Análise: Auxílio eleitoral é o improviso do governo para resolver problemas econômicos

Raciocínio no Congresso é de que não se trata mais de ajudar Bolsonaro, mas de não prejudicar a própria reeleição, diz Bárbara Baião, do JOTA

Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

Partiu do senador Fernando Bezerra (MDB-PE) a ideia de endereçar, diretamente ao eleitor, o montante de quase R$ 30 bilhões que o governo federal estava disposto a gastar para compensar estados que adotassem alíquota zero do ICMS sobre diesel e gás, até dezembro. O ex-líder do governo no Senado não vai disputar a reeleição, mas, eleitoralmente, quem pode se beneficiar dos ganhos políticos da medida é o filho Miguel Coelho, pré-candidato ao governo de Pernambuco.

A solução levada ao Planalto no último dia 21 agradou de imediato o presidente Jair Bolsonaro que, dias antes, diante da notícia de um novo reajuste de preços pela Petrobras, cobrou soluções da equipe, e ouviu do ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, que a saída seria acelerar o projeto de privatização da estatal.

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Contrariada, a ala política começou a discutir a edição de uma Medida Provisória que segurasse, por algum prazo, a implementação do aumento com base em critérios de transparência, previstos na Lei das Estatais – e que estariam sendo descumpridos pela Petrobras. O plano não avançou dentro do Executivo, mas também não saiu dos planos do centrão, interessado em alterações para devolver aos políticos as indicações ao comando da petroleira.

Os três episódios têm em comum o improviso do governo na busca de alternativas aos problemas econômicos do país. O modus operandi não é, de fato, uma novidade da atual gestão. Mas, pela proximidade com as urnas, cobram como nunca o preço pela reeleição. Também não é novidade que, na ausência de diretrizes, o Congresso lidere as soluções.

Nesta que parece ser a última discussão de fôlego entre parlamentares antes de outubro, o raciocínio dos operadores políticos é de que não se trata mais de ajudar Bolsonaro, mas sim de não prejudicar a própria reeleição. São cada vez mais frequentes os relatos de políticos que, em campanha nas bases, são aconselhados por cabos eleitorais a esconderem a vinculação com o governo Bolsonaro.

A cartada final, para a política, será a PEC 16/2022, que deve começar a ser discutida pelo Senado nesta quarta-feira (29). Há tanto interesse dos parlamentares na associação com o pacote social que uma disputa silenciosa tem marcado as articulações sobre o rito de tramitação das medidas que incluem dobrar o vale-gás, implementar um “Pix caminhoneiro” de cerca de R$ 1.000 e compensar o setor de transporte por gratuidade de passageiros idosos. Uma ala da base governista, capitaneada pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), defende fatiar a proposta, deixando nas mãos do ex-presidente do Senado a ampliação das parcelas do Auxílio Brasil. Em outras palavras, a paternidade da medida.

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O movimento não deve prosperar, mas é mais um sinal de desconfiança de aliados de primeira hora do Planalto, ao menos até aqui, sobre as chances de reeleição de Bolsonaro. O mesmo repertório foi colocado em campo, na semana passada, pela campanha à reeleição de Arthur Lira. Um jingle de 35 segundos atribui ao presidente da Câmara a responsabilidade por uma série de medidas. Entre elas, por ter “feito o auxílio emergencial acontecer”, sem qualquer menção a Bolsonaro na peça.

(Por Bárbara Baião, analista de Congresso do JOTA)
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