Desaceleração em 2025 é insuficiente para Copom cortar a Selic, dizem economistas

Pleno emprego, crédito consignado privado e estímulos fiscais devem compensar a desaceleração do PIB do Brasil prevista hoje por economistas em 2025. O enfraquecimento da economia não deve se traduzir em redução dos preços dos produtos no País. O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) deve assim aguardar sinais mais claros de convergência da inflação para cortar a Selic, disseram economistas à Inteligência Financeira, mesmo com a desaceleração deste ano.
A expectativa é de um ano difícil para a indústria, mas aquecido em serviços. O fôlego do setor virá dos estímulos mais recentes do governo e pelo mercado de trabalho com taxa de desemprego abaixo da média histórica. O PIB do Brasil deve começar a mostrar sinais de fraqueza no segundo semestre, mas não o suficiente para justificar o corte da Selic neste ano.
Inflação deve persistir apesar de desaceleração do PIB do Brasil
O mercado financeiro antecipa a piora da economia brasileira em 2025. As estimativas dos economistas que respondem à pesquisa do Boletim Focus é de que o PIB cresça 2% neste ano ante 3,2% em 2024.
Mas a desaceleração do PIB não é suficiente para levar a inflação à meta do Banco Central, cujo centro é de 3%. Economistas dizem que o mercado de trabalho continua aquecido e com desocupação abaixo da média.
A PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra a Domicílios) Contínua do IBGE revelou que o nível de desemprego no País atingiu 6,6% em 2024, menor nível desde 2012.
Caso o PIB não recue por pressão do mercado de trabalho, o Copom não deve cortar a taxa Selic tão cedo, analisa Leonardo Costa, economista da instituição financeira ASA.
“Se a atividade desacelerar menos que o esperado, com a resistência do mercado de trabalho, certamente o Banco Central não obterá a esperada baixa na inflação”, afirma. “Como efeito, a taxa de juros pode permanecer em patamar elevado por mais tempo do que o projetado.”
Ivo Chermont, economista da gestora Quantitas, corrobora a visão de que o desemprego deve continuar baixo em 2025. Ao mesmo tempo, o reajuste do salário mínimo acima da inflação no início de ano deve pressionar a inflação.
“Tenho sérias dúvidas se a desaceleração vai trazer os preços para baixo de maneira tão rápida”, comenta o economista.
Economia deve perder fôlego a partir do segundo trimestre
A previsão é de que a economia comece a mostrar sinais de desaceleração mais aguda entre o segundo e o terceiro trimestres.
Ao mesmo tempo, a prévia do PIB mostrar forte expansão da atividade nos primeiros três meses de 2025 “não é completamente inesperada porque a alta veio depois de um vale”, afirma Marcus Macedo, CIO do AndBank. Ele se refere ao ligeiro crescimento de 0,2% no final de 2024. “Se tivermos uma desaceleração maior, ela deve acontecer no segundo trimestre”. Macedo vê o crescimento do PIB do Brasil mais próximo de seu potencial de 2%.
Chermont espera o mesmo ritmo de redução para a economia.
“No primeiro trimestre, serviços estão a salvo com dinheiro do consignado privado e aumento de salários. O PIB agro deve vir forte”, afirma. “A economia vai desacelerar mais no final do segundo trimestre”.
Medidas do governo afetam ritmo da Selic em 2025
Para o economista da Quantitas, fica claro que as medidas recentemente aprovadas pelo governo devem impedir o corte da Selic pelo Copom.
Entre as medidas do governo, o consignado privado é o que mais pode impulsionar o PIB no curto prazo, afirma Chermont. “Talvez tenhamos um efeito de o brasileiro gastar mais e antecipar a isenção de Imposto de Renda.”
O ministério da Fazenda estima que a carteira de crédito de trabalhadores com carteira assinada de companhias privadas deve saltar de R$ 40 bilhões para R$ 120 bilhões.
Eu não acho que sinceramente exista sinal de desaceleração que permita o Copom cortar os juros”
Ivo Chermont, economista da Quantitas
Já para Gabriel Barros, economista-chefe da ARX Investimentos, além dos estímulos de crédito, despesas “parafiscais” do governo devem levar o PIB a crescer 2% em 2025, acima do potencial de 1,5% a 1,8% por ano.
“Vamos seguir com PIB acima do potencial e inflação distante do centro da meta”, explica Barros.
Barros acredita que o efeito da Selic mais alta acaba sendo menor do que deveria porque “vê uma obstrução em resposta à política fiscal e creditícia”
Para a inflação convergir para a meta, é preciso ter uma política monetária que não se sujeite à fiscal.”
Gabriel Duarte, economista-chefe da ARX
As medidas do governo fizeram com que a gestora MAG Investimentos aumentasse a estimativa do PIB do Brasil de 2025. Antes da criação do crédito consignado e liberação de saque do FGTS, a MAG antecipava alta do PIB de 1,7%. A projeção então saltou para 2%.
Por fim, a desaceleração do PIB não deve impedir ainda um recuo da inflação de alimentos. A gestora espera que a inflação anual acelere para 5,9% até dezembro, comenta Felipe Oliveira, economista da MAG.
“(A inflação) deve vir principalmente por alimentos e serviços. Acreditamos que a inflação de alimentos deve chegar a 7%, enquanto a do setor de serviços deve atingir 6,3%.”
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