Análise: Entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional fura bolha, mas não muda quadro eleitoral

Presidente usou palanque da Globo para abordar questões práticas da vida dos eleitores em detrimento da agenda de confronto, diz Fábio Zambeli, do JOTA

Presidente Jair Bolsonaro (PL) durante entrevista no Jornal Nacional (Foto: Reprodução)
Presidente Jair Bolsonaro (PL) durante entrevista no Jornal Nacional (Foto: Reprodução)

A entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Jornal Nacional marcou o início para valer da campanha eleitoral. Uma audiência acima de 30 pontos que fura as bolhas e abre a casa dos brasileiros para uma fala longa de cerca de 40 minutos do presidente – que foi duramente questionado em alguns momentos pelos entrevistadores, algo que não é comum em sua rotina com a mídia.

O placar geral da entrevista é de um grande zero a zero. Quem apoia o presidente vai dizer que ele arrasou e compartilhar nas redes sociais alguns recortes para mostrar que ele enquadrou William Bonner e Renata Vasconcellos. Já quem é contra ele certamente achou que ele foi um desastre e vai compartilhar checagens de informações falsas.

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A entrevista pouco muda a corrida por votos, mas mostra que Bolsonaro, após muito confronto e muita briga, está ao menos se esforçando e tentando tratar das questões que afetam a realidade dos brasileiros. Essas questões podem, sim, fazer mudar o quadro eleitoral, que hoje é favorável a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-presidente lidera as pesquisas de intenção de voto e tem se mantido estável na corrida, apesar da melhora recente de Bolsonaro.

Entre os pontos mais relevantes da entrevista está o compromisso meio enviesado, até mesmo envergonhado, com o reconhecimento do resultado das eleições. Bolsonaro falou em pacificação com o TSE e em por um ponto final nessa questão, mas logo voltou dizer que “eleições limpas e transparentes” serão respeitadas por ele, o que é um conceito bastante subjetivo. E ainda atribuiu aos militares um papel que eles não têm, que é o de decidir o que precisa mudar no sistema eleitoral.

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O pior momento para Bolsonaro foi quando ele tratou de educação. O presidente disse sem ser perguntado que um ministro seu foi preso [o pastor Milton Ribeiro], e não foi enfático ao falar de corrupção na pasta. Em sua fala final, aparentemente treinada, mas sem cálculo de tempo correto, Bolsonaro falou de MST, de água, de mulheres, de PIX “tirando dinheiro dos banqueiros”, dívidas do FIES… Enfim, tentou enfileirar medidas de seu governo com impacto concreto na vida das pessoas. Essa será a tônica do seu programa eleitoral na TV a partir da próxima semana.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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