Para Fabio Venturelli, CEO da São Martinho (SMTO3), a nova geração de carros híbridos flex vai roubar mercado dos carros elétricos chineses no Brasil. Ele, obviamente, é interessado no avanço dos veículos flex.
A São Martinho é uma das principais companhias do país no setor sucroenergético. E a primeira produtora de etanol no Brasil a obter certificação para emitir e vender créditos de descarbonização (CBios).
Em entrevista à Inteligência Financeira, na última terça-feira (14), Venturelli disse que os carros elétricos têm um grande desafio para ganhar o mercado no Brasil, a despeito do crescimento em vendas. O CEO da São Martinho participou da Itau BBA CEO Conference, em Nova York.
Contudo, a expectativa do CEO do Grupo São Martinho contraria a estimativa do setor.
Segundo números da Associação Brasileira de Veículo Elétrico (Abave), os fabricantes de carros elétricos esperam ter vendas no Brasil acima de 150 mil unidades em 2024. Se o aumento acontecer, será uma expansão de 60% ante 2023, quando foram emplacadas 93.927 unidades.
No entanto, Venturelli defende que a nova geração de híbridos flex, produzidos localmente, deve oferecer um pacote de benefícios melhores para o consumidor. O que vai da maior autonomia com economia de combustível ao melhor preço de revenda.
Mas, por enquanto, o interesse do consumidor brasileiro está no carro elétrico.
Segundo pesquisa da Ipsos Drivers, realizada em março, os motoristas que consideram como “muito provável” a aquisição de um veículo movido a bateria na próxima compra passou de 14%, em 2023, para 16%, em 2024.
A mesma pesquisa mostra que os consumidores que avaliam o carro da vez ser um modelo híbrido plug-in subiu de 13,3% para 15,9%.
Elétricos reduzem vendas na Europa
“Nos mercados que adotaram o carro elétrico um pouco antes (do Brasil), ou naqueles em que (o consumidor) tem essa possibilidade (de compra) há mais tempo, começamos a ver até um certo retrocesso (nas vendas)”, disse à Inteligência Financeira o CEO da São Martinho.
Ele tem razão.
De acordo com os dados da Associação Europeia de Fabricantes Automobilísticos (ACEA, na sigla em inglês), para março de 2024, a participação de mercado de carros elétricos na União Europeia caiu de 13,9% para 13%, na comparação anual. Na Europa, a frota de carros movidos a gasolina e diesel combinados representam praticamente 50% do mercado.
A queda recente nas vendas de carros elétricos na Europa fez os analistas reduzirem suas expectativas de crescimento para o segmento na zona do euro.
De acordo com o banco de investimento UBS, em relatório de abril, os europeus comprarão quase nove milhões de veículos elétricos a menos entre 2024 e 2030 do que o esperado.
A explicação é a alta recente nos preços dos elétricos no mercado europeu, a autonomia insuficiente e o carregamento desajeitado, que juntos afastam potenciais compradores. Ainda assim, a tendência é que a participação de mercado dos elétricos cresça para entre 60% e 65% até 2030.
Desafio da revenda
Outro ponto que joga contra o avanço dos elétricos no Brasil, segundo Venturelli, é o valor de revenda. “Sinceramente, acho que será um problema enorme para o consumidor brasileiro (mercado secundário de carros elétricos)”, comentou.
“Na hora que ele (consumidor) aloca a economia para a compra de um veículo e ele, basicamente, não tem nenhum valor residual ou tem um valor residual praticamente desprezível, acho que isso vai ser um impacto para o consumidor”, disse o CEO da São Martinho.
O segmento de empresas de locação é um exemplo.
Muitas delas estão desistindo de novas compras de veículos elétricos e retornando aos veículos a combustão. A explicação de algumas locadoras é de que elas não conseguem vender os carros elétricos após dois anos de uso.
Recentemente, Cláudio Zattar, o presidente da Unidas, afirmou à Veja que também existe resistência dos consumidores em locar os elétricos. Isso porque os preços de locação são, comparativamente, altos e falta infraestrutura de carregamento no Brasil.
Por ora, entretanto, as vendas de elétricos chineses no Brasil seguem a todo vapor.
No primeiro trimestre de 2024, as vendas de eletrificados chegaram a 36.090 e bateram mais um recorde, com aumento de 145% sobre o mesmo período do ano anterior (14.786 unidades).
A tal ponto que a dona da Fiat, Stellantis, anunciou na semana passada a venda de veículos elétricos chineses no Brasil em 2024.
Se os carros elétricos chineses vão ou não continuar ganhando mercado no Brasil com seus carros elétricos, o futuro dirá.