Análise: De olho no voto útil, Lula retoma pontes com empresários e empodera “guru” econômico

Ex-presidente, antes refratário a assumir compromissos na campanha, antecipa série de conversas com o PIB, diz Fábio Zambeli, do JOTA

(Foto: Flávio Ilha)
(Foto: Flávio Ilha)

Empenhado em reconstruir pontes com o empresariado e atuar na contenção dos danos que a desconfiança sobre a formulação econômica vem impondo à sua candidatura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobra de seus auxiliares uma agenda permanente com representantes do PIB e do mercado.

Em estratégia para tentar definir o pleito no primeiro turno com lastro no “voto útil”, o petista, líder nas pesquisas para o Planalto, manifesta a intenção de antecipar “a conta-gotas” alguns dos pontos mais relevantes do seu plano de diretrizes para um eventual terceiro mandato. O foco é demonstrar a essas plateias que assumirá compromissos com a responsabilidade fiscal e não haverá “solavancos” na economia.

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Depois de três encontros com empresários e operadores do sistema financeiro, o ex-presidente prepara um evento expandido no qual pretende se comunicar diretamente com os grandes industriais.

Convidado pelo presidente Josué Gomes da Silva, de quem é amigo, Lula deseja falar à Fiesp na primeira quinzena de julho. A ideia da equipe lulista é que a apresentação do candidato à entidade mais simbólica do setor produtivo paulista marque um novo momento na campanha e produza uma espécie de vacina contra o “Risco PT” na economia.

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As últimas conversas com o empresariado têm sido marcadas por um roteiro fundamental: crítica ao aumento de juros, promessas de inflação baixa, reverência à autonomia do Banco Central, projeção de câmbio ideal (algo na casa dos R$ 4,70) e uma convocação do setor privado para cooperar (e lucrar) com o crescimento do PIB.

Um tema, contudo, tem consumido mais tempo e mais debate nessas reuniões fechadas — o controle dos gastos públicos.

Com ajuda de Geraldo Alckmin, escalado para defender os números da gestão petista, Lula tem afirmado que terá uma “âncora fiscal”, apesar da entusiasmada defesa do fim do teto.

O ex-tucano, candidato a vice na chapa, é quem costumeiramente saca do bolso anotações sobre o superávit primário gerado entre 2003 e 2010, mesmo sem a regra do teto vigente. E fala também do seu papel como avalista do programa econômico.

“O cara”

Outra mudança na conduta de Lula, que recentemente declarou em entrevista à Revista “Time” que só diria o que pretende fazer na economia após a eleição, tem sido o empoderamento do economista Gabriel Galípolo.

Próximo de Fernando Haddad e de Luiz Gonzaga Beluzzo, o ex-banqueiro participa de todos os encontros e faz conversas paralelas com os participantes, abrindo canais de diálogo com os comensais.

Mesmo que Lula evite credenciá-lo como porta-voz oficial da área econômica, Galípolo já assumiu, na prática, esse papel. Ao lado dos especialistas que trabalham para a Fundação Perseu Abramo na construção do plano de diretrizes econômicas, o economista cresce na bolsa de apostas da campanha para um cargo executivo num futuro governo, caso Lula conquiste seu terceiro mandato.

Ainda assim, o papel mais técnico de Galípolo ficaria num nível de gestão inferior ao perfil político que o ex-presidente planeja para a dianteira do futuro Ministério da Economia.

Bipolaridade

Lula, contudo, dá indicativos de que usará a tática de alternar agendas com os patrões e os trabalhadores no transcorrer da campanha. O exemplo é a agenda desta quinta-feira, com os líderes dos petroleiros no Rio de Janeiro.

Em pauta, a “valorização da Petrobras”, em roteiro diametralmente oposto ao do rival Jair Bolsonaro (PL), entusiasta da privatização da companhia.

As falas sobre o tamanho do Estado e as restrições a concessões e venda de controle de estatais são as mais questionadas pelos empresários nas reuniões que vêm mantendo com o ex-presidente. Nessa seara, dizem esses interlocutores, as digitais do líder sindical de esquerda seguem intactas.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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