Análise: Bolsonaro aposta alto em mudanças na Petrobras e Guedes ressurge como avalista

Presidente usa nova troca no comando da empresa para acalmar centrão; ministro administrará pressão sobre preço dos combustíveis

Paulo Guedes, ministro da Economia (Foto: Alan Santos/PR)
Paulo Guedes, ministro da Economia (Foto: Alan Santos/PR)

Com a nova mudança no comando da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta aplacar as pressões de seu núcleo-duro para uma intervenção direta na política de preços da empresa. O presidente prometeu a seus aliados do centrão que atuará “dentro dos limites das suas atribuições” para conter a escalada nos preços até outubro.

O risco inflacionário vem sendo apontado reiteradas vezes pela coordenação da campanha, chefiada pelo ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), e pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, como “o fator decisivo” para a eleição.

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Um desses interlocutores lembrou ao JOTA que a advertência foi feita de forma veemente pelos ministros palacianos ainda em outubro do ano passado. “O presidente está adiando, mas é uma demanda que foi apresentada há mais de seis meses. É um desgaste que poderia ser evitado”, afirma essa fonte do governo, para quem a recuperação das intenções de voto de Bolsonaro está “paralisada” por causa da agenda negativa do custo de vida, puxada pelo preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha.

Substituindo o recém-empossado José Mauro Coelho pelo secretário de Economia Digital do governo, Caio Mario Paes de Andrade, o presidente prospecta um arranjo político para segurar novos aumentos sem que isso seja interpretado como uma intervenção permanente pelo mercado.

É expressa a ordem no Planalto para que se encontre uma alternativa à atual política de paridade internacional, ao menos durante o período em que houver “eventos externos” que desequilibrem os preços do petróleo, como a guerra na Ucrânia.

Aposta de risco

É no meio dessa solução política que se encaixa o ministro Paulo Guedes. Machucado com a primeira troca na presidência da estatal, em 2021, quando seu indicado Roberto Castello Branco foi demitido para dar lugar ao general Joaquim Silva e Luna, da cota pessoal bolsonarista, o titular da Economia age para salvar a campanha de reeleição do presidente e se projetar para um eventual segundo mandato.

Hoje, Guedes tem ascendência sobre o novo ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, e agora também deve manter voz de comando com o novo presidente da Petrobras. Ambos foram auxiliares dele no Ministério da Economia.

Indagado sobre o tema nos corredores de Davos, no Fórum Econômico Mundial, Guedes deu fortes indicativos de que está operando politicamente. Deu uma esbaforida entrevista fugindo das perguntas e indicando que cabe à “diretoria da empresa” definir a política de preços. Evidentemente que o que o ministro diz em público contraria o que faz reservadamente.

Trata-se de mais uma estratégia de risco de Guedes. Com as suas digitais nas reformulações no MME e na Petrobras, o chefe da equipe econômica trouxe para sua seara a responsabilidade de entregar uma saída para a crise dos combustíveis. E será cobrado por Bolsonaro e pelo centrão pelos resultados. Se conseguir, será fiador do possível sucesso eleitoral do presidente. Caso falhe, terá que administrar o estrago com a ala política e com o gabinete.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em Brasília)
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