Bradesco (BBDC4) avalia se Brasil passa por ‘segundo período de bonança externa’

Estudo do banco destaca dados para explicar surpresas com o crescimento do PIB do país

Por que o PIB do Brasil tem surpreendido positivamente e superado as previsões do mercado financeiro? Um estudo divulgado pelo Bradesco (BBDC4), assinado pelos economistas Marcelo Gazzano, Myriã Bast e Rafael Martins Murrer, discute se o país entrou em um “segundo período de bonança externa”.

No documento, a instituição financeira comenta que a expansão da atividade voltou a ficar acima do esperado no terceiro trimestre, ampliando assim a sequência de surpresas positivas.

“Ainda mais interessante, o consumo das famílias voltou a crescer, mantendo um ritmo de expansão de 4% anualizado nos últimos três trimestres”, destaca o texto.

Ao mesmo tempo, os economistas observam que, ao longo deste ano, também foi observada uma sequência de surpresas com a queda da inflação e principalmente nos núcleos da inflação, que é a parte mais correlacionada com o ciclo econômico.

“Há algumas hipóteses para essa combinação favorável de mais crescimento com menos inflação do que o esperado, como reverberações prolongadas dos muitos choques da pandemia, efeito da inércia baixista da queda de alimentos e combustíveis (que se espalharia mais rapidamente pela economia) e outras possibilidades não excludentes”, anotam os especialistas.

“Uma possibilidade é o aumento do crescimento potencial do país, especialmente a maturação das várias reformas feitas nos últimos anos. Além desses fatores, podemos estar entrando novamente em uma fase em que há um benefício do setor exportador, gerando um aumento da nossa capacidade de crescimento”, sugere o Bradesco.

‘Bonança externa’

O relatório do Bradesco lembra então que, em meados dos anos 2010, a alta dos preços exportados levou a um aumento de investimentos e crescimento no país. “Agora, podemos estar vendo algo semelhante, mas não necessariamente via preços externos, mas via quantidade produzida”, sinaliza o banco.

Em função do aumento do preço internacional de commodities no período entre 2006 até 2013, a instituição reforça que houve um crescimento acelerado dos termos de troca. Esse movimento contribuiu para a expansão das exportações brasileiras no período.

“Esse fenômeno permitiu o avanço da absorção doméstica acima do PIB. Entre 2006 e 2013, o PIB cresceu, em média, 3,9% ao ano, enquanto a absorção subiu 5,0%. Dentre os componentes da absorção doméstica, quem mais se beneficiou foi a formação bruta de capital fixo, e, com isso, a taxa de investimentos saiu de 17% do PIB em 2006 para 21% em 2013”, ressalta o documento do banco.

O que está acontecendo com o PIB do Brasil?

Para o Bradesco, algo similar pode ocorrer atualmente. “Mas, ao invés de mudança de preços relativos, agora, o movimento aparece no volume exportado”, avaliam os economistas.

Ainda no relatório, os especialistas comentam que o “quantum vendido” de petróleo está cerca de 40% maior do que o verificado entre 2018 e 2019.

“Isso é resultado de um alargamento importante da produção doméstica, e a expectativa é que essa tendência continue nos próximos anos. Nossas simulações indicam que o volume total exportado estaria 7% ou 3% abaixo do atual caso as exportações de petróleo ficassem no nível médio de 2010-2014 ou na média de 2018-2019, respectivamente”, comentam.

Além do petróleo, prosseguem os profissionais do banco, também estão crescendo as exportações de produtos agropecuários.

“A agricultura é um destaque de aumento de produtividade e isso contribuiu para a safra recorde de 2023. Nos doze meses encerrados em outubro, o volume vendido de produtos agropecuários aumentou quase 30%. Caso as exportações agrícolas tivessem subido no ritmo médio da última década, o total exportado seria 3% menor”, diz o texto.

Por fim, o estudo do Bradesco considera que, como os movimentos na produção de petróleo e a produtividade da agricultura são estruturais, é de se esperar que a força das exportações siga nos próximos anos.

“Com isso, abre-se espaço para o aumento da absorção doméstica acima do PIB sem colocar pressão sobre as transações correntes. Assim, podemos ampliar os investimentos do país mesmo com uma baixa taxa de poupança”, completa o documento.