A biodiversidade e seus investimentos
Nos próximos 10 anos, os três maiores riscos estão relacionados à saúde do planeta
A visão de que atividades empresariais podem se beneficiar ou serem prejudicadas por aspectos relacionados à biodiversidade é consensual para os investidores.
Em um mundo de recursos finitos, entender o limite e a capacidade com que recursos naturais e biológicos podem ser utilizados de forma equilibrada é um dos grandes desafios das gerações atuais.
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O conceito de biodiversidade engloba as mais diferentes espécies de seres vivos de todas as origens. Dessa forma, estamos pensando sobre as variadas formas de vida que temos no planeta Terra e de que forma observamos sua evolução e interação com a população humana.
Dependemos da natureza
Um estudo do Fórum Econômico Mundial (WEF), que analisou 163 setores bem como suas cadeias de suprimentos, descobriu que US$ 44 trilhões (mais da metade do PIB total do mundo) é moderada ou altamente dependente da natureza e seus serviços e, como resultado, exposta a riscos de perda da natureza.
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Construção (US$ 4 trilhões), agricultura (US$ 2,5 trilhões) e alimentos e bebidas (US$ 1,4 trilhão) são as três maiores indústrias que mais dependem da natureza. Assim, à medida que a natureza perde sua capacidade de fornecer esses serviços, essas indústrias podem ser significativamente interrompidas.
Em sua 17ª edição do Global Risks Report, o WEF mostra a atenção que o tema Biodiversidade precisa receber: em um horizonte de 10 anos, os três maiores riscos estão relacionados à saúde do planeta.
Além da falha na atuação sobre mudanças climáticas, a perda de biodiversidade aparece dentre as três categorias classificadas como risco severo.
Reforçando a importância de nos atentarmos a essa temática, a publicação do World Wildlife Fund (WWF) revelou números preocupantes desta evolução: populações de animais selvagens monitoradas apresentaram queda de 94% na América Latina e no Caribe, 66% na África e 55% na região Ásia-Pacífico, em relação a 1970.
Em outras regiões foram registrados declínios, porém em menor magnitude: 20% na América do Norte e 18% na Europa e Ásia Central.
As grandes ameaças à biodiversidade
Nesse sentido, a Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), órgão estabelecido em 2012 por 94 governos, com o objetivo de fortalecer a interface ciência-política para biodiversidade, revela que o uso da terra e do mar são as maiores ameaças à biodiversidade, seguido por exploração excessiva de recursos, mudanças climáticas, poluição e invasão de espécies invasivas.
A relação da biodiversidade com os investimentos
Então precisamos também pensar no tema Biodiversidade e uso do solo quando pensamos em investimentos.
É relevante analisarmos como as ações antrópicas podem impactar a biodiversidade: desmatamento, bioinvasão, gestão de resíduos, exploração de recursos naturais e/ ou ocupação irregular do solo podem desequilibrar ecossistemas tendo uma ação direta na vida humana bem como na performance das empresas.
Esses são alguns dos aspectos a serem analisados no processo de investimento.
Sabemos dos desafios de traduzirmos esses conflitos e oportunidades da vida real para o processo de investimento.
Para auxiliar nesse diálogo, foi lançada a iniciativa de reunir uma Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD). Esse feito reforça o quão importante é a temática para o mundo financeiro, que segue buscando formas eficientes de integrá-lo em seus processos de investimento.
Agenda 2030
Ainda nessa linha de convergência de diálogo, devemos resgatar a existência da Agenda 2030, um plano de ação para prosperidade da sociedade e do meio ambiente. Uma agenda ambiciosa que prevê a atuação de governos, sociedade civil, setor privado, e claro, investidores.
Para medir a evolução dessa trajetória, a ONU lançou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Dois destes tratam especificamente de biodiversidade: ODS 15 (Life on land) e ODS 14 (Life below water).
O Fórum Econômico Mundial divulgou os resultados de um estudo conduzido pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável e Empresarial, que estimou ser necessário fechar uma lacuna de investimento anual de US$ 2,5 trilhões para atingir os 17 objetivos.
Pensando exclusivamente sobre a biodiversidade, estima-se serem necessários um valor entre US$ 722 e US$ 967 bilhões por ano, de forma a reverter o declínio acentuado da natureza até 2030.
Em uma agenda dinâmica, erros e acertos são relevantes para as adaptações de rumo para o sentido correto.
A agenda da biodiversidade tem trilhado esse caminho, revelando pela frente muitos desafios, mas, ao mesmo tempo, grandes oportunidades.