out. As pessoas procuram isso. E assim, tem influenciadores muito qualificados, mas têm outros que de fato aproveitam essa busca para amplificar movimentos de mercado”, diz Martin Iglesias.
É o caso, avalia, das criptomoedas. “Tivemos uma fase ruim, o pessoal falou em inverno cripto, mas os últimos 12 meses foram muito positivos. O interesse por investimentos, sejam qual forem, aumentam com rentabilidade histórica melhor. Acontece com a Bolsa, acontece com o dólar. E aqui nas criptomoedas tem um quê de novidade que fortalece ainda mais”, afirma.
Para Amanda Notini, a popularidade dos fundos imobiliários reflete uma característica do brasileiro, que por definição tem a aplicação em imóveis como algo próximo.
“Fundo imobiliário é uma forma que as pessoas entenderam que elas podem ter uma renda mensal. O brasileiro é muito apegado a ter algo físico. O fundo imobiliário tem uma liquidez muito maior, que você pode resgatar de forma muito mais simples do que é vender um imóvel”, avalia.
A sócia da One Investimentos avalia ainda que a por entrar na bolsa de valores nesse momento reflita o bom momento do Ibovespa, que acumula uma alta de 18% nos últimos 12 meses. “Sempre que nós temos um momento bom da bolsa, você tem um movimento acelerado de buscas muito por esse medo de ficar de fora.”