25 anos do estouro da Bolha da Internet: o Titanic do mercado financeiro
Empresas citadas na reportagem:
No final dos anos 1990, eu já tinha alguns anos de experiência no mercado e, naquele momento, estava envolvido em um projeto ambicioso: a criação de um supermercado financeiro latino-americano na internet. Era uma ideia revolucionária para a época, baseada na crença de que a nova economia digital transformaria todos os setores, incluindo o financeiro.
No entanto, como muitos projetos daquele período, ele acabou sendo fechado quando a realidade se impôs sobre o entusiasmo. Foi nesse contexto que vivi de perto a ascensão e queda da bolha da internet.
A segunda metade da década de 1990 foi um período de euforia tecnológica. A internet estava transformando o mundo, e o mercado financeiro embarcou nessa onda com fervor.
A ideia de que a tecnologia mudaria radicalmente a economia levou investidores a despejar bilhões de dólares em empresas que, muitas vezes, tinham pouco mais do que um site e uma promessa de crescimento exponencial.
A lógica tradicional de avaliação de empresas foi deixada de lado, substituída pelo mantra de que o crescimento era mais importante do que o lucro.
O frenesi do mercado era comparável a momentos históricos de euforia financeira, como a bolha das ferrovias no século XIX. O índice Nasdaq, repleto de ações de tecnologia, disparou, atingindo um pico de 5.048 pontos em março de 2000.
Empresas como Amazon, Yahoo! e Cisco eram vistas como os pilares de um novo mundo digital, enquanto startups surgiam diariamente, muitas delas conseguindo levantar milhões em capital de risco antes mesmo de terem um modelo de negócios viável.
Colapso das ações de tecnologia
O estouro da bolha começou a se desenhar quando o Federal Reserve, preocupado com uma possível inflação e a supervalorização dos ativos, começou a elevar as taxas de juros. A alta do custo do dinheiro fez com que os investidores reavaliassem seus portfólios, reduzindo o apetite pelo risco.
Mas foi em 14 de abril de 2000 que o mercado percebeu que a festa havia acabado. Naquele dia, o Nasdaq sofreu uma queda abrupta, marcando o início do colapso das ações de tecnologia.
Curiosamente, foi na mesma data, 88 anos antes, que o Titanic afundou no Atlântico. Assim como o navio, as expectativas do mercado financeiro pareciam inafundáveis – até que colidiram com a dura realidade.
A partir daquele momento, o declínio foi rápido e implacável. Empresas que haviam sido avaliadas em bilhões de dólares viram seus valores despencarem. Startups promissoras foram à falência, incapazes de justificar suas avaliações sem um fluxo de caixa real.
Entre 2000 e 2002, o Nasdaq caiu quase 80%, destruindo bilhões de dólares em valor de mercado. O sonho da nova economia tornou-se um pesadelo para muitos investidores e empreendedores.
Entretanto, nem tudo foi negativo. A bolha, apesar de seu colapso, deixou um legado duradouro. A infraestrutura da internet foi significativamente expandida, e muitas das tecnologias desenvolvidas naquele período foram a base para inovações futuras.
Empresas que sobreviveram, como a Amazon, emergiram mais fortes e maduras. Além disso, o mercado aprendeu valiosas lições sobre valuation e especulação, moldando o comportamento dos investidores nas décadas seguintes.
Olhando para trás, vejo a bolha da internet como um capítulo inevitável no avanço da tecnologia. Como toda grande transformação, ela veio acompanhada de excessos e correções dolorosas. Mas, no fim, ajudou a construir a base do mundo digital em que vivemos hoje.
Assim como o Titanic levou a melhorias na segurança marítima, a bolha da internet contribuiu para um mercado financeiro mais consciente e uma economia digital mais robusta.
Texto escrito por Martin Iglesias, Especialista Líder em Recomendação do Itaú, para íon. Para ler outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.