O que defende o Hamas? O que está em jogo na guerra em Israel? 6 dúvidas respondidas por especialistas

Saiba o que defende o grupo terrorista palestino, por que ele atacou Israel e como os países vizinhos devem reagir à guerra.

O cenário geopolítico foi novamente chacoalhado no último sábado, quando o grupo terrorista Hamas lançou uma ofensiva que iniciou uma guerra com Israel. O ataque pegou as forças de segurança do país hebraico de surpresa e foi um dos maiores do grupo islâmico desde sua fundação.

Entre centenas de mortos de ambos os lados, a guerra entre Israel e Hamas não deve durar semanas, e sim meses, segundo especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira. Para cientistas políticos, o conflito tem o potencial de alterar o xadrez geopolítico da região, com Israel e Irã à frente das peças.

Veja a seguir 6 dúvidas respondidas por especialistas sobre a guerra em Israel:

1. O que defende o Hamas?

O Hamas é um grupo de militantes sunitas que defende desde sua criação a extinção do Estado de Israel. Para o grupo, a nação hebraica é ilegítima e ocupa território da Palestina, região sagrada contestada pelo judaísmo e islamismo.

O Hamas foi formado em 1987 em Gaza. O grupo islâmico intesificou suas atividades a partir das negociações dos Acordos de Paz de Oslo, em 1993. Na ocasião, o governo de Israel assinou um acordo de paz com o líder da Organização de Libertação da Palestina (OLP). Mas, para o grupo, a resolução, apoiada pelo presidente dos Estados Unidos na época, Bill Clinton, não cumpriu a função de encerrar conflitos com os palestinos.

“Apesar de promover reconhecimento mútuo, os acordos de paz não foram adiante. O surgimento do Hamas responde a isso”, diz a cientista política Natalia Calfat. Desta forma, o grupo formou um partido político em Gaza.

2. Por que o Hamas atacou Israel?

Ainda não se sabe ao certo o motivo que levou o Hamas a invadir Israel no último sábado. O grupo, no entanto, matou mais de 700 israelitas, segundo números do Ministério da Defesa de Israel, e fez centenas de reféns.

Na visão de Natália, o conflito entre o grupo palestino e militares israelenses não era “uma questão de se, mas quando”. A especialista destaca que, desde 2005, quando abandonou Gaza, Israel realiza diversas operações militares no território. Por exemplo as operações Chumbo Fundido, em 2008, e a Operação Limite Protetor, em 2015.

Outra hipótese levantada por especialistas é de que o Hamas teria sido apoiado pelo Irã. Apesar de haver divergências religiosas entre os dois – o Irã é uma República islâmica xiita enquanto o Hamas é sunita – para os iranianos, a invasão seria vantajosa porque enfraquece a influência israelense na região. Esta é a avaliação do professor de Relações Internacionais da Faculdade Rio Branco, José Maria Souza Júnior.

“O Hamas prega o fim de Israel, que na visão dele é ilegítima. Sendo um grupo de resistência, ele tem um apoio de recursos. O compartilhamento com o Irã vem de o grupo Hamas enfraquecer Israel porque é uma ameaça constante”, diz.

3. Como países vizinhos de Israel vão reagir à guerra?

Os países vizinhos de Israel e de maior influência na região do Oriente Médio são Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Líbano.

Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM, aponta as diferentes reações entre Irã e Arábia Saudita:

“O Irã afirmou apoio ao Hamas, mas negou que tenha participado da organização e preparação do ataque. O país tem afirmado que a atuação do Hamas contra a opressão israelense na faixa de Gaza é legítima, e também que apoia o pleito do Hamas que defende que as fronteiras de Israel devem voltar para o status de 1967”

“Já Árabia Saudita tem colocado que é preciso conter a violência e que se deve encontrar uma solução pacífica”, prossegue.

Os Emirados Árabes, por outro lado, tiveram uma reação mais comedida, aponta Natália Calfat. Ela afirma que o Egito fez o mesmo, apelando para o resgate dos civis egípcios no país. O Catar tomou uma medida para mediar as negociações de reféns entre Israel e o Hamas.

4. Quanto tempo vai durar a guerra entre Israel e Hamas?

Especialistas alertam que não há horizonte de uma paz de curto prazo para a guerra em Israel. A partir desta segunda-feira, o consenso é que Israel pode intensificar operações em Gaza como retaliação aos ataques do último sábado.

De acordo com Denilde, isto é “algo que levará a uma luta intensa entre os soldados israelenses e os membros do Hamas”.

Por outro lado, afirma a professora da ESPM, a captura de reféns israelenses pelo Hamas “gera uma grande pressão junto ao governo para conseguir liberá-los”.

O conflito tem potencial para “mudar o tabuleiro de forças da região”, diz Natália.

Outro possível desdobramento que prolongaria o conflito é um novo fronte com o grupo terrorista Hezbollah, ao norte de Israel e na fronteira com o Líbano.

5. Como os EUA reagirão ao conflito?

Os Estados Unidos são um parceiro de longa data de Israel. Enquanto o conflito se restringe à faixa de Gaza, os norte-americanos negaram a intenção de participar em uma invasão terrestre ao lado das forças israelenses. Mas o presidente americano Joe Biden demonstrou apoio incondicional ao país.

Denilde Holzhacker afirma que a administração Biden vem sofrendo grande pressão para conter ações do Hamas.

Além disso, prossegue a especialista, uma das principais baixas do conflito é a influencia norte-americana na mediação de um acordo entre Arábia Saudita e Israel. Em agosto, ambos os países chegaram a um acordo parcial para normalizar relações diplomáticas.

Mas agora este acordo “está praticamente arruinado”, diz à Inteligência Financeira o cientista político Christopher Garman, da Eurasia.

“Internamente, o ex-presidente (Donald) Trump acusa Biden de financiar os ataques do Hamas. Isso porque os EUA e o Irã negociaram a troca de prisioneiros por meio de transações financeiras, e Trump afirma que este dinheiro teria sido usado pelo Irã para financiar o Hamas”, conta Calfat.

6. A guerra em Israel afeta a economia global e os investimentos?

A Economia global já está sendo afetada pela guerra em Israel. O efeito principal pode ser o aumento dos preços de petróleo, commodity que é abundante na região do Oriente Médio. Desde os ataques do Hamas no sábado, os contratos futuros para janeiro de 2024 do barril de óleo Brent subiram de US$ 83 para US$ 86.

Outros choques na commodity ou derivados, como o diesel, podem ser sentidos caso o Irã ou outros países árabes entrem no conflito, afirma o professor Jose Maria, da Rio Branco.

Mas o impacto no petróleo pode se limitar ao curto prazo, cita Garman. Para ele, não haverá mudança no perfil dos investidores internacionais no médio para longo prazo, o que beneficiaria o Brasil e outros países emergentes.

Contudo, num horizonte mais curto, o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, diz que o investidor deve migrar para ativos de maior segurança, como o dólar e o ouro. A renda fixa americana também é outro porto-seguro em meio à instabilidade gerada pela guerra em Israel.