Perdendo anunciantes no X, Elon Musk defende uso da IA e publicidade sem censura

Posição de Musk de que a 'liberdade de expressão é o que está na lei' soa permissiva para autoridades e órgãos reguladores, que se preocupam com a disseminação de discursos de ódio, violência e notícias falsas

O uso de inteligência artificial (IA) na criação artística e a publicidade relevante, mas sem “censura”, na rede social X foram pontos defendidos pelo bilionário Elon Musk, dono do X, da Tesla e da SpaceX, no festival de criatividade Cannes Lions, em Cannes, na França, nesta quarta-feira (19).

Mais de 2.300 pessoas formaram uma fila imensa e lotaram o salão principal do evento, incluindo profissionais de publicidade, marketing e comunicação, para acompanhar a conversa de Musk com o CEO do grupo britânico de publicidade WPP, Mark Read.

A presença de Musk no evento ocorre em um cenário de perda de anunciantes no X, antigo Twitter. Desde que assumiu a rede social, no fim de 2022, o bilionário viu muitas marcas abandonarem a plataforma.

Em 2023, o X alcançou US$ 2,5 bilhões em receita de publicidade, um recuo de 47,1% em base anual, segundo uma reportagem da Bloomberg publicada em dezembro. Desde que adquiriu o então Twitter, Musk fechou o capital da empresa.

Ao fazer perguntas para Musk, Read foi afável, irônico e também provocativo.

“O que você diria aos anunciantes aqui que estão na plataforma ou pensando em voltar para ela?”, perguntou o CEO do WPP. “A coisa mais importante na plataforma X é que você [anunciante] está alcançando tomadores de decisão experientes. São as pessoas mais influentes do mundo, que vivem não apenas de serem influenciadores em redes sociais, mas que ativamente conduzem campanhas, administram países e audiências”, respondeu Musk.

O empresário tem sido criticado por dar espaço a discursos de ódio, extremistas, em sua plataforma. Disse hoje que “é imperativo que as pessoas tenham o direito de falar. Mas, da mesma forma, os anunciantes têm o direito de aparecer ao lado de conteúdo que eles acham que é compatível com sua marca. Essa é a questão da segurança da marca”.

A posição de Musk de que a “liberdade de expressão é o que está na lei” soa permissivo para autoridades e órgãos reguladores, que se preocupam com a disseminação de discursos de ódio, violência e notícias falsas nas redes sociais.

Logo que assumiu a empresa, Musk reativou o perfil do ex-presidente americano Donald Trump, candidato à eleição presidencial deste ano, na plataforma. Trump havia siso banido da rede social naquele mesmo ano, após ter usado seu perfil para instigar a invasão do Capitólio dos Estados Unidos em janeiro de 2022.

Musk também defendeu o uso da inteligência artificial (IA) generativa como uma forma de criar “conteúdos originais” criativos e artísticos com grandes modelos de linguagem (LLMsa, na sigla em inglês). Após uma pausa para pensar, o executivo citou a plataforma de vídeos TikTok e o software gerador de imagens por IA Midjourney como bons exemplos de aplicações de IA. “A IA está mudando as coisas para melhor”, completou.

Musk foi um dos fundadores da OpenAI, empresa que ajudou a popularizar a IA generativa, por meio do ChatGPT, desde novembro de 2022. Hoje, o executivo diz não concordar com o rumo que a OpenAI, que tem recebido recursos vultosos da Microsoft, tomou.

“Inicialmente, era uma empresa aberta para oferecer código aberto, e agora é uma empresa de código fechado visando o lucro máximo, o que é diferente do que foi pretendido”, comentou Musk.

A presença de Musk estava marcada para ontem (18), mas a organização adiou o painel por conta da passagem da tocha olímpica pela cidade, em virtude dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Ao longo da conversa com Read, Musk parecia ter certa dificuldade para se expressar e algumas respostas soavam confusas: “Sou realmente fã da propaganda artisticamente interessante. Mas quando você vê um anúncio, se arrepende de ter visto ou acha que isso foi realmente interessante?”.

A conversa com Read durou 30 minutos.

Com informações do Valor Econômico