Fiagros entregam o que prometem no primeiro ano após estreia; retorno chega a 30%

Fiagros de 'papel' investem em títulos de crédito, como os CRAs, CRIs e as LCAs

Fiagro: alta de juros impulsiona modalidade que investe em certificados de recebíveis do agronegócio (CRA). - Ilustração: Renata Miwa
Fiagro: alta de juros impulsiona modalidade que investe em certificados de recebíveis do agronegócio (CRA). - Ilustração: Renata Miwa

Os Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro) recém chegaram ao mercado de capitais e já caíram no gosto dos investidores.

Embalada pela guinada dos juros, título registrou um crescimento de 544% no patrimônio líquido desde a sua chegada, em outubro de 2021, até o fim do ano passado.

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Em pouco mais de um ano, o saldo acumulado passou de R$ 1,6 bilhão para R$ 10,3 bilhões.

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Por que o Fiagro cresce?

E a espiral crescente dessa indústria parece ser um caminho sem volta, visto que a demanda do agronegócio por crédito para financiar a produção só vem aumentando ao longo dos anos.

Para se ter uma ideia, no ano passado, o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) ficou em R$ 1,189 trilhão, enquanto o montante concedido em crédito público, por meio do Plano Safra, aos produtores rurais foi de apenas R$ 340 bilhões.

“Em 2020, o agro teve necessidade de crédito na ordem de R$ 600 bilhões, enquanto o Plano Safra concedeu R$ 200 bilhões. No ano passado, o valor bruto da produção alcançou mais de R$ 1 trilhão e o crédito concedido pelo Plano Safra mal passou de R$ 300 bilhões. Ou seja, a necessidade de financiamento não público saltou de R$ 400 bilhões para mais de R$ 700 bilhões em menos de dois anos”, afirma Bruno Santana, presidente da Kijani.

Menos dinheiro público

Com o crescimento do agronegócio brasileiro nos últimos anos, os recursos públicos, que até então eram o principal veículo de financiamento do setor, deixaram de ser suficientes.

Tal cenário, por outro lado, abriu uma janela de oportunidades para o desenvolvimento da cobertura agro dentro do mercado de capitais.

Octaciano Neto, diretor de agronegócio na Suno, defende que, pela ótica dos tomadores de crédito, existe um grande potencial de os produtores rurais aderirem ao mercado como uma alternativa para o financiamento.

Normalmente, eles recorrem aos já conhecidos gerentes de bancos ou, então, à operação de barter, que funciona como um mecanismo de escambo entre a indústria e o produtor rural e é uma prática muito comum no campo.

Neste caso, a indústria entrega o insumo agrícola ao produtor em troca da produção futura.

“É importante a indústria do agronegócio entender que o acesso ao mercado de capitais pode ser uma ótima alternativa de financiamento de longo prazo, enquanto o banco tradicional pode funcionar como uma boa ferramenta de crédito de curto prazo”, explica.

Qual é a tendência para o Fiagro?

Sob a ótica do mercado, Neto enxerga uma conjuntura bastante favorável para os Fiagros devido não só à falta de crédito público para financiar toda a cadeia, mas à importante participação do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de mais de 20%.

Pelo lado do investidor, o diretor da Suno destaca que o cenário de alta da taxa de juros beneficia diretamente a rentabilidade da classe, uma vez que a maioria dos fundos é indexada ao CDI.

Outro ponto positivo para os Fiagros diz respeito à estrutura parecida com a dos fundos imobiliários, ativos que existem há mais de 20 anos e conquistaram os brasileiros. “Os Fiagros estão crescendo na avenida pavimentada pelos fundos imobiliários”, afirma Neto.

Quem investe em Fiagro?

Conforme explica Santana, da Kijani, o aumento da representatividade do agronegócio no país tem despertado o interesse de muitas pessoas que buscam formas de surfar essa onda.

E, seguindo a mesma linha dos fundos imobiliários de tijolo, como custa caro comprar e manter uma fazenda, os Fiagros passam a ser uma alternativa mais viável para o investidor de varejo aproveitar a evolução do setor. “Entendo que uma estratégia vencedora do mercado é aproximar o Fiagro do fundo imobiliário”, diz.

Não à toa, foi neste cenário que o investimento viu o número de investidores saltar de 30,7 mil, em janeiro do ano passado, para 170 mil em dezembro.

E, ao que tudo indica, todos os fatores que contribuíram para a evolução dos Fiagros em 2022 continuam postos à mesa neste ano, dentro de um contexto de maior amadurecimento e expansão da categoria no mercado de capitais.

Em paralelo, os gestores desses fundos estão entregando o que prometem e sem ter problemas do ponto de vista de crédito.

A rentabilidade dos Fiagros

Um levantamento feito pela Quantum Finance para o Valor Investe mostra que, entre os Fiagros listados em bolsa com melhor desempenho, teve fundo que entregou retorno de nada menos que 30% só no ano passado. Os outros destaques ficaram um pouco mais atrás, mas tiveram rentabilidade robusta na casa dos 20% e 10%.

Como a categoria ainda é nova, com menos de dois anos de existência no mercado, muitos fundos ficaram disponíveis para investimentos ao longo de 2022 e, por isso, não apareceram na lista acima.

Para capturar uma fotografia mais recente, o levantamento também considerou apenas o segundo semestre do ano passado, com novos fundos já disponíveis na bolsa. Neste recorte, o retorno dos Fiagros presentes no ranking chegou a 10%.

Os Fiagros mais procurados

De forma geral, a grande maioria dos Fiagros hoje é do tipo Fiagro-FII, que investe em imóveis rurais e títulos de crédito, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).

Esses ativos são emitidos por produtores rurais ou empresas da cadeia do agronegócio para financiar a estrutura de capital.

Os fundos que investem em títulos de crédito do setor do agronegócio se assemelham aos fundos imobiliários de “papel”, que são focados em CRIs indexados ao CDI ou ao IPCA.

Com a escalada da inflação e da taxa de juros, que chacoalhou o mercado de renda variável, esses fundos acabaram ganhando mais espaço nas carteiras dos investidores no último ano.

Vale lembrar que o sucesso da estreia dos Fiagros-FII alavancou as emissões de CRAs no mercado de capitais, assim como os fundos imobiliários impulsionaram os CRIs em 2022.

Em números divulgados pela Anbima, os CRAs e CRIs captaram, juntos, R$ 91,1 bilhões no ano passado, volume recorde da série histórica.

Olhando pra frente

Uma vez que a perspectiva para 2023 é de pouca mudança no aspecto de política monetária, os fundos de “papel” atrelados ao CDI e ao IPCA devem continuar se beneficiando da inflação e da taxa Selic em patamares elevados.

Do ponto de vista do agronegócio, embora os Fiagros pertençam à classe de renda variável, esses fundos podem funcionar como uma estratégia mais defensiva na carteira, já que o setor é responsável pela produção em larga escala de insumos básicos e essenciais para a sociedade, como os alimentos.

“O agronegócio brasileiro produz três produtos: alimento, energia (álcool) e fibra (algodão e celulose). Em um contexto de crise no Brasil ou no mundo, o impacto tende a ser maior sobre os setores de energia e fibra. No caso da produção de alimentos, que é a maior do país, a demanda é elástica”, pontua Neto.

Ele explica que, em eventuais cenários de crise, é possível fazer uma substituição de fontes de proteínas, por exemplo, e trocar a carne pelo suíno. Isso pode impactar um pouco mais uma indústria ou outra, mas o produtor também consegue manejar a sua produção rural. “O futuro do setor já está contratado no Brasil por causa da demanda por alimento”, conclui o diretor de agronegócio da Suno.

Maior risco: o clima

Um ponto de atenção diz respeito às condições climáticas, que podem ser um risco direto para o setor. Mas, pelo fato de o Brasil ser um país continental, os problemas de chuva e seca podem ocorrer em regiões diferentes e em épocas também diferentes.

Além disso, como a área destinada à agricultura é muito grande, a seca pode impactar negativamente algumas regiões, mas também pode beneficiar outras, pois tem atuações opostas nos territórios agrícolas espalhados pelo país.

Pelo lado do investidor de Fiagro, uma forma de tentar mitigar esses riscos é diversificar o portfólio com diferentes fundos para não ficar excessivamente posicionado em uma região ou cultura específicas.

No caso dos Fiagros de “papel”, é possível descobrir a diversificação geográfica e de cultura por meio dos relatórios gerenciais dos fundos, além de outras características técnicas sobre os títulos (CRA, LCA ou CRI) que fazem parte da carteira.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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