Falta de carne nos EUA pode beneficiar exportações brasileiras: é hora de investir no setor?

A tendência é que a exportação de carne bovina brasileira siga crescendo

A produção de carnes nos Estados Unidos teve uma queda, mais especificamente envolvendo o rebanho de bois. Tanto que os dados do Departamento de Agricultura dos EUA pontuam que nos primeiros três meses desse ano o tamanho do rebanho caiu 2% em comparação ao mesmo período de 2023.

“Essa queda está associada à redução da quantidade de rebanhos. A causa inicial é o tempo seco. E consequentemente a diminuição de pastagens, principalmente na região oeste do país. Com a contração das áreas apropriadas naturalmente, subiram os custos de criação com impacto sobre a oferta de cabeças”, explica Claudio Felisoni de Angelo, presidente do IBEVAR (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo) e professor da FIA Business School.

Portanto, de acordo com Hugo Baeta, analista de renda variável da AF Invest, nesse momento, com a escassez de boi, o preço ficou mais caro. “E aí, está acontecendo um efeito inverso nos frigoríficos, que estão comprando menos boi, e claro, pagando um preço maior. Por isso, as margens estão sendo afetadas lá”, pontua.

Bom momento para o Brasil

Diante disso, e como os Estados Unidos são um dos principais destinos de exportação da carne brasileira, representando 10% do total de proteínas animais mandadas para fora do país, esse pode ser um bom momento para o Brasil.

“Afinal, enquanto a produção de carne recua muito, o preço sobe, pois tem menos rebanho. Então, com pouca carne e a economia norte-americana resiliente, isso consequentemente traz oportunidades para o Brasil”, afirma Cesar Castro Alves, gerente da consultoria agro do Itaú BBA.

A tendência, portanto, é que a exportação de carne bovina brasileira siga crescendo. “Nós exportávamos para os Estados Unidos 38 mil toneladas de carne bovina em 2019. Subimos para 59 mil toneladas na pandemia, em 2020. E aí, em 2021, aumentamos a exportação para 138 mil toneladas.

Ou seja, nós mais do que dobramos a exportação de carne bovina brasileira para os EUA. Por isso, acredito que esse ano também vamos crescer”, comenta Antônio da Luz, economista da Ecoagro.

Exportação de carne bovina brasileira: é hora de investir no setor?

E com todo esse cenário favorável, a dúvida que fica é se o momento também pode ser propício para investir no setor de proteína animal.

“Eu acredito que sim, não só pelo o que está acontecendo nos Estados Unidos, mas pela ampliação da demanda de proteína, sobretudo carne bovina, na Ásia. Esse é um fator superimportante. Inclusive, a China deve habilitar mais frigoríficos brasileiros e está havendo um trabalho nesse sentido das entidades e do governo. Então, isso abre uma perspectiva, e claro, oportunidades para se investir nesse setor”, acredita Antônio da Luz.

Por outro lado, Claudio Felisoni de Angelo tem um olhar mais cauteloso. Isso porque, de acordo com o professor, existem algumas dúvidas sobre a inflação brasileira.

“O IPCA de fevereiro marcou 0,83%. Isto representa uma taxa anualizada de pouco mais de 10,4% a.a. É preciso ver como se comportarão as taxas nos próximos meses. Isso porque, inflação mais alta comprime a renda das famílias e eleva os custos de produção. Os dois movimentos desestimulam a demanda, particularmente de itens de maior valor, como é o caso da carne. Portanto, em que pese o aspecto positivo assinalado pela oportunidade ensejada pelo mercado americano, é temerário indicar o setor de proteínas como ótimo para investir”, esclarece.

Em qual empresa investir?

Entre os especialistas, um ponto é unânime: a JBS (JBSS3) aparece como uma companhia para investir.

“Essa escolha se dá por uma combinação de valution atrativo e o preço da companhia que atualmente está relativamente baixo”, argumenta Gustavo Troyano, analista de alimentos e bebidas do Itaú BBA.

Entretanto, Troyano argumenta que a JBS (JBSS3) passa hoje por um momento difícil de boi, exatamente nos EUA. Mas, ainda assim, a escolha pela empresa se dá pela diversificação.

“Quando a JBS (JBSS3) listou na bolsa, a exposição era muito concentrada em bois. Com o passar dos anos isso se diversificou, o que permite que minimize os efeitos dos ciclos. Por isso a gente vê a companhia como uma vantagem competitiva, por conta do valor intrínseco dela”, justifica.

Então, vale a pena investir na JBS (JBSS3)?

As projeções indicam que sim. Afinal de contas, de acordo com o analista do Itaú BBA, as projeções indicam que a JBS (JBSS3) tem um preço alvo de R$ 31 por ação para o final de 2024. Além disso, vale saber que em 2023, o rendimento de dividendos (dividend yelds) da companhia foi de 4,01%.

Claro que rendimentos passados não significam que serão iguais ao futuro. Mas, ainda assim, mostra um grande potencial para investir na JBS (JBSS3).