Análise: Entrevista de Lula ao Jornal Nacional foi uma operação política bem-sucedida

Petista se preparou e procurou dialogar diretamente com o telespectador, evitando o embate com os entrevistadores

Lula em entrevista ao  ao JN: operação política bem-sucedida. Foto: Divulgação
Lula em entrevista ao ao JN: operação política bem-sucedida. Foto: Divulgação

A entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Jornal Nacional, da TV Globo, foi uma operação política bem-sucedida para o candidato que lidera as pesquisas presidenciais. O petista, que vinha apresentando rouquidão nos últimos dais, se preparou a semana toda para a entrevista e treinou as principais situações de possível confronto — principalmente para falar de corrupção, tema das primeiras perguntas.

Prova disso é que o petista chegou com anotações e citou os órgãos de controle e mecanismos de transparência e de combate à corrupção criados no seu governo. Além disso, falou cinco vezes de seu vice, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), para reforçar a experiência administrativa e a capacidade de construir alianças. Também repetiu o mantra que vem usando para tratar de economia diante do mercado — “credibilidade, previsibilidade, estabilidade” —, uma forma de não entrar em detalhes no seu plano.

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Quando questionado sobre o governo Dilma Rousseff, uma pergunta que a campanha já previa, Lula assumiu que houve equívocos na economia e novamente atribuiu o desastre do governo de sua sucessora a uma suposta sabotagem do Congresso.

O objetivo do ex-presidente foi dialogar diretamente com o telespectador, com quem estava na poltrona, evitando o embate com os âncoras — algo que consumiu muito tempo da entrevista com Bolsonaro na última segunda-feira (22/8). Essa foi uma orientação expressa para o petista antes do programa.

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Por exemplo, ao ser perguntado sobre a como será sua relação com Congresso, Lula aproveitou para reafirmar que o Auxílio Brasil de 600 reais vai acabar em dezembro. Esse deve ser um dos pontos mais explorados pelo PT na campanha, mesmo que Bolsonaro tenha afirmado varias vezes que vai manter o beneficio. Na sequência, o petista aproveitou para falar do “churrasquinho” que ele promete voltar e até pegou carona no jogo de futebol do Flamengo.

Em alguns momentos não conseguiu manter essa linha e demonstrou algum nervosismo. Mas, de forma geral, foi o Lula de sempre: bom orador e, na medida em que ficou mais confortável na bancada, inflamado. Não estava suave, nem tampouco paz e amor. Mas repetiu seu desempenho dos palanques.

É importante lembrar que Lula dificilmente terá oportunidade de se expor para uma audiência de mais de 45 milhões de pessoas, número de telespectadores que, segundo os cálculos da emissora, são impactados pelo índice de quase 35 pontos. É cinco vezes o público que acompanhará debates como o da Band, marcado para o próximo domingo.

O que esta semana de sabatinas na TV aberta oferece ao eleitor é um retrato do que vem por aí na campanha. É como se os apresentadores do telejornal fizessem o papel de desconstruir os entrevistados, exatamente na linha do que o marketing dos candidatos fará a partir de sábado: potencializar a rejeição do rival. Essa será a tônica da campanha.

E quem foi melhor, Lula ou Bolsonaro? A comparação é difícil porque a participação mais “defensiva” do presidente na segunda-feira foi considerada uma vitória, dado o histórico de embates com a TV Globo. No entanto, o petista se preparou mais e foi mais disciplinado, procurando dialogar diretamente com o povo e passando alguns recados importantes.

Dificilmente sabatinas como essas tiram ou dão votos para dois candidatos que têm eleitores tão consolidados, tão sólidos. Mas, é bom lembrar: 0 a 0 a esta altura do campeonato ajuda quem está na frente.

Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo.
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