Por que Burger King cresce mais rápido que McDonald’s, apesar de ser menos produtivo?
O Burger King cresceu mais rápido que o McDonald’s no Brasil no ano passado e no quarto trimestre de 2024, inclusive nas lojas mais antigas (ao se descontar o efeito das inaugurações), mas o “Méqui”, como foi apelidado no país, com quase R$ 10 bilhões em receita anual, vende mais por loja, e pelo tamanho de sua escala, conseguiu absorver a alta da inflação, se mantendo mais competitivo em preço.
O McDonald’s, com seus 1.173 restaurantes no Brasil, teve receita líquida de R$ 9,52 bilhões em 2024, e o Burger King (BK), com 970 unidades, vendeu menos da metade do que isso, cerca de R$ 4,1 bilhões.
Os números do McDonald’s foram calculados pelo Valor com base no montante em dólar informado nos balanços trimestrais da Arcos Dorados, que opera o negócio no país, multiplicado pela cotação da moeda informada pela empresa nos relatórios dos trimestres.
Isso indica que a mais antiga cadeia estrangeira de sanduíches instalada no país é mais produtiva e tem escala maior, enquanto que a concorrente cresce em cima de uma base mais nova de lojas.
Apesar de o Burger King já estar no Brasil desde 2004, o McDonald’s abriu sua primeira unidade por aqui em 1979.
O Burger King no Brasil faz parte da Zamp, que inclui ainda as operações de Popeyes, Starbucks e Subway.
Como estão as empresas no Brasil?
Pelos dados de outubro a dezembro, o Burger King teve alta de 12% em suas vendas líquidas frente ao ano anterior e, em 2024, a alta foi de 16% versus 2023.
A expansão apenas das lojas mais antigas, em operação há mais de 12 meses, avançou 13% em 2024 e 9,4% no trimestre, logo, acima da taxa da inflação.
No McDonald’s, a alta é mais lenta, apesar de ser um dígito alto — uma relação entre as cadeias que já se viu em trimestres anteriores. No quarto trimestre, ele cresceu 9,2% e no ano, 12,4%.
As vendas das lojas mais antigas aceleram num ritmo bem menor, 5,5% de outubro a dezembro, abaixo do seu competidor direto, mas que a rede chamou de “consistente” em sua teleconferência a analistas, semanas atrás.
Sobre lucratividade, o McDonald’s gerou em Ebitda de pouco mais de US$ 99 milhões no Brasil de outubro a dezembro, cerca de R$ 580 milhões, alta de 25%. A Zamp, com todas as suas marcas, alcançou R$ 181 milhões no período, queda de 20%. O Ebitda mede o lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação.
Já de outubro a dezembro, a margem Ebitda na Zamp alcançou 13,9%, queda de 7,2 pontos, um recuo que estava fora das previsões dos analistas, pelo peso maior das despesas e pressão em custos com carnes, que pesou na margem bruta.
No McDonald’s a margem Ebitda no quarto trimestre no Brasil foi maior, de 22,3%, e subiu 2,9 pontos. A empresa diz que há um efeito de um ganho com créditos relacionados à folha de pagamentos, além de eficiências operacionais com redução de despesas no país. Excluindo esses créditos, a margem do Brasil ficou quase estável.
Diferenças de estratégia
O que aconteceu é que o “Méqui” usa a sua máquina de fazer sanduíches para absorver os baques de custos e abre negociações com fornecedores para tentar segurar o peso dos aumentos quando chegam pelo peso da inflação.
No Burger King, a estratégia foi outra: o peso em custos mais altos veio e parte foi para o preço. A proteína responde por cerca de 30% dos custos de BK, o negócio que mais compra o insumo entre todas as operações.
No relatório da companhia, a Zamp diz que a carne “sofreu um aumento agudo e repentino no segundo semestre do ano”. E optou-se por “ajustes de preços progressivos e de forma assertiva, mas que ainda não foram capazes de mitigar toda a diferença de custos” que pesou no trimestre, informa no relatório de resultados.
No fim das contas, a venda ainda cresceu no ano e no trimestre, como se vê pelos resultados do Burger King e da Zamp, mas a rede não conseguiu equilibrar a alta também em despesas da operação.
No McDonald’s, o executivo Mariano Tannenbaum, diretor financeiro, fala das mesmas pressões, mas cita a capacidade de absorção, em conversa com analistas após a divulgação dos dados, em 12 de março.
Tannenbaum disse que os custos mais altos com a compra de papel e alimentos, que aceleraram de preços no fim de 2024, foram compensados pela alavancagem operacional em todos os outros itens de linha de despesas do grupo.
“Em termos de custos e pressões de alimentos e papel, o que estamos vendo é que está vindo principalmente do Brasil, e em carne bovina. Essa é a principal fonte de pressão. Estamos trabalhando para mitigar isso gerenciando os preços do menu, o ‘mix’ de produtos, os preços dos fornecedores e outras eficiências”, disse ele, em 12 de março.
Pressões regionais
O diretor explicou que pesa de forma favorável o fato de não ter as mesmas pressões nas outras divisões regionais, no norte e sul da América Latina, e por isso consegue equilibrar melhor o peso negativo de custo em Brasil com a diversificação em outros países.
A Zamp conta que sentiu efeito de uma série de custos e despesas, como a baixas de ativo imobilizado (que envolve sinistro, obsolescência, resultado da venda de ativo e “impairment” ), algo que McDonald’s não sentiu. Essa linha subiu 243% no ano passado.
Apenas o resultado líquido pela atualização do valor dos ativos da empresa em carteira (“impairment”) e venda de lojas levou a um impacto negativo de pouco mais de R$ 90 milhões, alta de 321% em 2024 versus 2023.
A empresa planeja fechar lojas em 2025 e já contabilizou uma provisão de “impairment” para “limpeza de portfólio”, informou a analistas na sexta-feira (21).
Ainda tem que somar nessa conta as despesas com plano de opção de compra de ações, que cresceram 208%.
O McDonald’s não divulga os dados anuais para margem Ebitda no país.
Até anos atrás, antes do crescimento do portfólio de Zamp no país, a empresa informava indicadores de margem Ebitda e lucro líquido de Burger King, mas com a entrada de Popeyes, Starbucks e Subway na base, a companhia só publica esses números para todos os negócios consolidados.
Colaborou Helena Benfica.
*Com informações do Valor Econômico