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O investidor estrangeiro voltou a se interessar pelo Brasil? Mohamed El-Erian, ex-CEO da PIMCO, diz que sim, mas com ressalvas
“O Brasil, para mim, sempre é um cavalo que deveria estar correndo muito rápido e, por algum motivo, fica preso, cai.” A frase do economista Mohamed El-Erian, ex-CEO da gestora Pimco e presidente do Queen’s College em Cambridge, explica o contrassenso brasileiro aos olhos do investidor estrangeiro.
El-Erian é um renomado economista, autor e comentarista, conhecido por suas análises perspicazes sobre mercados financeiros globais e economia. Na carreira, passou pelo Fundo Monetário Internacional, onde trabalhou por 15 anos.
No FMI, ganhou grande compreensão das economias emergentes, como é o caso de Brasil e Argentina, para citar países que conhece bem.
Em 1999, entrou na Pimco, onde se tornou CEO e co-CIO, responsável pela estratégia de investimentos da gestora. Sob sua liderança, a Pimco expandiu significativamente sua influência global.
Economia brasileira não é apreciada como deveria
Na visão de El-Erian, o Brasil tem uma inflação na casa dos de 4,5% (a projeção do IPCA no final de 2024 avançou de 4,22% para 4,25%), sendo que a meta de inflação é de 3%. O Banco Central, diz ele, está indicando uma alta de juros. Sinal de que está atuante no combate à escalada dos preços. O economista ainda observa que ‘o crescimento econômico está forte‘.
O Boletim Focus mais recente, divulgado na segunda-feira (26), trouxe um cenário de expansão maior da economia em 2024. Então, a estimativa para o PIB nesta ano passou de 2,23% para 2,43%. A taxa era de 2,19% há quatro semanas.
“O Brasil tem um desafio de consolidação fiscal, mas eu não acho que a economia brasileira é apreciada da maneira que ela deveria ser apreciada”, diz.
“Acho que o Brasil tem uma situação fiscal que não é boa e, sim, é necessário fazer alguma coisa a respeito, mas que está longe de ser algo desastroso”, afirma El-Erian.
El-Erian veio ao Brasil para participar da Expert XP 24, que terminou no sábado (31/8).
Confira trechos editados da entrevista dele ao Valor Econômico, parceiro de conteúdo da Inteligência Financeira.
Há interesse dos investidores estrangeiros pelo Brasil?
“De maneira geral, sim, mas não o suficiente para atrair recursos. E parte disso tem a ver com os próprios brasileiros, honestamente. Eu sempre comparo os argentinos e os brasileiros. Se você der a eles um copo preenchido até a metade, o argentino vai ver o copo meio cheio, até totalmente cheio e o brasileiro vai ver o copo meio vazio, até totalmente vazio.
Os investidores de mercados emergentes sempre vão se apegar ao que os investidores locais estão dizendo. E os brasileiros são excessivamente pessimistas. O Brasil tem uma inflação de 4,5%; uma meta de inflação de 3%; um Banco Central que está indicando uma alta de juros; o crescimento econômico está forte… O Brasil tem um desafio de consolidação fiscal, mas eu não acho que a economia brasileira é apreciada da maneira que ela deveria ser apreciada.
Acho que o Brasil tem uma situação fiscal que não é boa e, sim, é necessário fazer alguma coisa a respeito, mas que está longe de ser algo desastroso.”
Brasil é uma boa posta?
“Quando trabalhava com mercados emergentes na Pimco, a Argentina deu o calote em 2001 e houve eleições no Brasil em 2002. Lula venceu o primeiro turno. Os preços dos títulos brasileiros despencaram. Todo mundo dizia que o Brasil seria como a Argentina.
Vim para o Brasil justo antes do segundo turno em outubro. Tínhamos investido muito dinheiro no Brasil e viemos conversar com muitas pessoas, inclusive com a equipe do Lula. Estava no aeroporto de Guarulhos, era uma quinta-feira à noite. Mandei um e-mail avisando que compareceria ao comitê de investimentos na sexta-feira.
Voei na madrugada, não fiz a barba, não tomei banho, não troquei de roupa. Cheguei à reunião e disse que deveríamos dobrar nossa exposição no Brasil. A reação das pessoas foi de me perguntar se eu estava louco e invocaram a regra das 48 horas: vá para casa, tome banho e se troque para depois conversarmos.
E nós dobramos nossa exposição no Brasil. Foi o melhor ‘trade’ que fizemos em mercados emergentes. O sentimento oscila muito.”
O Brasil vive um bom momento?
“O Brasil, para mim, sempre é um cavalo que deveria estar correndo muito rápido e, por algum motivo, fica preso, cai. Se você olhar para o que o Brasil oferece em um mundo que vivemos, de fragmentação, está em uma excelente posição.
Externamente, é um dos únicos países que podem interagir tanto com a China quanto com os Estados Unidos sem ter que optar por um dos dois.
Tendo a ser muito otimista com o Brasil, mas não encontro esse otimismo quando venho para aqui.”
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