Análise: Abstenção no 1° turno entra no foco das campanhas de Lula e Bolsonaro

Núcleo político do presidente calcula maior prejuízo para o rival; PT prepara ofensiva de comunicação para convocar eleitores às urnas, diz Fábio Zambeli, do JOTA

Foto: Bruno Kelly/Reuters e Mauro Pimentel/AFP
Foto: Bruno Kelly/Reuters e Mauro Pimentel/AFP

Diante da cristalização do avanço de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na reta final, a campanha de Jair Bolsonaro (PL) se debruça sobre os dados da abstenção e da convicção do voto. O QG do presidente avalia que a taxa de comparecimento será decisiva na definição da realização ou não de um segundo turno, visto que o candidato do PT está hoje perto dos 50% dos válidos, no limite de alcançar uma vitória já em 2 de outubro.

Estudos feitos pela equipe de Bolsonaro indicam que o potencial de abstenção entre eleitores de Lula oscila entre 20% e 25%. Já entre os que preferem Bolsonaro, seria de 10% a 15%. Os dados são captados em pesquisas que indicam a intenção do eleitor em ir às urnas.

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Em 2018, a abstenção atingiu 20,3%, maior marca em 20 anos. Estrategistas bolsonaristas esperam, com base em sondagens feitas em diversas regiões do país, que o índice seja maior neste ano — algo entre 23% e 24%.

Apesar dessa tendência, os institutos de pesquisa têm apontado baixíssimas taxas de indecisão, nulos e brancos — 4% a 6%, o que poderia indicar que o quadro real pode ser bastante diferente do captado nesses levantamentos estatísticos.

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“O que temos identificado é que existe uma convicção maior, uma disposição maior de comparecimento entre apoiadores de Bolsonaro. É um fenômeno que pode ser impactado por diversos fatores. Mas é uma campanha diferente, em que os ‘centristas’ estão menos representados e há menos alternativas para voto no primeiro turno”, afirma uma fonte a par dos estudos do comitê bolsonarista.

A campanha de Lula também teme que a abstenção afete o desempenho da candidatura do petista nas urnas e que anule o esforço para arrebanhar o voto útil dos eleitores de Ciro Gomes, Simone Tebet e indecisos.

Diante disso, o próprio Lula foi orientado a falar publicamente sobre o tema, convocando os eleitores a comparecerem às seções eleitorais no domingo. O ex-presidente usou o programa do apresentador Ratinho, no SBT, para difundir o alerta para sua base mais popular. E deve repetir o chamado nos comícios e em inserções veiculadas na TV até quinta-feira.

Peças de propaganda estão sendo confeccionadas para veiculação em diversas plataformas, na tentativa de chegar a públicos específicos das classes D e E, nas quais a preferência pelo lulismo explode, com vantagem superior a 30 pontos percentuais, de acordo com as mais recentes sondagens.

O X da questão

O acompanhamento diário da campanha do QG de Bolsonaro, que vinha dando a dianteira de intenções de voto ao presidente da República, identificou a ultrapassagem de Lula, pela primeira vez, no dia 19, segunda-feira. Desde então, o petista segue à frente, em situação de empate técnico nesse mecanismo de controle interno, patrocinado pelo PL.

Os pontos que mais preocupam a campanha são a recuperação de Lula na região Sudeste, a de maior densidade eleitoral, e a queda de Bolsonaro no Centro-Oeste, reduto tradicional do presidente.

Também foi acionado o alerta na campanha a respeito da expansão do apoio ao petista nas cidades de menor porte, antes uma fortaleza bolsonarista.

Sem capacidade de produzir fatos novos que invertam as tendências na reta final, o comitê bolsonarista trabalha exclusivamente para evitar que o pleito se decida no próximo domingo. Um eventual segundo turno já é avaliado pelos aliados do presidente como “lucro” diante do quadro desfavorável a 9 dias da votação.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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