Racha no PSDB ameaça candidatura de João Doria à Presidência

Ex-governador irrita cúpula tucana com carta em que ameajudicializar chapa com MDB se não for ele o nome da "terceira via"

João Doria, ex-pré-candidato do PSDB à Presidência da República (Foto: Divulgação)
João Doria, ex-pré-candidato do PSDB à Presidência da República (Foto: Divulgação)

Um clima de desânimo e irritação domina o entorno da candidatura do presidenciável João Doria Jr. (PSDB-SP) nos últimos dias. De um lado, o pré-candidato nas Eleições de 2022 ameaça judicializar uma eventual candidatura combinada com o MDB na qual ele não seja o cabeça de chapa da “terceira via”. Já a cúpula tucana vê a ameaça como gesto de desespero do ex-governador paulista por medo de ser trocado pela senadora Simone Tebet (MS).

A fatia de cerca de R$ 379 milhões do fundo eleitoral a que o PSDB tem direito é uma das causas das rusgas. Começou a circular há alguns dias, entre tucanos rivais de Doria, a tese de que a legenda “queimaria” dinheiro numa campanha sem chance de vitória. Essa ala defende que o fundo seja usado para eleger uma bancada consistente na Câmara e no Senado e para focar em candidatos competitivos aos governos estaduais.

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MDB e PSDB se reúnem nesta quarta-feira (18/5) para decidir. Mas até lá o clima de tensão é alto no PSDB. “O clima está pesado e o partido, muito dividido”, avalia um tucano ouvido pelo JOTA.

Aliados veem João Doria isolado no partido e sem movimentação para deslanchar nas pesquisas eleitorais. Segundo o agregador de pesquisas do JOTA, Doria tem 3% das intenções de voto.

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De acordo com um tucano próximo ao ex-governador, a “sensação é de espera por um milagre” entre os aliados que frequentam o escritório alugado como base pelo pré-candidato no Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo.

Já a cerca de 1.200 quilômetros dali, em Brasília, o clima é de irritação desde o último sábado (14/5), depois que Doria enviou ao presidente do partido Bruno Araújo uma carta afirmando haver “tentativas de golpe” no PSDB contra sua candidatura.

Araújo decidiu convocar a executiva do partido para uma reunião de emergência nesta terça-feira (17/5), em Brasília. Na mensagem ele citou trechos da carta, o que desagradou a João Doria. Ele vê Araújo como desafeto desde que o afastou da coordenação da campanha em abril.

A mensagem foi lida como ato de desespero de João Doria para manter a candidatura, após o partido acertar com o MDB que uma pesquisa contratada para mensurar o potencial de voto do ex-governador e da senadora Simone Tebet (MDB-MS) servirá de argumento para a escolha de um deles como nome da “terceira via”.

Os partidos vão considerar não apenas o potencial de votos, posto que Tebet figura com 1%, mas a rejeição aos pré-candidatos à Presidência.

João Doria tem elevado índice de rejeição: 59%, como mostrou a pesquisa Genial/Quaest de maio. Ele está empatado com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), cujo potencial de voto é dez vezes maior. O medo de João Doria, segundo aliados, é ser “trocado” por Tebet.

Judicialização

O advogado Arthur Rollo, que assessorou o ex-governador na elaboração da carta, afirma que o estatuto do PSDB não transfere o poder de decisão de candidatura após prévias internas para uma reunião de cúpula.

Segundo ele, como Doria venceu as prévias caberia à convenção partidária referendar a candidatura entre 20 de julho e 5 de agosto. “Estão antecipando o calendário eleitoral e usurpando atribuições da convenção. O órgão partidário que se reuniu nesta terça [executiva nacional] não tem poder para decidir nada de aliança partidária, coligação ou candidatura”, afirma.

Rollo diz que João Doria estaria disposto a judicializar a decisão. “Eventualmente, se não houver reconhecimento na esfera administrativa [da candidatura], vamos pedir o reconhecimento na esfera judicial. A gente entende que não vai ser preciso isso, mas pode caber o reconhecimento na esfera judicial.”

Entre parlamentares, a judicialização só tende a piorar a composição de chapas nos estados e as disputas para Senado e Câmara. “Ir para a Justiça não é bom para o partido. Isso só prejudicaria os candidatos a governador, senador e deputado”, avalia um dos seis senadores tucanos.

Já outro aliado de Doria acusa a base parlamentar de não querer uma candidatura presidencial para “sobrar mais do fundo partidário para campanhas nos estados”.

“Encenação”

No xadrez interno do tucanato, sobrou surpresa com o gesto de Aécio Neves (MG) de sinalizar apoio às queixas de João Doria contra a pesquisa contratada com o MDB.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, no sábado (14/5), Aécio chamou de “encenação burlesca” a pesquisa contratada por MDB e PSDB.

O deputado também criticou o presidente nacional do PSDB. A consulta é vista por parte dos tucanos como manobra de Araújo para derrubar João Doria. Apesar da acusação de ‘encenação’, o ex-governador gaúcho Eduardo Leite brigou internamente para ter seu nome incluído na pesquisa. Leite e Aécio são aliados contra Doria.

Aliados do paulista afirmam que ele é “obstinado” e não deve desistir da disputa presidencial. Mas criticam Doria por gastar mais tempo em Brasília do que rodando o país para crescer nas pesquisas. “Ele perde muito tempo administrando briga caseira”, observa um tucano próximo ao ex-governador.

Saiba quem é João Doria

João Agripino da Costa Doria Junior, 64 anos, pretende disputar a terceira eleição desde que entrou para a política, em 2016. Naquele ano, foi eleito prefeito da cidade de São Paulo na onda anti-PT. Menos de dois anos depois, abandonou o cargo para concorrer ao governo do Estado em 2018. Foi eleito em segundo turno, colando na onda anticorrupção do bolsonarismo, usando o bordão “BolsoDoria”. Agora, deixou o governo paulista antes de concluir o mandato para disputar a Presidência da República.

João Doria é empresário, publicitário e jornalista. Em 2018, declarou possuir uma fortuna de R$ 179,7 milhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Antes de iniciar carreira empresarial, atuou como secretário estadual de Turismo no governo Mário Covas, em 2001, após se filiar ao PSDB. Na década de 1980, João Doria presidiu a Embratur no governo do ex-presidente José Sarney.

Em 2007, liderou o ‘Cansei’ – como ficou conhecido o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, criado na onda de repúdio à corrupção pós-mensalão.

(Por Nivaldo Souza, repórter freelancer do JOTA)
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