Desde 1989, o mercado tenta criar uma moeda digital. Primeiro, foi a empresa de dinheiro eletrônico Digicash. Depois, a E-Gold, que desenvolveu um ativo lastreado em ouro. E houve ainda o b-money, um sistema de caixa eletrônico. Nenhuma delas foi para frente.
Até que surgiu um certo Satoshi Nakamoto.
O desenvolvedor anônimo — ou seriam vários? — publicou um estudo sobre uma rede de blocos criptografada no fórum The Cryptography Mailing. O documento apresentava uma proposta de uma moeda virtual chamada bitcoin (BTC). O objetivo era criar um meio de realizar transações monetárias peer to peer (p2p), ou seja, de pessoa para pessoa. Tudo seria seguro e sem intermédio de instituições financeiras. Em paralelo, também surgia o blockchain, que colocaria a nova moeda para funcionar.
A novidade das criptos
As criptomoedas são uma classe de ativos com algumas particularidades: não existem fisicamente, são descentralizadas, criptografadas e movimentadas dentro do blockchain.
“Criptomoeda é algo completamente novo. O mundo só acordou para esse assunto nos últimos quatro anos. Existem dois setores: bitcoin e as outras criptomoedas. O bitcoin tem regras que não podem ser mudadas. As outras criptos têm tecnologias diferentes que propõem coisas diferentes”, afirma o minerador e economista Ray Nasser, CEO da mineradora de bitcoins Arthur Mining.
O papel dos mineradores é verificar as movimentações e checar se elas ocorreram como deveriam, fechando os blocos de informações. O processo é chamado de Proof of Work. Em troca, eles recebem bitcoins recém-criados. Parece fácil, mas a mineração envolve a resolução de códigos complexos.
O crescimento das criptomoedas
Marcos Viriato, um dos fundadores da fintech de criptomoedas Parfin, divide o interesse nesses ativos em duas fases. A primeira no lançamento do bitcoin, em 2009. A outra, em 2015, com a chegada do ethereum e da moeda ether. As duas criptomoedas estão no topo do ranking das mais negociadas, de acordo com o site de rastreamento de preços de criptos CoinMarketCap. “Tivemos momentos em que o preço dessas moedas subia até 200%, depois caia 50%. A primeira fase foi muito marcada pela chegada de investidores pessoa física. No final de 2020 começou a subir de novo, com a chegada de investidores institucionais”, diz Viriato.
Um investidor institucional é uma empresa ou instituição que administra o capital de outras pessoas ou empresas. Bancos, fundos de hedge, fundos de pensão e seguradoras são alguns exemplos de investidores institucionais. Já o investidor pessoa física, ou investidor individual, é… você.
A adoção de criptomoedas começou pelos investidores individuais e depois pelos investidores institucionais, que realizaram grandes aportes. “Isso fez com que a demanda por criptomoedas fosse maior que a oferta, o que gerou a alta do preço”, explica Viriato. O bitcoin, por exemplo, por não ser um ativo que sofre interferência de bancos centrais, tem seu preço fortemente guiado pela lei de oferta procura.
Criptomoedas ou ativos digitais?
Hoje, existem mais de 4 mil criptomoedas no mundo. Apesar de terem esse nome, nem todas nasceram exclusivamente para serem uma moeda.
Enquanto o bitcoin é um sistema de transferência de dinheiro, o etherium é um sistema para aplicações de blockchain, onde são criados e armazenados contratos inteligentes, ou smart contracts. A partir dele foi criada a moeda ether, como uma forma de remunerar os mineradores que mantém a rede funcionando.
Rudá Pellini, fundador da Wise&Trust e autor do livro O futuro do dinheiro (Editora Gente), explica que novos ativos são criados por blockchain com a mesma tecnologia, mas com objetivos diferentes. “Estamos vivendo o nascimento de uma nova classe de ativos”, afirma.