O que o futebol brasileiro quer ser quando crescer?

É preciso entender se queremos fazer diferente ou seguir nos mesmos moldes de agora

O que esperar do futuro do futebol brasileiro? Faço essa pergunta, afinal de contas, todos os anos, na época do Mundial de Clubes, passamos pelas mesmas análises e diagnósticos, geralmente casuísticos.

O clube europeu sempre está “em dificuldades”, o brasileiro sempre tem elementos que podem levar à vitória. E no final, acontece sempre a mesma coisa: vitória do europeu e um pôster do clube brasileiro pelo “jogamos de igual para igual”.

A verdade é que precisamos decidir o que queremos para o futuro do futebol brasileiro. Desse modo, está claro que não seremos e nem jogaremos como nas principais ligas do mundo. Afinal de contas, é outro calendário, poderio financeiro, conceito de jogo, ritmo, distância, clima. Por outro lado, no Brasil, somos semelhantes às ligas portuguesa, turca, grega, e é isso mesmo. Futebol de prateleira mais baixa.

Futuro do futebol brasileiro: pontos de consideração

O fato é: queremos fazer diferente ou seguiremos no nosso ritmo, nas nossas características, e paramos de sofrer quando assistimos competições europeias, ou quando não conseguimos um mínimo de competitividade contra clubes europeus?

A derrota do Fluminense para o Manchester City trouxe uma série de temas: nos falta intercâmbio, nos falta dinheiro, nos falta qualidade técnica. Mas ao longo do Brasileirão fomos massacrados pelos jornalistas especializados com a ideia de que temos o campeonato mais difícil e competitivo do mundo. Só que ninguém diz que isto ocorre porque o nivelamento é por baixo. É mais imprevisibilidade do que competitividade.

Troca de experiências

A falta de intercâmbio não é novidade. Afinal de contas, nunca tivemos grandes momentos de intercâmbios. E com nosso calendário, não teremos. Ou seja, isso está longe de ser visto dentro do futuro do futebol brasileiro.

Portanto, ou mudamos o calendário para o modelo europeu, ou a falta de intercâmbio é só mais uma desculpa para termos um perfil de jogo diferente. Jogo este mais lento e menos qualificado. Mas também de nada adianta mudar o calendário e manter os estaduais atrapalhando, que acontecem exatamente no período de torneios internacionais.

Então, na falta de intercâmbio, optamos por trazer treinadores estrangeiros. Ótimo, mas foram criticados, questionados e ridicularizados, para que os treinadores de sempre voltassem aos cargos. Se não estamos prontos a ouvir e entender novas ideias, não adianta falarmos em intercâmbio.

É preciso formar melhor os jogadores

Reclamamos que falta qualidade, mas insistimos em montar elencos inchados, recheados de jogadores questionáveis, apoiados nos bons relacionamentos com agentes e empresários. E na base, não evoluímos no processo de formação.

Como me disse um profissional de clube grande, “no Brasil não formamos, selecionamos”. Enquanto na Europa os países desenvolveram metodologias de formação, que transformam jogadores nota 6 em atletas nota 8, no Brasil selecionamos os talentos naturais, e desperdiçamos milhares de garotos que poderiam praticar bom futebol. Depois, o Grealish é grosso, e bom é o Keno.

Aliás, nas semanas antes da final do Mundial nossos analistas conseguiram algumas proezas. Não são capazes de entender e analisar o futebol que acompanham todos os dias, mas resolveram analisar o Manchester City. Uma saraivada de bobagens.

Como bons pachecos – procure o que é isso no Google – falamos mal de jogos de meio de tabela na Itália, Espanha e França, sem ao menos pararmos para vê-los e entender o que está sendo praticado. Então, basta ridicularizar os clubes que a mágica é feita.

Mas quando a realidade bate à nossa porta, cobramos intercâmbio, e valorizamos um jogo local completamente desestruturado, o que é altamente incoerente.

Aos amigos da imprensa, desculpem, mas falta capacidade e estudo para entender do que tentam falar. Não são todos, mas muitos.

Não precisamos ser europeus. Mas precisamos entender e definir o que queremos ser.

E o que queremos para o futuro do futebol brasileiro?

Queremos fazer diferente, seja na formação mais eficiente, seja na construção de ideias de jogo mais interessantes, na melhoria dos profissionais que operam o futebol, quebrando amarras de décadas de dependência de nomes e estruturas que não nos levaram a um lugar melhor? Ou está tudo certo e é bola para frente, porque a boleiragem é o que importa?

Da análise tosca à defesa dos amigos. Afinal, é preciso proteger a fonte e o ganha-pão. E o futebol brasileiro é o único pentacampeão do mundo, não tem nada para ser melhorado.

Não tem certo ou errado. Precisamos escolher um caminho para o futuro do futebol brasileiro, porque ficar no mata-burro onde estamos nos deprecia ano após ano. Nos achamos sensacionais, mas buscamos desculpas quando a realidade nos coloca num lugar inferior ao que acreditamos. Ou realmente mudamos, ou aceitamos o que somos, que dói menos.

PS: Por enquanto as eleições na CBF estão suspensas. Espero que o momento permita uma reflexão e mudança de direção na entidade.