Um olhar sobre a cadeia de fornecedores

Ao longo dos últimos anos as necessidades dos consumidores e demandas das empresas ganharam complexidade

Entregar inovação cada vez mais rápida sem perder qualidade. Esse é um dos desafios das empresas que acaba por impactar a estratégia a ser utilizada na cadeia de fornecedores.

Em outros tempos, a relação com fornecedores descrevia apenas um meio de obter insumos e/ou produtos para então serem transformados no produto ou serviço para o cliente final.

Assim, era o retrato de um fluxo simples e direto.

Mas ao longo dos últimos anos as necessidades dos consumidores e demandas das empresas ganharam complexidade.

Isso num contexto de maior escassez de recursos e insumos, exigindo uma estruturação do gerenciamento da cadeia de fornecedores, que nascia para atender a nova realidade globalizada.

Dessa maneira, essa cadeia cada vez mais tem que atender demandas em prazos curtos, e os fornecedores precisam se adaptar em meio a demandas diversas.

Cadeia de fornecedores: gerenciamento não é simples

Porém, gerenciar essa cadeia não é uma tarefa simples.

Dessa complexa relação com fornecedores se formou uma cascata de ações e consequências que precisa ser devidamente gerenciada.

Assim, temas como trabalho análogo ao forçado, trabalho infantil e desmatamento ilegal são controvérsias que envolvem não apenas a empresa autuada, e sim todas as que possuem relações comerciais com ela também.

Então, pensando em se proteger de riscos de imagem como esse (e seus impactos econômicos) as empresas podem estabelecer uma diligência formal e robusta para avaliar seus fornecedores de acordo com seus parâmetros sociais e ambientais de forma a garantir um alinhamento de valores e evitar eventos negativos.

Diligência formal de fornecedores não é sufciente

E aqui assumem que é suficiente para endereçar esse tema na sua empresa. Mas não é, e o motivo disso são os fornecedores indiretos.

Essa categoria de fornecedor se caracteriza por um maior distanciamento em relação ao cliente final, o que representa uma perda de eficácia da diligência de uma empresa quando esta engloba apenas os fornecedores diretos com a expectativa de que estes realizem a sua própria avaliação dos seus fornecedores nos mesmos parâmetros de qualidade e sustentabilidade.

É nesse ponto que a complexidade desse tema ganha mais uma camada.

Esse foi o foco de um estudo publicado no Harvard Business Review que evidenciou como as empresas devem focar na parte mais baixa da sua cadeia de fornecedores, e destacou estratégias para promover boas práticas na cadeia através de quatro abordagens: direta, indireta, coletiva e global.

Os tipos de abordagem

A abordagem direta se refere a como as empresas estabelecem indicadores sociais e ambientais para os seus fornecedores diretos avaliarem os seus fornecedores (logo os seus indiretos).

Já a indireta contempla os treinamentos oferecidos pelas empresas aos seus fornecedores indiretos, assim como incentivos para implementarem práticas de sustentabilidade.

Assim, essas duas abordagens refletem uma posição ativa das empresas em engajar com sua cadeia de fornecedores numa iniciativa de não excluir os fornecedores fora dos parâmetros sociais e ambientais estabelecidos, e sim desenvolvê-los para que se adequem e possam integrar novamente a cadeia.

Para além do eixo da própria empresa, a abordagem coletiva oferece a oportunidade para as empresas colaborarem entre si e com grandes fornecedores para desenvolver e promover padrões de sustentabilidade para setores e indústrias, e a global contempla a colaboração com organizações internacionais e ONGs alinhadas com essa agenda.

As empresas podem fazer mais

A conclusão da nossa discussão e do estudo citado convergem para um ponto em comum: as empresas estão na posição para fazer mais.

O papel delas deve ser ativo para constantemente tornar os seus processos de avaliação de fornecedores mais robustos, e auxiliar os seus fornecedores a fazerem o mesmo de forma a se formar um processo contínuo que se estende por toda a cadeia de fornecedores num ciclo de promoção de boas práticas que geram responsabilidade para os agentes envolvidos.

Dessa forma, um cenário é construído no qual se incentiva os fornecedores com as melhores práticas ao mesmo tempo que se reabilita o fornecedor classificado como inadequado por sua não conformidade com parâmetros ambientais e sociais, permitindo que ele seja reintegrado na cadeia como um agente que evoluiu positivamente.

Mas como eu posso ajudar na promoção desse círculo virtuoso?

Enquanto consumidores já temos a clareza das nossas escolhas sob o que consumimos e demandamos em termos de serviços.

Por que não levar esse questionamento aos nossos investimentos?

Com a colaboração de Sofia Inacio Fahel, analista ESG