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O que move o futebol?
A indústria do futebol é fascinante. Trabalha com o imaginário das pessoas de uma forma que faz parecer muito maior do que é. FIFA, UEFA, CBF, clubes, salários, contratações. Números milionários, investimentos supostamente gigantescos. Sempre digo que os números não mentem, mas enganam bastante, especialmente quando associados a uma atividade “lúdica” como o futebol. Que no final das contas, é muito mais um jogo de poder e glória, que um jogo financeiro. Quando a bola rola, o dinheiro movimentado é infinitamente inferior ao ego de quem participa da indústria. E tudo isso move o futebol.
Vamos ver alguns números.
UEFA: faturamento de € 4 bilhões por ano
A UEFA, entidade máxima do futebol europeu, fatura cerca de € 4 bilhões anuais, sendo que sua maior receita é a venda de direitos da Champions League.
Se estivesse locada no Reino Unido, seria algo como o 80º maior faturamento anual da região.
Não é mal, mas está longe de ser uma potência financeira, especialmente porque a maior parte do dinheiro que entra é redirecionada aos clubes e federações nacionais.
Se pegarmos o primeiro clube inglês da lista de maiores receitas, o Manchester United, em 2022 ocupou a posição 168 do ranking de maiores receitas da região, abaixo, por exemplo, da marca Cazoo, que aparece em vários uniformes da Premier League, e que faturou o dobro do líder da indústria.
A maioria dos clubes da Premier League ocupa posição abaixo do Top 200 em termos de receitas
FIFA: € 7 bilhões no ciclo de Copa do Mundo
A FIFA, entidade máxima do futebol, fatura dentro do ciclo de Copa do Mundo – período de 4 anos – cerca de € 7 bilhões, concentrados no ano da copa.
Não estamos falando de um negócio multimilionário, especialmente porque tanto a FIFA quanto a UEFA têm custos de organização, e lhes resta apenas uma fração dos recursos.
Afinal, o que move o futebol?
Não é exatamente pelo dinheiro que os nobres dirigentes do futebol internacional trabalham. Quer dizer, ninguém é pobre e sofre para pagar suas contas, longe disso, mas não estamos falando de dezenas de bilhões de euros.
O mecanismo que movimenta o futebol chama-se poder, e é ele quem cria monstros e mata as galinhas de ouro.
Temos dois exemplos nesses últimos dias que reforçam essa ideia.
Na última sexta-feira tivemos a final do Mundial de Clubes de 2023.
Fluminense e Manchester City protagonizaram a final da vez, vencida de forma categórica e até sonolenta pelo Manchester City, no que pareceu mais uma daquelas partidas de comemoração de final de ano da firma.
A competição foi a última com este nome, pois a partir de 2024 será chamada de Intercontinental, com a criação de um grande Mundial de Clubes a cada 4 anos, com 32 equipes, classificadas por mérito direto e ranking, com limitações de 2 clubes por países. Uma grande festa do caqui.
Quando a FIFA cria um absurdo desses, mostra apenas que não entende nada sobre o que é o futebol enquanto essência, mas sabe muito bem onde está a chave do poder dentro da indústria, e quer botar suas mãos em troca de ser o Senhor da Bola.
Estar onde estão os torcedores
Não basta mais ter a Copa do Mundo Masculina, e ter desenvolvido um novo produto, a Copa Feminina. Agora, a FIFA precisa se agarrar aos clubes, estrutura básica da pirâmide, porque é ali que estão os torcedores.
À medida em que a torcida se incomoda com tantas partidas de seleções, que “atrapalham” seus clubes, o principal negócio da FIFA começa a perder valor.
Num mundo globalizado, onde as competições de clubes estão quase que diariamente nas TVs e na internet, o poder deixou de ser a conquista de um país, e passou a ser a conquista de um grupo.
Meu clube, minha nação. E quem tem acesso direto a esse poder todo? As confederações continentais, especialmente a UEFA.
Então, chegamos ao segundo evento da semana, que foi a decisão da Corte da União Europeia de que a UEFA não pode proibir e sancionar clubes que queiram organizar competições paralelas às suas. Decisão que veio por conta da malfadada Superliga.
Veja, a decisão proíbe sanções e obriga a UEFA e definir regras que permitam a criação de novas competições.
E quem está por trás disso? Real Madrid e Barcelona, supostamente atrás de mais dinheiro.
Mas não é a grana, é o poder o que move o futebol. Já não basta ser Real Madrid, é preciso ser o dono do futebol no mundo. Não importa a que custo.
Donos da bola
Não tem mocinho nessa história.
Seja na FIFA de Infantino, na UEFA e Ceferin ou no Real Madrid de Perez, todos querem estar próximos ao poder e ao dinheiro. E é isso o que move o futebol.
Todos querem ser os donos da bola.
Como no Brasil, cuja gestão do futebol segue sua forma caótica, com dois grupos de clubes divididos na venda de direitos de transmissão, uma CBF complexa em sua gestão, campeonatos estaduais que atrapalham mais do que ajudam, dirigentes metidos a influenciadores, torcidas organizadas tomando conta de clubes.
Poder. Não se iluda: este é o nome do jogo.
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