Análise: Bolsonaro tem vitória política no feriado da Independência, mas não deve ganhar voto
Presidente evitou embate com o STF e transformou 7 de setembro em comício. Confira um resumo da call com analistas do JOTA
O presidente Jair Bolsonaro transformou o bicentenário da Independência em grandes comícios eleitorais em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo neste 7 de setembro. Em suas falas na Esplanada dos Ministérios e na praia de Copacabana, Bolsonaro evitou um embate direto com o Supremo Tribunal Federal (STF), sobretudo com o ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos sobre as fake news e também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O mais perto que chegou disso foi quando afirmou que fará, caso seja reeleito, com que todos joguem “nas quatro linhas da Constituição”. E também quando trouxe o empresário Luciano Hang, um dos empresários bolsonaristas que foram alvo de mandado de busca e apreensão autorizado por Moraes, para seu lado durante o ato cívico. No Rio de Janeiro, afirmou: “estamos ao lado dessas pessoas que nada mais tiveram que sua privacidade violada”. E completou: “nós não queremos que isso aconteça com vocês”.
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Para Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA, o ato mostrou um Bolsonaro “com mais interesse em vencer as eleições, e não em contestá-la”. A análise foi feita numa call exclusiva para assinantes JOTA PRO Poder para comentar os desdobramentos dos atos de 7 de setembro na campanha eleitoral e na situação institucional do país.
“O objetivo era gerar a percepção de que o presidente não está isolado com relação ao povo. E para isso o evento serviu bastante. Centenas de milhares de pessoas foram as ruas defender Bolsonaro”, analisou Zambeli. Para ele, essas imagens vão embalar a fase final da campanha e reforçam a ideia de que Bolsonaro até pode não crescer nas pesquisas, mas tampouco irá derreter — o que é importante para que a campanha não entre em uma fase de “já perdeu” e perca aliados importantes. Nesse sentido, o 7 de Setembro seria uma vitória de Bolsonaro, uma espécie de “seguro contra a desmobilização”.
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Apesar de Bolsonaro ter pautado toda a conversa em torno do 7 de Setembro, o analista-chefe do JOTA acredita que essa vitória política de Bolsonaro não será sentida nas urnas. Os eventos desta quarta-feira “não dão nenhum voto a mais para Bolsonaro ou para Lula”.
Apoiadores menos belicosos
A analisa de Congresso do JOTA, Bárbara Baião, acompanhou as manifestações de Brasília na rua. Ela avalia que, em comparação com o 7 de Setembro de 2021, neste bicentenário “os apoiadores [de Bolsonaro] estavam menos belicosos”. Havia menos faixas pedindo intervenção militar ou AI-5, e mais cartazes pedindo “eleições transparentes”, de forma mais atenuada.
Baião contou que os operadores do Centrão estavam receosos com relação ao tom que seria adotado por Bolsonaro em seus discursos. Segundo apurou, Bolsonaro dava sinais nos bastidores de que poderia “derrapar no tom” contra o Judiciário, explicou a analista durante a call com assinantes.
Segundo sua análise, o discurso apostou por um discurso eleitoral que vai na linha do conservadorismo, de uma agenda moral. “É o Jair que quer ganhar a eleição”, resumiu. Também em comparação com o 7 de Setembro de 2021, ela afirma que a tensão do ano passado ocorreu por conta dos caminhoneiros — ausentes neste ano. “Desta vez o que se via era um evento mais estruturado, com segmentos que vão estar em peso com o presidente, como o agronegócio”, explicou.
Ela também apurou que o PT ainda está em dúvidas sobre se o ex-presidente Lula vai liderar um ato no dia 10 de setembro para rivalizar com os atos deste 7 de setembro. É possível que outros partidos de oposição façam essa mobilização, mas o PT teme não conseguir atrair tanta gente como Bolsonaro — que contou com meses de preparação e toda a estrutura e recursos do governo. “O PT sempre polarizou com o PSDB, mas nunca competiu com alguém que coloca gente na rua. Pode sair perdendo nessa comparação”, explicou.
Urnas ausentes
Já Felipe Recondo, diretor de conteúdo do JOTA, destacou que havia a expectativa de uma contestação forte das urnas eletrônicas neste 7 de Setembro. “O tom do discurso não se compara com o do ano passado”, avaliou. Apesar de algumas faixas contra o TSE, uma contestação mais forte não foi verbalizada como em 2021, quando Bolsonaro xingou Alexandre de Moraes e prometeu que não obedeceria suas decisões.
“Não houve nenhuma surpresa do ponto de vista institucional, a única surpresa foi o tom mais ameno com relação ao 7 de Setembro do ano passado. Depois que os militares abandonaram essa pauta, a urna deixou de um problema”, explicou Recondo, em referência ao acordo de paz firmado entre o TSE e o Ministério da Defesa em torno das urnas.
Sobre o uso do cargo e da estrutura estatal para fins eleitorais por parte do presidente da República, Recondo avalia que é natural que outros candidatos questionem o TSE. Mas estas ações, que já começaram a ser anunciadas, não devem trazer consequências práticas significativas.