Ritmo de cortes da Selic será avaliado no começo de 2024, indicam economistas

Para especialistas, ata do Copom garantiu pelo menos mais duas reduções na taxa básica de juros

Registro de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central). Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Registro de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central). Foto: Raphael Ribeiro/BCB

A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que baixou a taxa Selic de 12,75% para 12,25%, teve como destaque a mensagem de cautela nos próximos passos da política monetária. Isso, conforme o documento divulgado nesta terça-feira (7) pelo Banco Central, diante do aumento da incerteza global e com um alerta sobre a questão fiscal no Brasil.

Ainda assim, o comitê reiterou que os juros básicos da economia devem seguir caindo em um ritmo de 0,50 ponto percentual, mas que a extensão do ciclo de afrouxamento vai depender de como a dinâmica inflacionária vai evoluir daqui para frente. Na avaliação de economistas, o Copom sinalizou que deve avaliar a magnitude dos cortes na segunda reunião de 2024, prevista para 19 e 20 de março.

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Menor espaço para baixar os juros?

Para Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, a ata da reunião do Copom indica, assim como o comunicado, disposição em manter o atual ritmo de flexibilização de 0,50 pontou percentual nas próximas reuniões. “Ou seja, pelo menos, dezembro e janeiro”, anota.

Mas o texto, segundo Mesquita, inclui vários acenos na direção de um menor espaço para cortes de juros, incluindo a preocupação com expectativas de inflação desancoradas, perspectiva de uma desinflação mais lenta no futuro, uma possível fraqueza do real devido ao ambiente externo e até uma deterioração fiscal

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“Em suma, o texto confirma que nas próximas reuniões haverá cortes de 0,50 ponto e, após isso, o comitê poderá reavaliar a sua postura. Dito isto, o Copom fez suas projeções com taxa de câmbio (dólar) que se situava em R$ 5,00, e agora está ao redor de R$ 4,90”, comenta o economista-chefe do Itaú.

“Apenas esta mudança pode muito bem levar a uma projeção de inflação mais baixa na próxima reunião, o que tornará um pouco mais difícil para o comitê manter seu viés atual, relativamente duro. Esperamos que o comitê reduza a taxa Selic para 11,75% na reunião de dezembro, e para 9,50% em 2024”, afirma.

Fiscal x cenário internacional

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, destaca que a ata do Copom reconheceu a dinâmica mais benigna da inflação. O que, para ela, reforça a expectativa dos próximos cortes de 0,50 ponto na taxa Selic. “Que ainda está em patamar bastante restritivo”, diz.

Por outro lado, Rafaela considera que a desancoragem das expectativas, em parte associada às incertezas sobre o ajuste fiscal, ainda preocupa e pode afetar cortes mais à frente, o que explica a cautela da autoridade monetária.

“Apesar do risco fiscal ter sido excluído do balanço de riscos, o Copom segue ressaltando a importância da credibilidade das regras fiscais para dar melhor visibilidade sobre a trajetória de dívida. A incerteza que ainda estamos observando, vinda do próprio governo quando discute uma revisão da meta, por exemplo, impacta o prêmio de risco e pode elevar o juro neutro da economia, tirando potencia da política monetária”, avalia.

“O cenário externo também foi destacado, mas o recente movimento de alívio nas taxas de juros lá fora e o câmbio no atual patamar de R$ 4,90 não indicam uma deterioração maior. Mantemos nossa expectativa de cortes de 0,50 ponto nas próximas reuniões até o 1º trimestre de 2024 e a taxa Selic no fim do próximo ano em 9%, compatível com a queda da inflação esperada”, aponta a economista-chefe do Inter.

Tom mais duro

João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, observa que o tom da ata do Copom foi mais “hawkish” (mais duro) que o do comunicado pós-reunião. “Foram destacados os diversos riscos do cenário prospectivo, seja do global mais incerto, seja do longo caminho para a ancoragem das expectativas e retorno da inflação ao centro da meta”, explica.

De acordo com o especialista, houve atualização da conjuntura global, trazendo o debate dos canais de transmissão para a economia brasileira e a avaliação da postura de maior cautela diante dos riscos envolvidos.

“Aqui um ponto chamou nossa atenção, de que um membro avaliou que o cenário externo introduzia viés altista para o balanço de riscos. Mais um sinal hawkish”, observa.

No cenário doméstico, prossegue Savignon, o Copom avaliou que houve progresso desinflacionário relevante, mas que há um longo caminho para a ancoragem das expectativas e retorno da inflação ao centro da meta.

“Destaque para o trecho em que o Copom fala do esgotamento de algumas fontes de desinflação, notadamente dos bens industriais e de alimentação”, comenta.

Já nos riscos fiscais, ele destacou o debate do comitê sobre o aumento dos prêmios de risco derivados da incerteza em torno da meta estabelecida e o alerta dos integrantes do colegiado sobre a importância da execução das metas sobre as expectativas inflacionárias.

“O ponto mais importante na nossa leitura foi o trecho no qual o comitê atestou que debateu a estratégia e a extensão do ciclo de cortes de juros em cada um dos cenários avaliados, dizendo que optou por manter a comunicação recente porque ela já embute a condicionalidade do ambiente incerto”, diz João Savignon.

“Na nossa opinião, isso quer dizer que a ata vai na direção do precificado no mercado atualmente, confirmando o plano de voo nas próximas duas reuniões, com cortes de 0,50 ponto, mas que se o cenário não evoluir conforme o esperado, o seu guidance poderá ser reavaliado e, consequentemente, o nível terminal de juros”, completa o especialista da Kínitro Capital.

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