Análise: Lula infla centrão fisiológico contra grupo ideológico que triunfou nas urnas

Presidente eleito enfrenta resistências da esquerda, mas avança junto a Lira para iniciar gestão com 'piso' de governabilidade, diz Fábio Zambeli, do JOTA

Luiz Inácio Lula da Silva em reunião no CCBB, onde funciona a transição, em Brasília (Foto: Cristiano Mariz)
Luiz Inácio Lula da Silva em reunião no CCBB, onde funciona a transição, em Brasília (Foto: Cristiano Mariz)

Em um dos movimentos prioritários da transição, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva vem alcançando êxito em afastar o núcleo do “centrão” da ala mais ideológica de partidos de direita, vitoriosa nas urnas em 2 de outubro.

Ao criar uma dinâmica de ampliação de sua base, agregando siglas do centro pragmático e estimulando a adesão em massa ao projeto de recondução de Arthur Lira (PP-AL) à Presidência da Câmara, Lula busca manter algum tipo de influência na pauta legislativa no início de sua terceira gestão.

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Embora esse não fosse o Plano A de sua campanha, o presidente eleito optou pela solução menos traumática para a governabilidade, contrariando petistas e aliados da esquerda, que defendiam um distanciamento de Lira e do seu bloco, pilar da blindagem política de Jair Bolsonaro na segunda metade de seu mandato e que permitiu ao atual governo um arsenal de medidas populistas que ajudaram no desempenho eleitoral bolsonarista.

Desde que foi eleito, Lula lançou uma operação para atrair PSD, MDB, União Brasil e segmentos do PSDB à base do futuro governo. E abriu tratativas com PP e Republicanos, que, embora tenham feito parte da coligação de Bolsonaro, já integraram o bloco governista nas gestões anteriores de Lula e Dilma Rousseff.

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O presidente eleito conseguiu arrancar dessas siglas um compromisso de independência inicialmente no Congresso, o que foi interpretado como vitória no time da transição.

Ao patrocinar esse movimento e liberar os partidos de esquerda para fechar com Lira, Lula acredita ter colocado uma trava na mobilização da oposição, hoje muito dependente do PL, de Valdemar Costa Neto, legenda à qual está filiado Bolsonaro.

De quebra, o petista avalia que conseguirá os votos necessários para aprovar a PEC que viabilizará recursos para programas sociais fora do teto de gastos e partirá com um piso de votos próximo de 350 no plenário, ainda que essa conta dependa do comando do virtual reeleito presidente da Casa.

Comissões

A estratégia de ocupação de espaços para reduzir o vigor dos bolsonaristas no Legislativo inclui lançamento de nomes para as comissões mais importantes, inclusive a de Constituição e Justiça, que é reivindicada pelo PL, sigla mais que elegeu deputados (99).

Nesta quarta-feira (30/11), o PT demonstrou que está seguindo as orientações de Lula. Em votação na Comissão Mista de Orçamento, os parlamentares do partido não se manifestaram sobre a proposta apresentada pelo PSOL para acabar com as emendas de relator, chamadas de “orçamento secreto” e muito combatidas pela campanha lulista.

A proposição foi aprovada na comissão pela deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS). Apenas ela e Elias Vaz (PSB-GO) registraram voto a favor de eliminar o mecanismo, que prevê mobilizar R$ 19 bilhões no orçamento de 2023 e é hoje a principal ferramenta do grupo de Lira para manter maioria na Casa.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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