Crédito ficou mais difícil com alta da Selic, mas há oportunidades, segundo gestores

Com a Selic em 14,25% ao ano e com a possibilidade de subir ainda alguns degraus, 2025 não vai ser um ano fácil para os ativos de crédito privado, mas há oportunidades.
Isso segundo gestores de recursos que participaram de evento que marcou os quatro anos do fundo Ceter FIC FIDC, de co-gestão da Est com a Nest.
Enquanto no segmento “high grade”, de títulos de melhor qualidade, os spreads (a diferença em relação aos títulos públicos de referência) estão “amassados” porque a demanda tem se concentrado nos nomes mais óbvios, a melhor forma de buscar ganhos na classe é em alternativas um pouco mais apimentadas, segundo Pierre Jadoul, diretor-executivo responsável pelas estratégias de crédito da ARX Investimentos. Mas sem descuidar do risco.
Olho em FIDCs
“Muitas companhias não estão conseguindo emitir e estão voltando para o balanço de banco, a exemplo do varejo, e os ativos super premium ficaram caros. Se for para apostar numa eventual melhora macro, não faria o investimento via crédito high grade, a melhor forma seria em outra classe”, afirmou Jadoul.
Para ele, ainda há oportunidades em estruturados, mas para um fluxo específico. “O macro não vai ser fácil para o crédito. Com juros a 15%, há reflexos na despesa financeira das companhias e na economia. Para quem tem apetite para mais retorno tem que ser cauteloso.”
O gestor comentou que nos fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC) há atualmente uma melhor relação risco/retorno do que no crédito corporativo puro.
Momento de olhar o crédito ‘como uma ação’
Lígia Porchart, sócia-fundadora da Atena Capital, disse ser importante olhar para preço, avaliar o crédito como se fosse uma ação. Enquanto o CDI corre contra, “o juro real está de graça”, é onde os fundos podem se apropriar de um carrego entre 7,5% e 7,8% num horizonte de três anos.
Ela alerta que embora tenha muito dinheiro indo para carteiras atreladas ao CDI, a exemplo dos fundos de infraestrutura, o indexador não vai proteger o investimento se houver uma “abertura de spreads, já o [atrelado ao] IPCA te protege se tudo der errado”.
Jadoul concordou que este não é o melhor momento para se posicionar em papéis ou carteiras atreladas ao CDI, que quem fizer isso “estará deixando na mesa a oportunidade de travar um juro real alto”, talvez a melhor chance da década, especialmente nos títulos isentos de longo prazo.
“O Brasil não tem spread de juros, ou as taxas caem ou descarrila. Se descarrilar, quer dizer que o Banco Central perdeu o controle da inflação. Quem estiver no CDI não estará blindado, o único ativo que blinda é o IPCA isento.”
Créditos pulverizados entram no radar
Rodrigo Mendonça, da Valora, disse dar preferência a créditos pulverizados, via FIDC. Carteiras de multicedentes e multisacados acabam tendo um prazo relativamente curto, de 40 dias, o consultor de crédito consegue transitar entre setores e reciclar os ativos com certa celeridade.
O gestor disse ver nos segmentos de fundos de infraestrutura, da cadeia do agronegócio (Fiagro) e nos imobiliários algumas “bizarrices”, especialmente em carteiras de papel (crédito), com descontos da ordem de 30%, e com dois ou três ativos problemáticos na carteira.
“Claro que tem preocupação com a cota, [ao comprar os ativos] você traz uma volatilidade implícita do lastro, mas muita coisa tem valor”, afirmou Mendonça.
Mas não dá para esperar um 2025 fácil com juros a 14%, 15% ou 15,5%, alertou. “Quando você coloca 15% na modelagem, é difícil uma empresa do segmento ‘middle’, pagando uma taxa de CDI+5% ou 6%, não sofrer.”
Alta nos fundos de recebíveis
Daniel Doll Lemos, da QI Tech, que atua na administração fiduciária para o setor de estruturados, afirmou que boletas de grandes bancos, via tesourarias e carteiras administradas, por créditos “high yield” (de maior risco) e pelos FIDC tem contribuído para um maior fluxo para a classe.
Se em 2021, os fundos de recebíveis reuniam cerca de R$ 100 bilhões, hoje essa cifra bate os R$ 700 bilhões porque tudo pode virar FIDC.
O novo consignado privado, a seu ver, tem chances de crescer rapidamente, da mesma forma que ocorreu com o FIDC atrelado ao saque-aniversário do FGTS, que em pouco tempo bateram os R$ 100 bilhões. “Deve ser a grande novidade das carteiras ao longo de 2025.”
Otávio Vieira, gestor do Ceter na Est, lembrou que com o alto endividamento da população e taxas de juros subindo, a medida para o consignado privado talvez tenha sido precipitada. Pode alimentar ainda mais a mania das apostas nas bets.
*Com informações do Valor Econômico
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