Análise da Semana: Com transição à espera de decisões de Lula, partido de Bolsonaro tenta ‘terceiro turno’

Com o questionamento do segundo turno, PL produziu mais um fato político para manter mobilizados os apoiadores do presidente, diz Fábio Zambeli, do JOTA

Foi uma semana de muita tensão política em Brasília. O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que revisasse o resultado do segundo turno por considerar que urnas antigas que foram usadas para a votação teriam falhas. O pedido foi baseado em uma auditoria contratada pelo próprio partido.

O movimento, liderado pelo presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, acabou materializando aquilo que se esperava havia muito tempo: caso derrotado, o presidente iria questionar o resultado das urnas, pois vinha alegando há mais de um ano que não confiava no sistema eletrônico adotado no país.

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Bolsonaro, que está há quase um mês recluso, sem atividades públicas e sem se comunicar com seus eleitores, ainda não reconheceu a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), embora a transição venha ocorrendo de vento em popa, conduzida pelos políticos do centrão que estão no governo e no Congresso com a equipe do presidente eleito.

A resposta do TSE foi rápida e dura: exigiu que o PL requeresse a investigação também para o primeiro turno, ocasião em que o partido elegeu a maior bancada da Câmara, com 99 deputados, e passou a ter a maior bancada também no Senado, agora com 14 senadores.

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Como Valdemar recuou, alegando que esse procedimento causaria “tumulto processual”, o presidente do tribunal, Alexandre de Moraes, decidiu arquivar a representação e impor uma pesada multa, de R$ 22,9 milhões, ao partido por litigância de má-fé.

Era sabido que a chance de uma iniciativa como essa no TSE prosperar era próxima de zero. Mas o PL produziu, na verdade, mais um fato político para manter mobilizados os apoiadores de Bolsonaro que seguem em manifestações por todo o país, sobretudo no entorno de quartéis e bloqueando rodovias.

Novos capítulos dessa mobilização — que pede, entre outras coisas, uma intervenção militar, o que não encontra previsão na Constituição — devem acontecer na diplomação dos eleitos e na posse. A tendência é de mais tumulto pela frente.

Enquanto isso, o governo eleito segue com dificuldades para avançar na PEC da Transição, que pretende viabilizar os programas sociais prometidos na campanha. O Congresso está endurecendo nas negociações e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aproveita para ampliar sua base de apoio para permanecer no cargo por mais dois anos. Vários partidos estão aderindo a Lira, o que tende a deixar o centrão ainda mais forte na relação com o Executivo.

Lula, que passou por uma cirurgia para retirada de uma lesão na laringe, teve que adiar seu retorno a Brasília. O presidente eleito vem sendo cobrado a anunciar rapidamente o seu ministro da Fazenda. O mais cotado, como temos dito aqui no JOTA desde o início do mês de novembro, é o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT).

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)

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