Como tarifas de Trump poderiam mexer com a fabricação de aviões da Embraer?

Empresas citadas na reportagem:
Relatório do BTG Pactual responde diversas perguntas de clientes sobre o potencial impacto do aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos sobre a Embraer (EMBR3). As dúvidas dos investidores ganham destaque diante das discussões sobre a possibilidade de tarifas recíprocas impostas pelo presidente Donald Trump a produtos brasileiros.
“De forma geral, acreditamos que o impacto líquido de um aumento tarifário sobre a Embraer seria limitado, com a principal exposição concentrada na aviação executiva (~28% da receita líquida de 2024 da Embraer)”, avalia o BTG.
“Vale destacar que esse segmento conta com uma carteira de pedidos com mais de três anos de duração, o que significa que os volumes podem atravessar os riscos crescentes de recessão nos Estados Unidos”, acrescenta o banco.
Além disso, anota o relatório do BTG, os principais concorrentes da Embraer, como a Bombardier (Canadá) e a Dassault (França), parecem mais expostos a aumentos tarifários. Essa, na visão do banco, é uma dinâmica que também pode se refletir na aviação comercial.
“Apesar da recente correção nas ações, mantemos nossa recomendação de compra para Embraer, com base na nossa visão de um múltiplo estruturalmente mais alto por um período prolongado”, afirma a casa, que coloca o preço-alvo para os papéis EMBR3 em R$ 94.
O que a Embraer (EMBR3) produz nos Estados Unidos?
No mesmo documento, o BTG destaca que todos os jatos comerciais da Embraer são produzidos no Brasil. Com os modelos E1 e E2 fabricados integralmente em São José dos Campos (SP), principal polo industrial da Embraer.
Já na aviação executiva, os jatos Phenom são totalmente montados nos Estados Unidos. Enquanto a produção do Praetor depende da estratégia adotada.
“A abordagem mais comum é montar a aeronave em Gavião Peixoto, permitindo que ela voe para os EUA para montagem final e pintura — qualificando-se assim para o selo ‘Made in the USA’. No entanto, dependendo da demanda, a unidade brasileira pode produzir a aeronave por completo”, explica o banco.
Os aviões de defesa da Embraer são majoritariamente produzidos em Gavião Peixoto (SP), onde a empresa possui uma estrutura dedicada aos programas militares. Essa unidade é responsável pela montagem e testes de aeronaves como o C-390 Millennium e o A-29 Super Tucano.
“Portanto, a imposição de tarifas impactaria principalmente a aviação executiva, especialmente o Praetor, que estimamos representar cerca de 12% da carteira de pedidos da Embraer para 2024. Essa estimativa se baseia na participação da aviação executiva de 28% no total da carteira, com os jatos Praetor respondendo por 42% das entregas do segmento”, destalha o BTG.
Principais clientes americanos da Embraer
Simultaneamente, o relatório do banco indica que a Embraer possui uma base de clientes bastante sólida nos Estados Unidos. Por lá, a fabricante brasileira atua nos segmentos de aviação comercial, executiva e de defesa.
“Na aviação comercial, grandes companhias aéreas americanas — como American Airlines, Delta e United Airlines — operam jatos da família E-Jet (E170, E175, E190, E195), principalmente por meio de suas subsidiárias regionais”, menciona o BTG.
“Na aviação executiva, os EUA são o maior mercado da Embraer para jatos privados, com forte demanda pelos modelos Phenom e Praetor, vendidos para frotas corporativas, proprietários privados e empresas de táxi aéreo”, prossegue a instituição.
Aeronaves mais caras
Outra dúvida de investidores analisada pelo BTG aponta que quaisquer tarifas sobre o preço final das aeronaves (como um imposto sobre vendas) são automaticamente repassadas aos clientes, conforme previsto contratualmente.
Porém, caso as tarifas incidam sobre a estrutura de custos, o repasse exige negociações caso a caso.
“A maioria dos componentes não é fornecida diretamente por operações nos EUA. O alumínio, por exemplo, é geralmente importado da Europa ou adquirido localmente. Alguns motores também são importados para os EUA a partir das instalações da Pratt & Whitney no Canadá. Os motores costumam representar cerca de 15% do valor total de uma aeronave”, registra o BTG.
Concorrentes da Embraer e eventuais tarifas de Trump
Finalmente, o banco responde a investidores se Embraer seria mais ou menos impactada do que seus pares. O relatório então destaca que o modelo E1 não possui concorrente direto nos Estados Unidos. E o E2 tem exposição mínima ao mercado americano devido à “scope clause”, que restringe sua operação em função do peso.
“Na aviação executiva, o Phenom concorre principalmente com a Textron, enquanto o Praetor disputa mercado com Bombardier, Dassault, Gulfstream e Textron. A Textron e a Gulfstream produzem aeronaves de defesa inteiramente nos EUA, enquanto Bombardier e Dassault produzem principalmente no Canadá e na França, respectivamente”, destalha o BTG.
“Dado o foco recente do ex-presidente Trump em tarifas de importação contra o Canadá, acreditamos que a Bombardier poderia ser relativamente mais impactada do que a Embraer”, completa o banco.
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