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Recorde de seca e queimadas no Brasil preocupam produtores e também a Faria Lima; entenda
O recorde de queimadas no Estado de São Paulo para o mês de agosto e mais de 170 mil focos de incêndio registrados em todo o Brasil, segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), acenderam um alerta em produtores rurais de um lado e no mercado financeiro de outro.
Afinal, os preços de commodities agrícolas que o Brasil exporta, como açúcar, etanol, café e laranja, aumentaram e podem ter repasse abrupto a consumidores pelos próximos meses.
Além desse cenário, ações de empresas afetadas pelas queimadas no Brasil recuaram na bolsa de valores. O foco dos investidores se concentra nas duas principais produtoras de açúcar e etanol do Ibovespa: São Martinho (SMTO3) e Raízen (RAIZ4). Segundo a XP Investimentos, por exemplo, quem levou a pior desde o início dos focos de queimadas foi a São Martinho.
Queimadas no Brasil em 2024 acendem alerta para agronegócio
Desde meados de agosto o Brasil vem sendo marcado por queimadas em diversos estados. Focos de incêndio foram registrados em São Paulo, Pará, Minas Gerais, Paraná e, principalmente, no bioma da Amazônia. É lá onde se concentram 50% das queimadas no ano.
Mas as regiões Centro-Oeste e Sudeste também são castigadas. Em São Paulo, o INPE registrou 6.910 focos de incêndio em 2024. Destes, 3.612 somente em agosto, recorde na série histórica desde 1998.
Assim, os incêndios e a seca recorde que afetam regiões localizadas por exemplo em Minas Gerais (MG) acenderam um alerta para o agronegócio. Produtores rurais temem quebras de safras de café, laranja e cana-de-açúcar em 2025.
De acordo com Guilherme Piai, secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, incêndios devastaram 240 mil hectares de plantação de cana no estado. Considerando o plantio geral, mais de 500 mil hectares foram queimados.
Existe ainda um temor de produtores envolvendo as safras de café e laranja.
Açúcar mais caro, etanol mais barato
O avanço dos preços preocupa a Faria Lima, avenida da zona oeste da capital paulista onde ficam os escritórios dos principais gestores de investimentos de São Paulo.
Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, diz que as queimadas podem levar a alta nos preços de alimentos no curto prazo. Mas os economistas do banco consideram, por enquanto, que o efeito será “sazonal”.
A expectativa é de que as próximas leituras do IPCA reflitam impacto dos eventos climáticos nos preços de alimentos.
A queima de parte relevante da safra de cana-de-açúcar, por exemplo, levou à disparada do preço do açúcar no comércio internacional.
Em 1 mês o preço da saca da commodity foi de US$ 0,17 para US$ 0,19, chegando a saltar 7% em agosto.
Diante do quadro, Piai disse ao mercado que seria “normal” observar uma alta nos preços do açúcar no varejo.
Fernando Siqueira, estrategista-chefe da XP, afirma em relatório que as queimadas “levam à menor produção de açúcar e maior de etanol”.
Por outro lado, com medo das queimadas e perdas de safra, as produtoras do Brasil adiantaram a moagem de cana para etanol em 2024.
Na visão de Alexandre Delara, fundador da consultoria agro Pine, o aumento de oferta no mercado nacional e a pressão dos preços do petróleo no exterior devem derrubar o custo do combustível.
“85% (do etanol) fica no mercado doméstico. A produção de etanol hidratado subiu 16% em relação ao ano passado por causa das queimadas no Brasil em 2024, enquanto os preços do petróleo pressionam o etanol.
Quais ações da bolsa reagem às queimadas no Brasil em 2024?
Para o mercado, dois ativos do Ibovespa reagiram de forma aguda às queimadas no Brasil. São as ações das sucroalcooleiras São Martinho (SMTO3) e Raízen (RAIZ4).
Desde o início das queimadas, as ações das duas empresas acumulam retorno negativo no índice. A Raízen (RAIZ4) caiu 4%, enquanto a São Martinho (SMTO3) despencou quase 12% a partir de 22 de agosto.
A XP afirma em relatório que “o papel da São Martinho precificou essa piora do cenário do etanol
e descolou da curva do açúcar”, que sobe em resposta às queimadas no Brasil.
“Portanto permanece o viés altista do açúcar e a probabilidade do aumento na mistura, além do início mais cedo da entressafra”, diz o documento, assinado pelos analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, além de Siqueira.
A corretora iniciou uma operação de trade para o papel na quinta-feira, avaliando que um upside de curto prazo é possível após a depreciação. A recomendação, ainda assim, continuou neutra.
O Bank of America vê o copo meio cheio: tem recomendação de compra para São Martinho (SMTO3) e Raízen (RAIZ4).
O banco justifica as escolhas com base em um possível rali de 10% para preços do etanol até 2025, mesmo com oferta e demanda apertada no Brasil.
O rali tem como efeito valorizar as ações da São Martinho (SMTO3) na bolsa. A companhia deve assumir hedges para se defender da alta no açúcar, e está descontada no Ibovespa, de acordo com o BofA.
“Os resultados da Raízen devem melhorar em 2025”, diz o Bank of America ao analisar a segunda ação. “A companhia deve melhorar margens de distribuição de combustíveis e fortes preços. Contudo, a falta de geração de fluxo de caixa no curto prazo causa preocupação.”
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