Precisamos falar sobre a crise climática

O número de vidas perdidas chega a ser 15 vezes maior em regiões menos favorecidas, segundo a ONU

Estamos diante de uma tragédia climática, que trará impactos profundos na vida das pessoas, em todo o mundo, ainda nesta geração. Eu não poderia começar esta reflexão de outra forma, que não fosse com este alerta preocupante e que precisa ser uma prioridade de todos nós que habitamos este planeta.

É lastimável saber que chegamos a níveis catastróficos para começar a discutir soluções para esta crise. A Organização Meteorológica Mundial, da ONU, apontou que os principais indicadores de mudanças climáticas bateram recorde histórico em 2021, a elevada emissão de gases de efeito estufa provocou eventos adversos negativos, como o aumento do nível e calor dos oceanos, derretimento das geleiras, aumento de fenômenos climáticos extremos, entre outros. Neste momento, precisamos correr contra o tempo para reverter os efeitos das mudanças do clima e garantir um futuro mais sustentável para nós, nossos filhos e netos, e para o planeta.

Mais pobres sofrem mais

O Brasil já sofre as consequências da má gestão de políticas e recursos destinados à preservação ambiental. O aumento da temperatura, as chuvas e secas e seu impacto na nossa rica biodiversidade são apenas alguns exemplos que atingem uma cadeia muito mais ampla, desde a produção de alimentos até a saúde e geração de emprego. E o peso maior recai, como sempre, sobre os mais vulneráveis. O número de vidas perdidas por conta das consequências das adversidades climáticas, por exemplo, chega a ser 15 vezes maior em regiões menos favorecidas, segundo relatório da ONU.

Por outro lado, o nosso país, um dos mais ricos em biodiversidade, tem a oportunidade de orquestrar uma agenda ambiental pensando no seu crescimento, principalmente de regiões menos desenvolvidas, além de fortalecer a sua reputação internacional. Não é fácil, nem simples, mas é necessário e urgente!
Conhecer o problema e decidir encará-lo é o pontapé inicial da mudança. O esforço conjunto da sociedade, organizações e governos é crucial para a reversão deste cenário. O recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em março de 2022, destacou, entre tantos pontos importantes, que a descarbonização e, por sua vez, a inovação em processos de baixa emissão de carbono são fundamentais para limitar os piores impactos da crise climática.

O papel do sistema financeiro

O sistema financeiro, não só no Brasil, mas no mundo, já dá passos importantes neste sentido. Cerca de 110 instituições financeiras, de mais de 40 países, aderiram a um acordo mundial, o Net-Zero Banking Alliance, alinhado ao Acordo de Paris e liderado pela Organização das Nações Unidas (ONU), para zerar emissões de carbono até 2050. É imprescindível que o setor crie responsabilidade sobre o destino dos recursos que disponibiliza ao mercado.

Fico feliz em dizer, por exemplo, que o Itaú Unibanco é uma instituição carbono neutra nos escopos 1 e 2, referentes às emissões diretas da nossa própria operação. Mas sabemos que isso não basta para o nosso planeta, é preciso ir além e também garantir a neutralidade do escopo 3, principalmente no que se relaciona às emissões financiadas pelo banco.

Com este objetivo, decidimos estar ao lado dos nossos clientes e auxiliá-los neste processo de transição para uma economia neutra em carbono. A agenda Net Zero do Itaú Unibanco foi estruturada para promover a redução, remoção e compensação de emissões, por meio do engajamento dos nossos clientes para a urgência da transição climática.

Um exemplo recente de iniciativa desta agenda foi o lançamento do Cubo ESG, em junho passado. Trata-se de uma plataforma dentro do Cubo Itaú direcionada a startups que querem transformar a realidade social e ambiental do Brasil e da América Latina. A inovação é imprescindível para alcançarmos as metas de descarbonização, por isso, o primeiro hub deste projeto será focado justamente no desafio Net Zero, com o objetivo de auxiliar especialmente setores prioritários, responsáveis pelo maior volume de emissões de gases do efeito estufa. Vemos o Cubo ESG como um projeto ganha-ganha, pois as startups estarão próximas de grandes empresas, realizando bons negócios ao entregar soluções inovadoras para organizações que precisam neutralizar suas emissões por meio de inovação e desenvolvimento tecnológico para se adaptarem a esta nova realidade.

Adaptar-se, inclusive, é uma das características mais fascinantes da humanidade. Como não há nada a ser feito para mudar o passado, espero que olhemos para frente como uma oportunidade de mudarmos o futuro. Essa é uma responsabilidade não apenas dos governantes, mas também das empresas e das pessoas, incluindo pequenas atitudes no nosso dia a dia. Ao reconhecer que temos um problema para resolver e que esse problema depende da contribuição de todos, seremos capazes de mudar, nos adaptar e construir uma nova trajetória para a humanidade, na direção de um planeta melhor para todos nós que habitamos o planeta Terra.