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Trump volta à Casa Branca com inflação sendo decisiva para voto dos americanos
O empresário Donald Trump voltará a ser presidente dos Estados Unidos após projeção da “Associated Press” (AP) indicar que ele superou a marca de 270 delegados eleitorais após sacramentar vitória no Estado de Wisconsin. A vitória do republicano marca um dos mais significativos ressurgimentos políticos da história dos EUA.
Aos 78 anos, o milionário retornará à Casa Branca quatro anos após ter sido removido de lá queixando-se de fraude eleitoral e após ter se tornado réu em quatro processos judiciais — nos quais responde por 91 acusações.
O caminho para a vitória da vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, começou a se estreitar após a meia-noite de ontem, quando a Pensilvânia começou a pender para Trump. O Estado, com 19 votos no Colégio Eleitoral que efetivamente define o presidente dos EUA, era fundamental para quem quisesse vencer a corrida à Casa Branca.
O que explica a vitória de Trump?
Para 39% dos eleitores americanos, segundo a pesquisa de boca-de-urna da agência de notícia Associated Press, a economia foi o tema decisivo desta eleição. Isso significa principalmente a inflação. Em junho de 2022 o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos EUA atingiu 9,1% (no acumulado de 12 meses), o maior desde 1981.
Isso foi um choque para os americanos, especialmente os jovens adultos, que nunca tinham visto nada parecido. A inflação hoje está sob controle, mas os efeitos continuam sendo sentidos por uma parte importante da população, em termos de perda de poder aquisitivo.
Esse pico inflacionário foi em parte causado por um fator externo: o desarranjo nas cadeias globais de produção provocado pela pandemia de covid-19.
Mas houve também dois fatores internos: o excesso de estímulo (isto é, de gasto público) aprovado pelo presidente democrata Joe Biden e a demora do Fed (o banco central americano) para elevar a taxa de juros. O Fed minimizou a alta inicial da inflação, por achar que se tratava de um fenômeno passageiro. Esses dois erros, de política fiscal e monetária, acabaram custando caro para os democratas.
Imigração: tema decisivo
O segundo tema decisivo, ainda segundo a pesquisa da AP, foi a imigração apontada por 20% como o tema decisivo. O eleitorado americano puniu a entrada descontrolada de imigrantes pela fronteira com o México nos três primeiros anos de governo Biden. Quando Biden reagiu, tardiamente, ficou parecendo que o estava fazendo apenas de olho nas eleições.
Havia assim uma grande expectativa de mudança, e Trump apresentou-se como o candidato da mudança, como quem iria resolver esses problemas. Para a democrata Kamala Harris, vice de Biden, era difícil se livrar do legado do atual governo.
Só isso deveria bastar para o candidato republicano obter uma vitória confortável. Mas a elevada rejeição de Trump possivelmente tornou a disputa mais apertada do que seria normalmente.
Biden e Kamala Harris
Por fim, os democratas erraram quase tudo o que podiam errar nesta campanha eleitoral. Em primeiro lugar, não conseguiram barrar a candidatura à reeleição do presidente Joe Biden, que disputou e ganhou as prévias do partido. A aprovação de Biden é muito baixa e seria improvável que ele derrotasse Trump, mesmo no melhor da sua forma física.
O presidente só foi convencido a desistir no final de julho, depois que o seu desempenho desastroso no primeiro debate com Trump escancarou o que os eleitores americanos já vinham dizendo em todas as pesquisas: que ele era velho demais para ser candidato. Nunca um partido trocou de candidato tão tarde na disputa presidencial. E nunca um partido que trocou de candidato venceu.
Então havia o problema de quem substituiria Biden. Àquela altura era politicamente muito difícil barrar a candidatura da vice-presidente Kamala. Mas ela era desde início uma aposta muito arriscada. Foi um dos vice-presidentes mais apagados da história recente dos EUA e não ganhou estatura política.
Kamala é da Califórnia, e os democratas nunca elegeram um presidente da Califórnia, que é considerado um Estado muito esquerdista. Além, claro, de ela sofrer duplo preconceito, por ser mulher e por ser negra. É possível que o fato de ser mulher tenha facilitado para Trump atrair o voto de homens latinos e negros, o que possivelmente foi decisivo na eleição.
Virando votos
Kamala dificilmente teria vencido as prévias democratas, se Biden tivesse desistido antes. E os democratas talvez tivessem tido um candidato mais competitivo.
Ela também teve a sua parcela de erros. Escolheu um candidato a vice, o governador de Minnesota, Tim Walz, que pouco acrescentou em termos de voto. E não conseguiu capitalizar o impulso inicial de sua campanha.
Trump soube explorar os erros importantes do governo Biden e a condução ruim do Partido Democrata da candidatura presidencial. Fez uma campanha recheada de mentiras, como quando disse que imigrantes haitianos estavam comendo animais de estimação. Mas o desejo de mudança do eleitorado aparentemente superou qualquer aversão a Trump.
É provável ainda que o atentado tenha dado a Trump um impulso importante num momento em que Kamala parecia estar mais embalada. O atentado tirou força das acusações de que Trump é uma ameaça à democracia, mobilizou a sua base e gerou a imagem mais icônica desta eleição.
Com informações do Valor Econômico
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