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Entenda como o futebol tem usado o mercado financeiro para pagar dívidas e investir
Boa parte dos problemas do futebol brasileiro têm origem na questão financeira. Há clubes endividados em todos os estados e divisões. Contudo, assim como boa parte do problema está da área financeira, as soluções também podem vir de lá. É cada vez mais comum clubes buscarem soluções no mercado. Principalmente para pagar dívidas, mas também para investir.
Lá fora, gigantes como Manchester United, da Inglaterra, e Juventus, da Itália, têm capital aberto na bolsa de valores. Aqui, as instituições esportivas ainda estão em fases anteriores de estruturação. A transformação de clubes em SAFs, por exemplo, ocorreu a partir dos últimos anos.
Nesse sentido, há clubes buscando soluções para sanar a situação financeira e investir. Alguns, inclusive, permanecem como associações sem fins lucrativos.
São Paulo lançou FIDC
A solução recentemente adotada pelo São Paulo, de lançar um FIDC (Fundo de Direitos Creditórios), já havia sido utilizada por outros clubes.
Em outubro, o São Paulo aprovou em reunião de conselho deliberativo a proposta de emissão de um FIDC . O valor é de R$ 400 milhões, desses R$ 240 milhões virão do mercado.
Para Patrick Lopes, diretor de Sportainment da Alvarez e Marsal, o importante é a estratégia de reestruturação ser completa.
Além disso, ele destaca que “essa captação de recursos deve ser utilizada para otimizar a estrutura de capital do clube, resolvendo o problema da dívida”, avalia.
Hoje, há clubes no futebol brasileiro que seguem aumentando seus gastos, mesmo diante de problemas financeiros graves e estruturais, com novas receitas financiando o aumento das dívidas.
BTG e Vasco da Gama
Recentemente, o colunista da Inteligência Financeira, Cesar Grafietti, escreveu sobre a possibilidade de o banco BTG Pactual estar envolvido na negociação da SAF do Vasco.
Nesse sentido, uma operação de R$ 165 milhões do BTG em benefício do Vasco da Gama SAF poderia ser parte da recuperação judicial do clube.
A expectativa é a de que o clube pague CDI mais 11,5% ao ano para refinanciar parte de suas dívidas.
Assim, a garantia são os 59% das ações da SAF e recebíveis de contratos de direitos de transmissão futuros.
Debêntures como solução para clubes endividados
Dessa forma, a lei das SAF prevê uma forma nova de debêntures que já está sendo utilizada. “A CVM vem fazendo um trabalho importante de levar aos agentes de mercado mais informações do setor e das ferramentas”, diz Lopes.
“É um processo longo que está só começando e certamente terá frutos se o mercado estiver educado sobre o setor quando os clubes e demais agentes da indústria acessarem mecanismos de venda de ações, por exemplo”, complementa.
River Plate na Argentina
Na Argentina a situação financeira dos clubes é agravada pelas dificuldades econômicas do país. Assim, há quem procure saídas estratégicas e pouco usuais no país para financiar suas atividades e tentar colocar um fim à hegemonia brasileira no futebol sul-americano.
A solução usada pelo clube argentino River Plate foi uma transação de antecipação de receitas, colocando em garantia os naming rights do estádio para levantar recursos para a finalização da construção do Mâs Monumental e algumas estruturas dele.
“Um instrumento de crédito com garantia fiduciária nos contratos futuros de naming right seria comparável (no Brasil). A diferença aqui seria a forma de distribuição da oportunidade no mercado”, explica o representante da Alvarez e Marsal.
Endividamento dos clubes pode ser sanado com venda de ações na B3?
No Brasil, o financiamento de clubes de futebol via mercado de ações ainda é um sonho distante.
“O mercado de ações brasileiro é muito concentrado e pelo estágio de maturação da governança dos clubes brasileiros e das SAFs, ainda em construção, dificilmente veremos vendas de participação no mercado aberto brasileiro por agora”, diz o especialista.
Ainda assim, ele acredita que a venda de ações de clubes é uma solução a ser desenvolvida no médio e longo prazos. Assim, pode vir a “compor soluções de estrutura de capital para os clubes e saídas para investidores”.
Os clubes precisariam sanar suas dívidas e estruturar melhor as finanças antes de entrar nesse mercado.
Nesse sentido, a criação de ligas independentes, sem a interferência da Confederação Brasileira de Futebol, pode vir a ser importante para complementar o processo de transformação do futebol brasileiro.
Dessa forma, essa independência permitiria que os próprios clubes negociassem contratos mais lucrativos.
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