Nova regra da CVM acende alerta para fundos de investimento de gestoras menores
Gestoras de recursos de terceiros de menor porte terão mais dificuldade para sobreviver após novas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Essa é a mensagem de um relatório desta quinta-feira (20) da agência de classificação de risco Fitch.
O estudo tem como referência a entrada em vigor da resolução 175, que atualiza a regulamentação de fundos no Brasil.
A resolução entrou em vigor em outubro de 2023 para novos fundos. Para fundos previamente existentes foi definido um prazo de adequação até junho próximo.
Entre outras mudanças, o texto passa a exigir que os gestores de fundos informem os clientes sobre quanto pagam de comissão para assessores de investimento.
Além disso, as gestoras agora são responsáveis legais pelas decisões de investimento. Antes, isso não tinha uma previsão clara.
Por fim, a gestão também fica responsável pelo enquadramento dos limites dos fundos e pela contratação das distribuidoras, assumindo parte das atribuições que antes eram das administradoras.
Esse acréscimo de obrigações na prática encarece o trabalho dos gestores. Segundo a Fitch, as maiores conseguirão se adaptar sem dificuldades.
Para quem tem menos recursos sob gestão, o cenário é mais complicado. Isso, sem contar o atual ambiente macroeconômico, com juros altos, resgates de fundos e redução de receitas, o que prejudica a capacidade de investimento em equipes e sistemas.
Linha divisória de R$ 1 bi das gestoras de fundos de investimento
A Fitch não traçou uma fronteira numérica entre o que considera grande e pequena.
Mas, para ilustrar sua análise, mencionou um levantamento mostrando que, no fim de 2024, havia 1.013 gestoras no país.
Deste universo, 66% tinham menos de R$ 1 bilhão em ativos sob gestão.
Em janeiro, a Fitch fez uma pesquisa com esse público e detectou uma grande disparidade em relação à quantidade de fundos já adaptados às novas regras da CVM.
Enquanto algumas gestoras já enquadraram 90% dos fundos à nova regulação, em outras esse percentual está em 10%.
Nesse sentido, as assets mencionaram que suas maiores dificuldades são revisar os regulamentos dos fundos, além de contratar prestadores de serviços que antes eram de responsabilidade das administradoras.
As maiores do mercado, que já tinham controles próprios, estão mais adiantadas nesse processo.
Outras alteraram acordo operacional que tinham com as administradoras para que estas mantivessem tais controles.
“A maioria das gestoras de pequeno porte, por exemplo, monitora o enquadramento dos fundos por planilhas em Excel, já que têm baixa capacidade de investimento em sistemas”, ilustrou a Fitch.
De qualquer modo, as gestoras terão que arcar com custos adicionais.
Em tese, isso poderia resultar na transferência dessas despesas para os cotistas, na forma de taxas de administração mais altas.
Outro caminho seria utilizam diferentes classes de cotas em seus fundos, inclusive por falta de processos operacionais das administradoras.
“A maioria espera adotar esta possibilidade para reduzir o número de fundos e melhorar sua eficiência operacional”, concluiu a Fitch.